Reino Unido. Deputados conservadores pedem demissão de Boris Johnson após festas polémicas

por Joana Raposo Santos - RTP
As exigências de demissão começaram a surgir logo após, no Parlamento, Boris Johson ter pedido desculpa pela participação na festa. Peter Nicholls - Reuters

Vários deputados veteranos do Partido Conservador britânico estão a exigir a demissão do primeiro-ministro Boris Johnson, depois de este ter vindo a público pedir desculpa pela participação numa festa em Downing Street durante um período de confinamento.

“Ele é o primeiro-ministro, foi o seu Governo que colocou estas regras em prática e, por isso, tem de ser responsabilizado pelas suas ações”, defendeu quarta-feira o deputado conservador Douglas Ross.

Aos jornalistas, Ross adiantou ainda que irá escrever ao comité que organiza as disputas pela liderança conservadora para registar a sua falta de confiança em Boris Johnson.

Se, no total, 54 deputados do Partido Conservador enviarem cartas semelhantes, será desencadeado um “desafio de liderança” e o cargo de Johnson ficará em risco.

Já o membro do Parlamento William Wragg considerou a posição do primeiro-ministro “insustentável”, enquanto a deputada Caroline Nokes disse que Johnson deveria demitir-se por estar “a prejudicar todo o ramo conservador”. “Acredito que ou ele sai agora, ou sai daqui a três anos quando houver novas eleições”, lançou Nokes, ex-ministra para a Imigração.

As exigências de demissão começaram a surgir logo após, no Parlamento, Boris Johson ter explicado a razão pela qual participou na festa de 20 de maio. “Quis agradecer aos funcionários pelo seu árduo trabalho”, declarou.

“Quero pedir desculpa”, começou por dizer Boris Johnson na Câmara dos Comuns. “Entendo a raiva que [a população] sente em relação a mim e ao meu Governo, quando pensam que em Downing Street as regras não são devidamente cumpridas pelas próprias pessoas que as impõem”.
“Devia ter mandado toda a gente para dentro”
O primeiro-ministro admitiu, no mesmo discurso, ter participado no evento, mas frisou que não foi ele a organizá-lo. Disse ainda acreditar firmemente que se tratava de um “evento de trabalho” e não de uma festa.

Várias testemunhas tinham já confirmado a presença do primeiro-ministro e da sua mulher entre as cerca de 30 pessoas que participaram no convívio. Boris Johnson assegurou que apenas lá esteve 25 minutos.

“O número 10 [de Downing Street] é um grande departamento e o jardim é uma extensão do escritório, tendo estado em uso constante devido ao papel do ar livre na contenção do vírus”, justificou na quarta-feira diante dos deputados do Parlamento.

O líder britânico disse ainda que, “em retrospetiva, devia ter mandado toda a gente de volta para dentro” das instalações.

“Devia ter encontrado outra forma de lhes agradecer e devia ter percebido que milhões e milhões de pessoas simplesmente não iriam perceber que, tecnicamente, pode dizer-se que [o evento] estava a realizar-se dentro das normas”, acrescentou.

Para o líder trabalhista da Câmara dos Comuns, Keir Starmer, as explicações do primeiro-ministro foram “tão ridículas que chegam a ser ofensivas para o público britânico”, pelo que “a única coisa decente que Boris Johnson tem a fazer é demitir-se”.
Ministros demonstram apoio a Johnson
A festa em Downing Street aconteceu em maio de 2020, altura em que o Reino Unido atravessava ainda a primeira vaga da pandemia de covid-19. As restrições ditavam que ninguém podia sair de casa sem uma justificação viável e que cada indivíduo apenas poderia encontrar-se em espaços públicos com uma pessoa fora do agregado familiar.

Apesar de, ainda esse mês, Boris Johnson ter anunciado os “primeiros passos cuidadosos” para a saída do confinamento geral que tinha sido imposto em março, o próprio primeiro-ministro esclareceu que a população deveria continuar a “obedecer às regras de distanciamento social”, ameaçando inclusivamente multar quem as quebrasse.

Dez dias depois dessas declarações, porém, o secretário de Johnson convidou por e-mail cerca de 100 pessoas para “tomarem, com distanciamento social, bebidas no jardim” da residência oficial do chefe de Governo, em Downing Street.

Agora, apesar das críticas vindas quer da oposição, quer dos colegas conservadores do Parlamento, Boris Johnson tem recebido mensagens de apoio por parte dos seus ministros e outros membros do Governo.

Na pasta dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss disse apoiar o primeiro-ministro “a cem por cento”.

Já o deputado Rishi Sunak, que, tal como Truss, é visto como possível sucessor de Johnson na liderança conservadora, defendeu que Johnson “fez bem em pedir desculpa” e pediu à população que tivesse “paciência”.
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