Reféns abatidos por tropas de Israel tinham panos com pedidos de socorro em hebraico

por Carla Quirino - RTP
Forças de Defesa de Israel via Reuters

Foram encontradas mensagens onde se lê "S.O.S." e "socorro, três reféns" em hebraico, escritas com restos de comida, no local onde três reféns israelitas foram abatidos pelas forças do seu país, confirma Telavive. As autoridades distribuíram no domingo fotografias das mensagens escritas a vermelho, em tecido branco, com os pedidos de socorro dos três cidadãos que estavam cativos do Hamas.

Os três reféns mortos em Shejaiya, um subúrbio a leste da cidade de Gaza, foram identificados pelos militares israelitas como Yotam Haim, de 28 anos, Alon Shamriz, de 26, e Samer Al-Talalka, de 22 anos. Foram sequestrados, respetivamente, no kibutz Kfar Aza e no kibutz Nir Am.

As mensagens nos panos foram escritas com restos de comida. Estavam pendurados num prédio a cerca de 200 metros de onde os reféns foram baleados - por engano - por militares israelitas, na passada sexta-feira, confirmou o contra-almirante Daniel Hagari, porta-voz das Forças de Defesa de Israel.

Acredita-se que estes homens estivessem retidos nesse espaço “há algum tempo”, segundo o Tsahal.

Liam-se mensagens de “S.O.S.” e "socorro, três reféns", em hebraico.


Da esquerda para a direita: Alon Shamriz, Yotam Haim e Samer Talalka |Forum de Reféns e Familias de pessoas desaparecidas

As autoridades israelelitas admitiram que matar os três homens que seguravam uma bandeira branca foi uma violação das “regras de combate”.

Hagari relatou que os três reféns hastearam uma bandeira branca e estavam sem camisa quando foram baleados. E vincou que esse procedimento dos militares israelitas é contra as regras de combate do Estado hebraico.

“E se forem dois habitantes de Gaza com uma bandeira branca a sair para se render, nós disparamos? Absolutamente não,” afirmou, por sua vez, o chefe do Estado-Maior General, major-general Herzi Halevi. 

“Mesmo aqueles que estão a lutar contra nós, se depuserem as armas e levantarem as mãos, nós prendemo-los, não disparamos”, reiterou Halevi, citado na Reuters.
Os disparos
Os três homens saíram de um prédio sem camisa. Um deles transportava uma vara com um pano branco, ficando a poucas dezenas de metros das IDF.

O responsável pelas forças israelitas no terreno sentiu-se ameaçado, declarou-os “terroristas” e disparou. Dois foram mortos imediatamente, enquanto o terceiro, ferido, fugiu para o prédio.

Foi ouvido um grito de socorro em hebraico e o comandante do batalhão ordenou que as tropas cessassem o fogo. O refém ferido reapareceu mais tarde, baleado e morto, disse o oficial israelita, que relatou o episódio sob condição de anonimato.

Não ficou esclarecido se os reféns foram abandonados pelos seus sequestradores ou escaparam.
Apelo a Netanyahu para novo cessar fogo
Durante o funeral de Shamriz, no domingo, a mãe, Dikla, permaneceu de pé sobre o caixão coberto com uma bandeira israelita. Perante a dor da perda, Dikla descreveu o filho como forte, determinado, inteligente: “Foste um herói. Sobreviveste 70 dias no inferno. Eu sei que tu nos sentiste durante esse tempo da mesma forma nós te sentimos. Era mais um bocado e tu estarias nos meus braços”.Mais de 100 reféns israelitas permanecem na Faixa de Gaza mantidos incomunicáveis. Cresce a pressão sobre Israel para um acordo que permita a libertação de mais reféns.

Desde o fim do cessar-fogo temporário entre Israel e o Hamas, em novembro, as famílias dos reféns instaram o Governo israelita a avançar para uma nova trégua para que pelo menos alguns dos cidadãos retidos sejam libertados.

O acordo do mês passado levou à libertação de mais de 100 reféns, em troca de palestinianos detidos em prisões israelitas.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu desviou os apelos e insistiu que “a pressão militar é necessária tanto para o regresso dos reféns como para a vitória”.
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