Relatório. Estratégia das estâncias de esqui francesas face às alterações climáticas é insustentável

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Cyril Zingaro - EPA

Num relatório divulgado esta terça-feira, o Tribunal de Contas francês criticou a estratégia adotada pelas estâncias de esqui francesas face às alterações climáticas. As políticas de adaptação estão "aquém das necessidades", uma vez que se têm limitado à produção de neve artificial, o que tem "um efeito a curto prazo" devido "ao custo elevado e a uma eficácia que tende a diminuir com o aumento das temperaturas", lamentou.

A França é atualmente o segundo principal destino de turismo de inverno no ranking mundial, logo a seguir aos Estados Unidos, sobretudo devido ao grande desenvolvimento das estâncias de desportos de inverno nas zonas montanhosas, impulsionado pelos planos governamentais para a neve dos anos 60 e 70.

No entanto, o modelo de negócio do esqui francês está em declínio, de acordo com as conclusões do novo estudo que analisou os efeitos das alterações climáticas em 42 estâncias francesas dos Alpes franceses, Pirenéus, Maciço Central e Jura e examinou em que medida estas se adaptaram.
"Políticas de adaptação aquém das necessidades"

Segundo o relatório, as políticas públicas de adaptação à situação não estão à altura do desafio
porque se limitam à produção de neve artificial, pese embora o custo e a eficácia a curto prazo desta solução.  Uma aposta pouco ambiciosa e ecológica, uma vez que "subestima em muitas zonas" o "impacto da produção de neve nos recursos hídricos". 

"A planificação ecológica do Estado é pouco útil para o setor do turismo de montanha", uma vez que "não dá um verdadeiro impulso à mudança".

O relatório constatou que não existem iniciativas de diversificação das atividades nas estâncias e que estas "raramente são apoiadas por um verdadeiro projeto". "Realizadas numa base ad hoc, tendem muitas vezes a reproduzir o modelo de esqui baseado em grandes investimentos e num elevado número de visitantes, sem um plano de atividades que permita estabelecer a sua pertinência económica".
"Declínio da atividade esquiável"

O Tribunal de Contas considera que "é necessário prever uma reorientação fundamental das despesas públicas em função das realidades climáticas e económicas de cada território". Segundo o tribunal, o "aumento acelerado das temperaturas" veio acentuar "o declínio da atividade com esquis e a crescente inadequação do parque imobiliário das estâncias francesas" a partir dos anos 2000. As alterações climáticas "começaram a pôr em causa o equilíbrio financeiro dos teleféricos e da economia local que deles depende em parte", observa o tribunal.

Apesar de as conclusões não serem boas, as previsões climáticas também não são otimistas, pois "indicam que o fenómeno se agravará a médio prazo" e que "todas as estâncias de esqui serão mais ou menos afectadas até 2050", sendo que apenas "algumas estâncias poderão esperar continuar a funcionar para além dessa data".

c/agências
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