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Irão sem tréguas. Sobrinha do guia supremo detida após denunciar "regime assassino"

por Carlos Santos Neves - RTP
Farideh Moradkhani, sobrinha de Ali Khamenei, denunciou a repressão e descreveu as estruturas do poder no Irão como um “regime assassino” Gabinete do guia supremo do Irão via EPA

Farideh Moradkhani, sobrinha do guia supremo do Irão, figura entre os largos milhares de iranianos detidos na atual vaga de contestação ao regime da República Islâmica, denunciou este fim de semana o seu irmão, Mahmoud Moradkhani. Uma vez mais, os laços familiares ao ayatollah Ali Khamenei de nada lhe valeram, depois de ter contestado a repressão e retratado as estruturas do poder como um “regime assassino”. É a segunda vez, desde o início de 2022, que se vê levada para o cárcere.

Farideh Moradkhani foi detida na passada quarta-feira, depois de ter sido chamada à Procuradoria iraniana, escreveu no Twitter o irmão, Mahmoud Moradkhani.

Conhecida pelas tomadas de posição contra a pena capital no Irão, Farideh é filha da irmã de Ali Khamenei, que, nos anos de 1980, fugiu com a família para o Iraque. O pai, sheikh Ali Tehrani, que morreu em outubro deste ano, começou por cerrar fileiras com os opositores ao xá do Irão, antes da Revolução Islâmica, para depois se tornar um contestatário do regime dos ayatollahs.

Mahmoud Moradkhani publicou também no YouTube um vídeo – sem referir a data em que este foi filmado – no qual a irmã surge a reprovar a “evidente opressão” sobre os iranianos, perante aquilo que considera ser a inação por parte da comunidade internacional.



“Povos livres, estejam ao nosso lado. Digam aos vossos governos que deixem de apoiar este regime assassino e infanticida. Este regime já não é fiel aos seus princípios religiosos e só sabe governar pela força para permanecer no poder”, exorta a ativista.A organização não-governamental Human Rights Activists News Agency, sediada nos Estados Unidos, já veio confirmar a detenção de Farideh Moradkhani, que alegadamente arrisca uma pena de 15 anos de prisão.


O regime iraniano enfrenta desde meados de setembro um contínuo movimento de contestação nas ruas. A vaga de protestos foi desencadeada pela morte de Mahsa Amini. A jovem curda iraniana de 22 anos morreu sob custódia da polícia da moral. Foi detida por não respeitar o código de vestuário imposto às mulheres no Irão.

O regime, que classifica os protestos como “motins” alimentados pelo Ocidente, deteve já mais de 14 mil pessoas, de acordo com um balanço das Nações Unidas.

A ONG Iran Human Rights, a trabalhar a partir da Noruega, aponta para 416 vítimas mortais da repressão – 290 em protestos pela morte de Mahsa Amini e 126 na província do Sistão-Baluchistão, das quais mais de 90 na capital provincial Zahedan, onde, a 30 de setembro, eclodiram manifestações por causa da violação de um adolescente às mãos da polícia.
“O campo de batalha é muito maior”
No sábado, o guia supremo do Irão veio sustentar que encetar negociações com os Estados Unidos não permitiria pôr termo aos protestos, dado que a Administração norte-americana “exigirá sempre cada vez mais”.

“O problema não passa por serem quatro manifestantes na rua, mesmo que cada manifestante, cada terrorista, deva ser punido”, advogou Ali Khamenei. Para acrescentar: “O campo de batalha é muito maior. O principal inimigo é a arrogância global”.

O guia supremo intervinha na receção, em Teerão, de uma delegação de jovens paramilitares, por ocasião da semana dos Basidji, a milícia de voluntários conotada com a Guarda Revolucionária.
“Algumas pessoas afirmam nos jornais ou na internet que tudo o que se pode fazer para acabar com a agitação, que começou há algumas semanas, é resolver os problemas do Irão com os Estados Unidos e ouvir a voz da nação. Como vamos resolver o problema com a América? O problema será resolvido sentando-se, negociando e obtendo um compromisso da América? Não. A negociação não vai resolver nada. O nosso problema com a América só pode ser resolvido aceitando ser salvo por esse país”, insistiu.

Khamanei tratou ainda de recordar as “grandes manifestações pró-governamentais” do dia 4 de novembro e a multidão que acompanhou o funeral do general Qasem Soleimani, assassinado em janeiro de 2020: “Essa imensa multidão é que é a voz da nação iraniana”.

Qasem Soleimani, major-general da Guarda Revolucionária Islâmica, comandou entre 1998 e 2020 a brigada Quds, responsável por operações além-fronteiras e clandestinas. Foi abatido num ataque aéreo dos Estados Unidos, a 3 de janeiro de 2020, no aeroporto internacional de Bagdade, no Iraque.

c/ agências
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