Reino Unido. Células estaminais aplicadas com sucesso em operação cardíaca a bebé

por RTP
labormikro - Wikimedia Commons

Um cirurgião cardíaco a trabalhar no Reino Unido afirma que "provavelmente salvou a vida" de um bebé ao realizar uma operação com recurso a células estaminais de placentas. Massimo Caputo espera que a nova tecnologia permita que crianças nascidas com defeitos cardíacos congénitos deixem de ser submetidas a tantas intervenções cirúrgicas.

Finley, de dois anos, nasceu com as principais artérias do coração invertidas e, aos quatro dias de idade, teve de realizar a sua primeira cirurgia de coração aberto no Bristol Royal Hospital for Children, no Reino Unido.

Contudo, a cirurgia não resolveu o problema e a função cardíaca de Finley deteriorou-se significativamente, com o lado esquerdo do seu coração a sofrer de uma grave falta de fluxo sanguíneo.

Depois de várias semanas nos cuidados intensivos, parecia não haver uma forma convencional de tratar o estado de Finley. O coração da criança dependia de medicamentos para funcionar.

Por essa altura, os médicos decidiram tentar um novo procedimento, envolvendo células estaminais de um banco de placenta. O cirurgião cardíaco Massimo Caputo injetou as células diretamente no coração de Finley na esperança de que estas ajudassem os vasos sanguíneos danificados a crescer.

As chamadas células “alogénicas” têm a capacidade de crescer em tecidos que não são rejeitados e, no caso de Finley, conseguiram regenerar o músculo cardíaco danificado."Retirámos-lhe todos os medicamentos que tomava, retirámos-lhe a ventilação. Finley foi dispensado da Unidade de Cuidados Intensivos e agora é um menino feliz", disse o cirurgião Massimo Caputo, em declarações citadas pela BBC.


Até ao momento, a prática mais comum para tratar estes casos é a de fazer um andaime de células estaminais para reparar as anomalias nas válvulas dos vasos sanguíneos e para reparar orifícios entre as duas principais câmaras de bombeamento do coração, utilizando uma bioimpressora. Contudo, o tecido artificial pode falhar e não cresce com o coração, pelo que, à medida que as crianças crescem, necessitam de mais operações.

A nova tecnologia traz assim esperança a pacientes como Louie, de Cardiff, no País de Gales, que nasceu com uma série de defeitos cardíacos congénitos.

O jovem de 13 anos teve a sua primeira cirurgia de coração aberto com apenas duas semanas de idade. Com quatro anos teve de se submeter a outra cirurgia para substituir o material que reparava o seu coração.

Como os materiais utilizados para reparar o coração não são completamente biológicos podem ser rejeitados pelo sistema imunológico do paciente. Isto pode causar cicatrizes no coração que, consequentemente, pode levar a outras complicações. Além disso, o tecido também não cresce com o paciente, por isso, ao longo dos anos, tem de ser “ajustado”. Uma criança pode, portanto, ter de passar pela mesma operação cardíaca várias vezes ao longo da sua infância.

Massimo Caputo espera que seja realizado um ensaio clínico sobre os “curativos” de células estaminais nos próximos dois anos, após um trabalho laboratorial bem-sucedido. O cirurgião deseja que a descoberta reduza significativamente o número de operações que as crianças que nascem com estas complicações têm atualmente de enfrentar.

Caputo garante que a tecnologia pode economizar cerca de 30 mil libras por cada operação que deixe de ser necessária ao NHS, o sistema público de saúde do Reino Unido.
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