Relatório Earth4All. "Bomba populacional não vai explodir mas enfrentamos desafios"

por Carla Quirino - RTP
Reuters

A população mundial atingirá 8,8 mil milhões de pessoas antes do meio do século, mas depois cairá para perto de sete mil milhões em 2100, se as tendências atuais se mantiverem. É a estimativa do último relatório da Earth4All, comissionado pela organização Clube de Roma e conhecido esta segunda-feira.

A projeção de como a população global mudará está muito abaixo das estimativas das Nações Unidas. Os números podem cair ainda mais rapidamente se houver investimento na redução da pobreza e da desigualdade, defende o estudo.

Depois do pico de crescimento até meio do século XXI, com a população mundial a chegar a 8,8 mil milhões de pessoas, a queda que se seguirá pode ser de dois a três mil milhões até ao fim do século.

Assim aponta este modelo Earth4All, criado para explorar quais as políticas que trazem o maior bem para a maioria das pessoas. O estudo também sugere que se os decisores mundiais investirem num “salto gigante” para reduzir a pobreza e a desigualdade, evitará a temida “explosão populacional”.

“Mesmo que os números não sejam tão assustadores quanto algumas previsões mais antigas, isso não significa que não tenhamos problemas”, diz Beniamino Callegari, da Kristiania University College, em Oslo, Noruega, um dos autores do relatório, citado na edição online do jornal britânico The Guardian.
Boas notícias para o ambiente
A análise adverte que a queda nas taxas de natalidade, por si só, não resolverá os problemas ambientais do planeta.

Uma população mundial em queda ajudará a aliviar os problemas ambientais, mas, por si só, não impedirá de atingir os pontos de inflexão cujo o risco de desestabilizar os sistemas de suporte à vida da Terra são claros, sublinha David Collste, membro da equipa da Universidade de Estocolmo, na Suécia.

“A população não é a única parte”, diz Collste. Há que ter em conta o consumo excessivo de recursos de uma minoria rica. “É o que as pessoas fazem, como fazem e quanto fazem", alertam os investigadores.

“Isso dá-nos evidências para acreditar que a bomba populacional não vai explodir, mas ainda enfrentamos desafios significativos do ponto de vista ambiental. Precisamos grande esforço para enfrentar o atual paradigma de desenvolvimento de superconsumo e superprodução, que são problemas maiores do que a população.”

Por outro lado, a redução de pessoas em idade ativa irá dificultar o financiamento de cuidados de saúde e reformas. “A transição não será fácil, porque significa a existência de uma grande parte da população mais envelhecida”, diz Callegari.
Cenários do modelo Earth4All
De acordo com as estimativas das Nações Unidas, a população mundial ultrapassou a barreira dos oito mil milhões no fim do ano passado. Na estimativa até 2100, não são tidos em conta os fatores que determinam quantos filhos as pessoas têm, ou quanto tempo vivem.

Para além de variáveis como o nível de educação das mulheres e o acesso à contraceção, o modelo apresentado é mais complexo e inclui fatores ambientais, económicos e sociais, como a produção de alimentos, rendimento, impostos, energia e desigualdade – e os ciclos de retorno entre esses fatores. Também incorpora os impactos esperados do aquecimento global.

A projeção da Earth4All, embora diferente de outras já apresentadas, está “dentro do alcance dos nossos cenários caso o progresso na educação feminina global aconteça mais rápido” com melhor acesso aos métodos de contraceção, avança Vollset.

Para que o cenário de redução demográfica aconteça mais rápido, a iniciativa do Club of Rome pede um esforço global para melhorar o bem-estar de todos no planeta.

Os pontos-chave apontados envolvem: reduzir a pobreza, investindo milhões de dólares em empregos verdes; suspender dívidas; reduzir a desigualdade aumentando os impostos sobre os mais ricos; melhorar a igualdade de género, garantindo que mais mulheres recebam uma educação melhor; promoção de dietas mais saudáveis e ecológicas; implementar mais e melhores redes elétricas a partir de fontes renováveis.

A nova projeção, divulgada esta segunda-feira, foi realizada pelo coletivo Earth4All das principais instituições económicas e de ciência ambiental, incluindo o Potsdam Institute for Climate Impact Research, o Stockholm Resilience Center e a BI Norwegian Business School.

A análise foi encomendada pelo Club of Rome para dar seguimento ao projeto que conta mais de 50 anos conhecido por Limits to Growth.


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