Reforma judicial. Protestos em Israel sobem de tom após demissão do ministro da Defesa

por Inês Moreira Santos - RTP
Os EUA estão preocupados com a crescente onda de protestos em Israel Amir Cohen - Reuters

Os Estados Unidos admitiram estar "profundamente preocupados" com a situação em Israel, depois de o ministro da Defesa ter sido demitido. Um afastamento que se seguiu a um apelo para a interrupção da reforma judicial. No país, dezenas de milhares de israelitas saíram à rua para protestar contra a saída de Yoav Gallant do Governo e o presidente israelita apelou ao primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, para "atuar com responsabilidade e coragem" e pôr fim "de imediato" ao processo legislativo da polémica que está a dividir o país.

"Estamos profundamente preocupados com os acontecimentos de domingo em Israel, que mais uma vez sublinham a necessidade urgente de um compromisso", disse, em comunicado, a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Adrienne Watson.

"Os valores democráticos sempre foram e devem continuar a ser uma marca da relação EUA-Israel", salientou.

Por isso, os EUA continuam a instar “fortemente os líderes israelitas a encontrar um compromisso o mais rápido possível”, admitindo que o apoio norte-americano “à segurança e à democracia de Israel continua firme”.

Também o cônsul de Israel em Nova Iorque, Asaf Zamir, anunciou a sua renúncia pouco depois da demissão do ministro.

"Depois dos acontecimentos de hoje, chegou a hora de juntar-me à luta pelo futuro de Israel para assegurar que continue a ser um farol de democracia e liberdade no mundo", escreveu na conta da rede social Twitter.


A polémica começou quando Netanyahu anunciou um plano para reformular o sistema judicial, retirando a independência ao Supremo Tribunal de Israel e permitindo que o Governo aprovasse legislação que não pode ser revista pelos juízes. A reforma judicial procura, então, dar mais poder ao Executivo em detrimento do poder judiciário.

Desde então, os protestos contra as medidas começaram a espalhar-se pelo país e a juntar cada vez mais israelitas. No domingo, a decisão de Netanyahu de demitir o ministro da Defesa aconteceu menos de 24 horas depois de este ter pedido publicamente a interrupção da polémica reforma judicial.
"Digo em voz alta e publicamente, que para o bem do Estado de Israel e dos nossos filhos, devemos interromper este processo legislativo", disse Gallant, no sábado, durante uma intervenção na televisão.

Já nas redes sociais o ministro da Defesa realçou que "a segurança de Israel sempre foi e sempre será a missão da minha vida".

O Governo pretende aprovar a lei esta semana, o que tem motivado a intensificação de protestos contra a reforma. E a decisão de demitir o ministro da Defesa mostra que o Governo israelita não quer recuar no plano da reforma do sistema judicial. Gallant, um ex-general do exército, é uma figura influente no partido Likud, de Netanyahu e um dos principais pilares de apoio do Executivo.Protestos intensificam-se após demissão no Governo
Após a demissão do responsável pela Defesa, dezenas de milhares de israelitas saíram à rua em diferentes zonas do país, como Telavive, Jerusalém, Haifa ou Beer Sheva, de acordo com os órgãos de comunicação social locais.

Em Telavive, milhares de pessoas bloquearam o tráfego na principal artéria da cidade, empunhando bandeiras israelitas e gritando "democracia, democracia". Já em Jerusalém, várias centenas de manifestantes romperam um dos cordões de segurança, perto da residência do primeiro-ministro, e entraram em confronto com a polícia.Na sequência da demissão de Gallant, a central sindical israelita Histadrut anunciou esta segunda-feira "uma greve geral imediata".

Esta segunda-feira, o presidente de Israel pediu ao primeiro-ministro para "atuar com responsabilidade e coragem" e pôr fim "de imediato" ao processo legislativo da polémica reforma judicial que está a dividir o país.

"Pelo bem da unidade do povo de Israel, pelo bem da responsabilidade necessária, peço que ponham fim ao processo legislativo de imediato"
, afirmou Isaac Herzog, em comunicado, perante as maiores manifestações de sempre no país e se encontra à beira de uma greve geral.

"Toda a nação está profundamente preocupada. A nossa segurança, economia, sociedade - todos estão sob ameaça", alertou Herzog. "Acorda agora!".

c/ agências
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