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República Democrática do Congo. M23 anuncia cessar-fogo humanitário

por Carla Quirino - RTP
Grupo armado M23 em Goma Arlette Bashizi - Reuters

O grupo M23, apoiado pelo Ruanda, anunciou um travão ao avanço no leste da República Democrática do Congo por "razões humanitárias". O cessar-fogo começou esta terça-feira, quando as forças rebeldes já controlam áreas orientais do território do país.

Têm subido de tom os apelos internacionais para estabelecer um corredor humanitário que permita aos civis escapar dos combates.

As Nações Unidas calculam que pelo menos 900 pessoas tenham morrido desde o fim de janeiro devido aos confrontos entre as Forças Armadas da República Democrática do Congo (RDC) e o grupo armado M23.A ONU confirmou na segunda-feira que o número de vítimas diz respeito a corpos retirados das ruas de Goma, mas alerta para um balanço provavelmente muito superior.

Outras 2.880 pessoas ficaram feridas em combates recentes em Goma e arredores e centenas de milhares de habitantes foram deslocados para fugir aos ataques, segundo as Nações Unidas.


Pessoas deslocadas perto de Goma | Arlette Bashizi - Reuters
Cessar-fogo humanitário
A aliança de grupos rebeldes - conhecida como Aliança do Rio Congo - acusou os militares congoleses de matar pessoas usando aeronaves para bombardear as áreas que controla. No entanto, decidiu anunciar um período de tréguas por razões humanitárias.

“A Aliança Rio Congo (AFC/M23) informa o público que, em resposta à crise humanitária causada pelo regime em Kinshasa, declara um cessar-fogo a partir de 4 de fevereiro de 2025 por razões humanitárias”, declararam os rebeldes em comunicado publicado na rede social X.


Entretanto, ainda não houve qualquer reação imediata do Governo da RDC em Kinshasa e não é claro se os militares do país respeitarão as tréguas.

Depois de controlar Goma, uma cidade de dois milhões de pessoas e território com uma enorme riqueza mineral, os rebeldes avançaram nos últimos dias em direção a Bukavu, capital da província de Quivu. Este grupo armado já tinham deixado expresso que o objetivo era varrer a RDC para tomar a capital. Porém, não atacariam a cidade provincial, a terceira maior do país, localizada na costa sudoeste do lago Quivu.

“Deve ficar claro que não temos intenção de capturar Bukavu ou outras áreas. No entanto, reiteramos o nosso compromisso de proteger e defender a população civil e as nossas posições”, disse o porta-voz do M23, Lawrence Kanyuka, numa declaração, citada na Al Jazeera.
Negociações de paz

O anúncio da trégua humanitária surge dias antes de uma cimeira regional, que decorrerá no fim de semana, na Tanzânia, e deverá contar com a participação dos presidentes do Congo, Felix Tshisekedi, e do Ruanda, Paul Kagame.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 e a União Europeia pediram na segunda-feira que as partes no conflito retornem às negociações. Apelaram ainda a uma “passagem rápida, segura e desimpedida de ajuda humanitária para os civis”, condenando igualmente a "ofensiva como uma violação flagrante da soberania da República Democrática do Congo".

O presidente de Ruanda, que é também comandante da Força de Defesa de Ruanda, alegou que não sabia se as tropas do seu país estavam na República Democrática do Congo. “Há muitas coisas que eu não sei. Mas se quiser perguntar-me, há um problema no Congo que diz respeito ao Ruanda? E que o Ruanda faria alguma coisa para se proteger? Eu diria 100 por cento", respondeu Kagame à CNN.

Esta escalada do confronto na RDC assenta em décadas de conflito étnico. O M23 afirma que está a defender os tutsis étnicos, que fugiram para a RDC durante o genocídio de 1994 no Ruanda. A RDC acusa o Ruanda e os rebeldes de saquear os recursos do país.
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