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Relatório. Mais de 400 mil mortes anuais na Europa ligadas à poluição atmosférica

por Graça Andrade Ramos - RTP
Um ativista chama a atenção para a poluição atmosférica ao andar no meio do trânsito numa rua de Bucareste, Roménia, em fevereiro de 2020 Reuters

Fatores ambientais, como a poluição atmosférica e ondas de calor, explicam uma média de 13 por cento, um em cada oito, dos óbitos registados na União Europeia e Ilhas Britânicas, concluiu um relatório da Agência Europeia para o Ambiente, EEA.

Em 2012, o último ano para o qual existem dados, de acordo com a EEA, cerca de 630 mil mortes nos 27 países da União Europeia e Grã-Bretanha puderam ser atribuídas a fatores ambientais.

Entre estes, o que mais contribui para as mortes prematuras é a poluição atmosférica, responsável por mais de 400 mil mortes anuais.

Segue-se a poluição sonora, que contribui para mais de 12 mil óbitos, seguindo-se o impacto das alterações climáticas, com especial incidência para as ondas de calor. A exposição a químicos perigosos também entra na lista.

"Estas mortes são evitáveis e podem ser reduzidas de forma significativa através de melhorias na qualidade ambiental", refere o relatório.

Baseado em dados da Organização Mundial da Saúde quanto às causas de morte e de doença, o documento demonstra que o peso da poluição e das alterações climáticas varia através do território europeu, entre países do leste e do ocidente.

A maior taxa de mortalidade nacional devido ao meio ambiente é de 27 por cento, registada na Bósnia-Herzgovina. A menor, nove por cento, ocorre na Islândia e na Noruega.

O relatório demonstra também que parte significativa dos encargos com doenças na Europa continua a ser atribuída à poluição ambiental resultante da atividade humana.
Ameaça ambiental supera a da pandemia
"Há uma relação clara entre o estado do meio ambiente e a saúde da nossa população", afirmou o lituano Virginijus Sinkevičius, comissário europeu para o Ambiente, Oceanos e Pescas.

"Todos devemos perceber que, ao cuidar do nosso planeta, não estamos apenas a salvar ecossistemas, mas também vidas, especialmente as dos mais vulneráveis", acrescentou Sinkevicius ao comentar as conclusões da EEA.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou esta terça-feira que a ameaça das alterações climáticas supera a da pandemia, apesar de todo o recente impacto da Covid-19.

O mundo estará "perdido" caso não exista uma união de forças entre os Estados para combater as alterações climáticas, disse Guterres em entrevista à Agência France Presse, AFP. Os Estados "devem agir juntos face à ameaça climática", que é "muito mais grave do que a pandemia em si", referiu.

"É uma ameaça existencial para o planeta e para as nossas próprias vidas", insistiu, quando falta uma semana da abertura da 75.º Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 15 de setembro.

A pandemia de Covid-10 ilustra também os danos causados pela desunião, acrescentou. "Acredito que o fracasso em conter a propagação do vírus se deve à falta de coordenação internacional", disse Guterres à AFP.

"Deve fazer-se com que os países compreendam que devem mudar de rumo", defendeu o secretário-geral da ONU.
Pouco interesse em limpar a atmosfera
A nível global, a poluição atmosférica é responsável por mais de quatro milhões de mortes anuais, e nove em cada 10 pessoas respira ar prejudicial à saúde, mas a vontade política para resolver o problema tem sido ínfima.

Segunda-feira, no primeiro Dia Internacional de Ar Limpo para Céus Azuis, um relatório da ONG Clean Air Fund revelou que o financiamento para conseguir limpar a atmosfera foi de apenas 273 milhões de dólares entre 2015 e 2019.

Cerca de 118 milhões vieram de doações filantrópicas e outros 155 milhões tiveram origem em doadores oficiais, incluindo Governos e Bancos de desenvolvimento, concluiu o Fundo.
O montante é uma pequena fração de todo o investimento em ações de desenvolvimento em todo o mundo, calculado em 153 mil milhões de dólares, só em 2019.
O antigo secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, ao comentar estes resultados, apelou igualmente à união de todos e sublinhou a importância de limpar o ar.

Poderá contribuir para "melhorar a saúde em geral, aumentar a resiliência a futuras pandemias, aumentar a produtividade, reduzir custos com a saúde e ajudar a evitar as alterações climáticas", afirmou Moon.

Inger Andersen, responsável pelo Programa da ONU para o Ambiente, referiu que a pandemia demonstrou que "céus mais limpos são possíveis", mas parar as economias e manter as crianças fechadas não é a solução.

"O que precisamos é de uma transição verde.
O que queremos ver é a aplicação dos pacotes de estímulos atualmente disponíveis aplicados num futuro mais verde", indicou.
Sustentabilidade e saúde
Também ao revelar o seu relatório sobre o impacto ambiental na saúde dos europeus, a EEA afirmou que melhorar a saúde e bem-estar das populações é mais importante do que nunca, quando as atenções se focam nos problemas causados pela Covid-19."A pandemia dá-nos um exemplo absoluto da complexidades de ligações entre o ambiente, os nossos sistemas sociais e a nossa saúde", disse Hans Bruyninck, diretor executivo da agência.

Os níveis de poluição atmosférica caíram em toda a Europa devido ao confinamento causado pela pandemia, mas a quebra deverá ser temporária e a maioria dos países europeus deverá falhar os objetivos da década para diminuir a emissão de poluentes para a atmosfera.

O relatório indica que a exposição prolongada a estes poluentes pode causar diabetes, doenças pulmonares e cancro. As primeiras pesquisas sobre a Covid-19 sugerem ainda que a poluição atmosférica pode explicar alguma da alta taxa de mortalidade dos pacientes de Covid-19.

Também a responsável europeia pela área da Saúde, Stella Kyriakides, frisou em comunicado a mesma ligação, lembrando o risco agravado de passagem de doenças de animais a humanos, devido à degradação ambiental e à produção de carne.

A União Europeia pretende tornar a agricultura mais sustentável, isolando habitats naturais e diminuindo o uso de pesticidas
, apesar dos avisos por parte dos setores agrícolas, de que isso iria afetar os níveis de produção.

O relatório da EEA refere que a qualidade da água potável é consistentemente elevada em toda a União Europeia, mas alertou contra a disseminação de antibióticos através das ETAR, o que pode levar à resistência de micróbios.

Cerca de 25 mil pessoas morrem todos os anos na Europa devido a bactérias multirresistentes.

C/agências e EEA
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