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Relotius. O caso do falsário que obrigou Der Spiegel a retractar-se

por RTP
Algumas das reportagens de Claas Relotius foram distinguidas com prémios de jornalismo Christian Charisius - Reuters

Durante anos, um jornalista da revista Der Spiegel falsificou factos e criou fontes fictícias para as suas reportagens. A publicação alemã expôs esta semana as práticas de Claas Relotius.

Foi na quarta-feira que Der Spiegel revelou o caso do jornalista que falsificou informações em cerca de 14 dos 60 artigos publicados. Repórter e editor, Claas Relotius inventou fontes e factos.

Em vários artigos, a publicação alemã explica o caso aos leitores. Juan Moreno, coautor de uma reportagem sobre refugiados na fronteira entre os Estados Unidos e o México, intitulada “Fronteira de Jaeger”, levantou suspeitas sobre o artigo - posteriormente confirmadas pelo próprio Claas Relotius, que admitiu ter forjado factos.

A revista considera que a falsificação foi feita “intencionalmente, metodicamente e com intenção criminosa”. O Spiegel acrescenta que o jornalista “incluiu indivíduos nas suas histórias que nunca conheceu ou falou com eles, ao contar as suas histórias, ou citando-as”.

Relotius acabaria por admitir ter feito o mesmo noutros artigos. Algumas destas reportagens foram distinguidas com prémios de jornalismo, como aconteceu no início de dezembro, quando o repórter alemão foi galardoado com o prémio de Repórter do Ano por um trabalho sobre a guerra na Síria.

A revista alemã anunciou que vai criar uma comissão interna para investigar de forma mais aprofundada o caso. “A Der Spiegel está comprometida com as palavras de Rudolf Augstein: diga o que é. Esta deve ser também a nossa reivindicação no caso Relotius”, lê-se num dos artigos.

“O caso Relotius revela que não atendemos às nossas expectativas. O caso confronta-nos com as nossas próprias fraquezas. É um ponto de viragem para toda a casa”.
"Limitações e fraquezas"

No artigo sobre como o sistema de revisão de textos falhou no caso do repórter alemão, Der Spiegel admite que “o caso Relotius mostra as limitações e fraquezas do sistema de segurança”.O jornalista foi agora despedido.

Ao abordar os limites da verificação de factos, o mesmo artigo refere que “Claas Relotius fez uso direcionado desses limites e fraquezas da documentação e abusou da confiança básica depositada nele, como pode ser visto em alguns exemplos. Ele até usou a documentação para tornar suas histórias mais factuais e detalhadas, onde poderiam ajudá-lo”.

Para além dos artigos publicados na versão digital da revista, vários jornalistas da Der Spiegel utilizaram a rede social Twitter para criticar a falsificação de factos.

Mathieu von Rohr, editor na revista alemã, afirmou estar “irritado, horrorizado, chocado, desorientado. Claas Relotius fingiu, traiu-nos a todos: aos seus leitores, à Der Spiegel, talvez a outros meios de comunicação. Obrigado ao repórter Juan Moreno, que revelou tudo isto”.

Rafael Buschmann, repórter do meio de comunicação alemão, comentou que “todos nós na Der Spiegel pesquisamos as nossas histórias com o maior cuidado. Com factos, documentos, testemunhas oculares. Mas não estamos completamente protegidos da energia criminosa”.

Claas Relotius escreveu para a revista alemã desde 2011, como freelancer, tendo sido contratado como editor há um ano e meio. Para além de escrever para a Der Spiegel, o jornalista contribuiu também para publicações como o Finantial Times Deutschland e Die Welt.
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