Polémicas atrás de polémicas deixam Boris Johnson isolado e mais próximo da demissão

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Dylan Martinez

A festa em Downing Street durante o confinamento é apenas a mais recente polémica em que Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, está envolvido. A extensa lista de controvérsias deixou Boris Johnson isolado e mais próximo da demissão.

A credibilidade de Boris Johnson tem vindo a degenerar há vários meses. Desde as controversas tomadas de posição relativamente à pandemia, passando pelo desastroso discurso da Porca Peppa até chegar às festas em Downing Street, Johnson perdeu a confiança de muitos conservadores e a oposição pede que se demita.

Johnson já afirmou que não se demite, mas mais de metade dos britânicos pede a sua renúncia e vários deputados do seu próprio partido admitiram escrever a carta para a comissão que tem a capacidade legal de exonerar o primeiro-ministro, tal como aconteceu com Theresa May em relação ao Brexit.

Enumeramos aqui as controvérsias que têm vindo a marcar os últimos meses da liderança de Johnson.

20 de outubro – Johnson resiste a pedidos de mais restrições

Em meados de outubro do ano passado, o Reino Unido registava um crescimento exponencial de infeções e centenas de mortes diárias por Covid-19. Os hospitais estavam sobrecarregados, os especialistas alertavam para o colapso dos serviços e crescia a pressão para que o primeiro-ministro avançasse para o plano B, ou seja, para um novo confinamento.

Johnson resistiu, no entanto, a pedidos de mais restrições e afastou repetidamente o plano B, o que exaltou vários especialistas e deputados.

26 de outubro – Deputado conservador acusado de lobbying

O deputado conservador Owen Paterson viu-se envolvido num escândalo de tentativa de influência [lobbying] junto do executivo. O deputado faturou milhões de euros para promover junto do Ministério da Saúde um laboratório de testes covid e Boris Johnson pediu reforma legislativa para o proteger.

22 de novembro – O discurso da Porca Peppa

Durante uma cerimónia anual da Confederação da Indústria Britânica, Boris Johnson ficou literalmente “aos papéis” ao perder-se no seu discurso. O primeiro-ministro ainda proferiu algumas palavras, mas apercebeu-se depois que tinha as páginas do discurso trocadas.

Depois de vários segundos a baralhar as folhas impressas, o primeiro-ministro britânico pediu várias vezes desculpa e acabou por dissertar sobre o universo de um conhecido desenho animado infantil – a Porca Peppa.

Numa outra parte do discurso, enquanto explicava o seu plano para ajudar empresas e investir no combate às alterações climáticas, o primeiro-ministro comparou-se a Moisés.

O desastre de discurso provocou algumas risadas na altura, mas não entre os conservadores, que ficaram preocupados com o que consideram ser demonstrações de incompetência e a falta de iniciativa de Boris Johnson.

7 de dezembro – Festa de Natal em confinamento


A 7 de dezembro foi divulgado um vídeo nos media que exibia os funcionários de Downing Street durante um ensaio para uma conferência de imprensa que dava a entender que tinha havido uma festa de Natal a 18 de dezembro de 2020, época em que o Reino Unido estava em confinamento e as famílias impedidas de se reunirem.

No dia seguinte à divulgação do vídeo, Boris Johnson pediu desculpas e disse ter ficado igualmente “furioso” ao ver as imagens, explicando que sempre lhe garantiram que não houve qualquer festa no número 10 de Downing Street e que não foram violadas as regras de confinamento.

Após a ida ao Parlamento do primeiro-ministro, a assessora de imprensa na altura em que o vídeo foi gravado, Allegra Stratton, pediu a demissão.

8 de dezembro – As obras no apartamento


Depois da polémica da festa de Natal, foi a vez das obras no apartamento de Johnson. A comissão eleitoral divulgou um relatório sobre as obras no apartamento de Boris Johnson – uma remodelação financiada por investidores privados e que ultrapassou os limites impostos pela lei.

Um ano antes, quando começou esta investigação, o primeiro-ministro britânico dissera não conhecer o nome dos doadores. Mas os relatores independentes do Parlamento revelaram que Boris Johnson não só sabia, como no final de 2020 pediu, via Whatsapp, um reforço desse financiamento a um dos investidores.

Como consequência, os conservadores foram multados em 17.800 libras (23.500 dólares).

14 de dezembro – Rebelião conservadora contra novas medidas anti-covid

A 14 de dezembro, Boris Johnson enfrentou uma rebelião conservadora. Mais de 100 deputados do partido votaram contra as novas restrições sanitárias e Boris Johnson só conseguiu aprová-las com os votos da oposição.

Foi mais uma humilhação para Johnson que gerou mais dúvidas sobre a sua liderança.

17 de dezembro – Derrota dos conservadores em eleição parcial

O Partido Conservador sofreu um dura derrota nas eleições antecipadas no círculo de North Shropshire, um dos eleitorados tradicionalmente representados por conservadores no Parlamento britânico. Os liberal democratas conseguiram derrotar os conservadores ao alcançarem uma maioria de seis mil votos.

A eleição foi convocada depois da polémica que envolteu o antigo deputado conservador Owen Paterson.

Johnson disse entender a razão pela qual “muitas pessoas continuam a estar frustradas” em North Shropshire e assumiu a responsabilidade pela derrota dos conservadores.

11 de janeiro – A festa em Downing Street

Mais uma festa em Downing Street, mais uma polémica. A televisão ITV revelou que em maio de 2020 houve uma festa com cerca de 100 pessoas no jardim da residência oficial do primeiro-ministro, altura em que o Reino Unido estava em confinamento.

Esta quarta-feira, o primeiro-ministro britânico admitiu no Parlamento que participou no evento e pediu desculpas, embora argumente não ter conhecimento de que se tratava de uma festa, mas sim de uma reunião de trabalho.
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