Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

Resposta veloz e dura. Putin avisa Ocidente contra violação de "linhas vermelhas"

por Graça Andrade Ramos - RTP
Vladimir Putin, Presidente da Rússia, no seu discurso à nação a 21 de abril de 2021 Reuters

Foi um discurso à nação em tom firme e cheio de avisos, ao Ocidente e à oposição. O Presidente russo, Vladimir Putin, não esteve com meias palavras e prometeu esta quarta-feira uma resposta rápida e dura de Moscovo a qualquer provocação, deixando claro que os responsáveis iriam lamentá-la.

"Queremos boas relações e realmente não queremos queimar pontes", afirmou Putin, perante a Assembleia Federal russa, enquanto no exterior um apertado cordão de segurança se preparava para controlar uma manifestação de protesto.

"Comportamo-nos em geral com moderação e de uma forma modesta, muitas vezes não respondendo nem mesmo a ações pouco amistosas ou mesmo de uma grosseria flagrante", afirmou Putin.

"Mas se alguém toma erradamente as nossas boas intenções por indiferença e fraqueza, e tenciona queimar ou até fazer explodir estas pontes, devem ficar cientes de que a resposta da Rússia será assimétrica, veloz e dura", acrescentou.

"Que ninguém tenha a ideia de cruzar uma linha vermelha com a Rússia. Seremos nós a decidir em cada caso onde está a linha vermelha", sublinhou.
Vladimir Putin está no poder há duas décadas e recentemente lançou as bases para se manter à frente dos destinos russos por pelo menos mais dez anos.


O discurso de 78 minutos do Presidente, dirigido à nação, centrou-se maioritariamente na resposta do país à pandemia de Covid-19 e às dificuldades financeiras, com apelos à vacinação e alertas para a crise demográfica que o país vive.

O final foi o momento escolhido para apelar ao patriotismo e à resistência do povo russo, no caso contra as ameaças externas e eventuais interferências contra os interesses do Kremlin.

A Rússia é como um tigre rodeado de hienas importunas, afirmou Putin, invocando a imagem de Shere Khan de O Livro da Selva, de Rudyard Kipling.

Vladimir Putin, Presidente da Rússia, no seu discurso à nação a 21 de abril de 2021 Foto: Reuters

"Nalguns países, desenvolveu-se um hábito muito pouco saudável de implicar com a Rússia porque sim e a maioria das vezes porque não - uma espécie de desporto", ironizou o Presidente russo, sozinho num enorme palco ladeado de bandeiras nacionais brancas, azuis e vermelhas com um fundo de uma gigantesca águia bicéfala.
Lamentar "como nunca antes"
A tensão entre Moscovo e as potências ocidentais tem vindo a agravar-se, após a concentração de mais de 100 mil tropas russas, na Crimeia e junto às fronteiras oeste com a Ucrânia, além da detenção do principal opositor de Putin, Alexei Navalny, que entrou em greve de fome e se encontra em estado muito debilitado.

Outros sinais incluem o agravamento das sanções norte-americanas à Rússia, devido a acusações de pirataria informática e de interferência eleitoral, e a expulsão mútua de diplomatas com Washington, Varsóvia e Praga.

Apesar de todas as considerações, Putin não referiu especificamente os grandes diferendos que Moscovo mantém atualmente em particular com os Estados Unidos da América e com a União Europeia.

O Presidente preferiu lançar mão dos exemplos das vizinhas Ucrânia e Bielorrússia para alertar contra quaisquer tentativas de insurreição em solo russo sob batutas externas.

"Quem organizar quaisquer provocações que ameacem o cerne dos nossos interesses irá arrepender-se tê-lo feito como nunca antes", ameaçou.

O recado desta vez dirigia-se para os os apoiantes de Alexei Navalny, que apelaram à mobilização de protestos nacionais esta quarta-feira por toda a Rússia, contra Putin.

Em retaliação, Lyubov Sobol e Kira Yarmysh, o primeiro uma das caras do canal YouTube de Navalny a a segunda a sua porta-voz, foram detidos, denunciaram os seus advogados."Como de costume, eles pensam que se isolarem os líderes, não haverá protestos", afirmou Leonid Volkov, um outro associado de Navalny. "Claro que se enganam".

Ruslan Shaveddinov, próximo do opositor detido, tweetou "neste momento, em toda a Rússia, estão a deter manifestantes potenciais. Isto é repressão. Isto é inaceitável. Temos de lutar contra esta escuridão".

Circulam informações de que 180 pessoas foram presas nas manifestações organizadas a partir do extremo leste russo, em cidades como Vladivostok, Irkutsk e Krasnoyarsk.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, considerou as detenções "deploráveis" e apelou as autoridades russas a respeitarem o direito a reunião dos seus cidadãos. O Kremlin afirmou que os protestos são ilegais.
Recados para fora cá dentro
Putin também não mencionou Alexei Navalny e, apesar da dureza do tom geral, o rublo valorizou-se após o discurso, com os mercados a interpretarem-no como recados mais para consumo interno do que como escalada com o Ocidente.

O homem mais poderoso da Rússia pode estar razoavelmente ciente de que, se avançar sobre a Ucrânia a partir da Península da Crimeia e da Província ucraniana de Donbass, que controla e onde tem estado a centrar forças, a resposta das potências ocidentais irá ser mais diplomata do que militar.

O seu apoio a Alexander Lukashenko, o Presidente da vizinha Bielorrússia ocupado em reprimir violentamente a insurreição pacífica que domina o país desde as eleições consideradas fraudulentas de agosto de 2020, garante-lhe a segurança fronteiriça noutra frente ocidental.

As autoridades bielorrussas anunciaram dia 17 de abril terem desmantelado uma tentativa de assassinato de Lukashenko apoiada pelos Estados Unidos da América, e os Serviços de Segurança Federal da Rússia (FSB) afirmaram ter detido dois cidadãos da Bielorrússia envolvidos na conspiração.

O anúncio foi desmentido pela oposição bielorrussa no exílio. Putin deu-lhe crédito."A utilização injusta de sanções está a transformar-se em algo mais perigoso - uma tentativa de golpe na Bielorrússia", referiu no seu discurso e na véspera de uma reunião com Lukashenko.

"O que teria acontecido se a tentativa de golpe tivesse sido realmente concretizada? Quantas pessoas teriam sofrido?", perguntou, para logo afirmar que "o Ocidente não pensou na Bielorrússia ou na Ucrânia, quando se deram os acontecimentos de Maidan", numa referência aos protestos de fevereiro de 2014 na Praça Maidan na capital ucraniana de Kiev, que levaram à queda e fuga do Presidente apoiado por Moscovo, Viktor Yanukovych.

Após o discurso, o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, descreveu as "linhas vermelhas" referidas como "os nossos interesses de segurança externa e os nossos interesses de segurança interna de forma a prevenir qualquer interferência externa, seja nas nossas eleições ou noutros processos políticos nacionais".

c/ agências
pub