UE não aplica novas sanções à Rússia apesar de crescentes tensões

por Inês Moreira Santos - RTP
François Walschaerts - EPA

As tensões entre a União Europeia e a Rússia "estão a aumentar" devido ao estado de saúde de Alexei Navalny e da situação "perigosa" na fronteira com a Ucrânia, como admitiu esta segunda-feira Josep Borrell. Contudo, o alto representante da UE para a Política Externa assegurou que os parceiros europeus não estão a considerar impor novas sanções contra o regime de Vladimir Putin.

A expulsão, anunciada no domingo, de 20 diplomatas checos da Rússia, o estado de saúde do opositor russo, Alexei Navalny, e as tensões na fronteira com a Ucrânia foram as principais questões no Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros, que decorreu virtualmente esta segunda-feira. À saída da reunião dos chefes da diplomacia, Josep Borrell anunciou que a maioria dos parceiros europeus não considera apropriado estender as sanções contra o Kremlin.

"Neste momento, não há interesse em impor mais sanções contra a Rússia", disse Borrell numa conferência de imprensa. "Isso pode mudar, mas a situação atual é esta", afirmou o Alto Representante da diplomacia europeia.

Já em fevereiro o bloco comunitário tinha endurecido a sua posição relativamente à Rússia, quando impôs sanções a quatro líderes russos por violações dos direitos humanos.

"As sanções não são um objetivo", disse a ministra espanhola dos Negócios Estrangeiros, Arancha González-Laya, ao El País. "Obviamente, se há questões russas que consideramos que precisam de uma ação, nós atuamos".

Por agora, a UE apela à Rússia para que "desacelere" a situação na Ucrânia e que permita que Navalni tenha tenha acesso a cuidados médicos por profissionais de saúde "da sua confiança".

"A situação de Navalny é grave. Recebi uma carta da equipa de Navalny sobre a sua situação de deterioração e há dias já emiti uma forte declaração em nome de toda a UE", disse o Alto Representante da UE para a Política Externa.

Entretanto, Alexei Navalny já "foi transferido para um hospital prisional regional, mas continua a ser necessário que as autoridades russas lhe concedam acesso imediato aos profissionais médicos em que ele confia", vincou Borrell. "A situação está a piorar e hoje queremos passar uma mensagem unida às autoridades russas, que são responsáveis pela segurança e saúde de Navalny".

"E nós vamos responsabilizá-las por isso", referindo-se às autoridades russas.

A reunião foi presidida, a partir de Bruxelas, pelo alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, e contou também com a participação do ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba.
UE quer "melhorar" relação com Ucrânia
No final da reunião, Josep Borrell destacou que a situação na fronteira com a Ucrânia "é muito preocupante".

Segundo o chefe da diplomacia europeia, o destacamento militar da Rússia na fronteira com a Ucrânia e na Crimeia já soma "mais de 150.000 soldados" e é "o maior destacamento militar do exército russo de sempre na fronteira com a Ucrânia".

Borrell acrescentou que o destacamento russo "inclui hospitais de campanha e todo o tipo de material de guerra", movimentos que aumentaram o risco de um confronto militar entre a Rússia e a Ucrânia e que fazem o governo de Kiev temer uma invasão do país, como a que aconteceu em 2014 na Crimeia.

Os chefes das diplomacias da União Europeia analisaram ainda com o seu homólogo ucraniano "formas de melhorar" e "incrementar" a cooperação entre Bruxelas e Kiev.

Josep Borrell também referiu que, durante as conversas com o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, foram abordadas a "necessidade" de a Ucrânia "acelerar o progresso substancial nas reformas". No entanto, o chefe da diplomacia europeia afirmou que a "mensagem mais importante" do encontro entre os responsáveis foi o "apoio forte" transmitido à Ucrânia e a "preocupação" da UE relativa ao reforço do contingente militar russo na fronteira ucraniana e na península da Crimeia.

"A situação na fronteira ucraniana é muito, muito preocupante: (…) há mais de 150 mil tropas russas a juntar-se na fronteira ucraniana e na Crimeia. O risco de uma escalada [nas tensões] é evidente", sublinhou Borrell.

Por isso, o alto representante considera que é "necessário elogiar" a Ucrânia pela sua "resposta comedida" aos acontecimentos, instando, pelo contrário, a Rússia a "desanuviar as tensões".

"A mensagem de todos os ministros foi muito, muito clara: a reiteração completa de um apoio forte à soberania e à integridade territorial da Ucrânia e, mais uma vez, o não reconhecimento da anexação ilegal da Crimeia", referiu Borrell.

Já o ministro português dos Negócios Estrangeiros afirma que entre as várias questões abordadas na reunião, "estiveram em análise formas de melhorar, de incrementar a nossa [da UE] relação cooperação com a Ucrânia".

Segundo Santos Silva, o reforço da cooperação entre os dois parceiros serviria para "evitar uma escalada da conflitualidade nessa região europeia, para evitar também uma escalada de confrontações com a Federação russa e para analisar formas de expressão concreta" da solidariedade da UE com a Ucrânia.

Recorde-se que nas últimas semanas, as tensões aumentaram entre a Ucrânia e a Rússia, que destacou dezenas de milhares de soldados para perto da fronteira, aumentando o receio de uma operação militar em grande escala. O Kremlin argumenta que a Rússia tem todo o direito de deslocar tropas para qualquer zona do seu território, e tem acusado repetidamente os militares ucranianos de "ações provocatórias" ao longo da linha de controlo no leste e planos para retomar pela força as regiões controladas pelos rebeldes pró-russos.
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