"Rezem pelas pessoas". Furacão Ian assola Florida e continua a ameaçar milhões de habitantes

por Joana Raposo Santos - RTP
No pico da tempestade, as redes sociais encheram-se de pedidos de ajuda por habitantes da zona costeira do Estado, muitos deles presos em casas inundadas. Marco Bello - Reuters

O furacão Ian, ma origem de uma das tempestades mais fortes que alguma vez atingiram a região continental dos Estados Unidos, chegou ao sul do Estado da Florida, trazendo ventos fortes e chuva intensa. Ao mover-se para o interior foi enfraquecendo, mas o perigo ainda não passou. As autoridades suspenderam os serviços de emergência de polícias e bombeiros devido às condições adversas, avisando que quem escolha ficar em vez de ser retirado está por si só.

Ao final de quarta-feira, quando o furacão atingiu a costa sul da Florida, cerca de dois milhões de casas e lojas ficaram sem eletricidade. Os ventos alcançaram os 241 quilómetros por hora e as chuvas causaram inundações de até 5,4 metros.

Horas depois, a tempestade – que terá atingido um raio de aproximadamente 225 quilómetros – baixou da categoria 4 para a 1, passando a mover-se lentamente para norte e continuando, ainda assim, a causar grandes inundações.

Com o anoitecer, as redes de energia e comunicações permaneceram desligadas e os trabalhadores dos serviços de emergência viram-se forçados a abrigar-se da tempestade.

Áreas residenciais em Fort Myers Beach e em várias outras cidades costeiras ficaram quase na totalidade submersas, com edifícios danificados e árvores e linhas de energia derrubadas. A empresa pública de energia Florida Power and Light já avisou que, nas habitações por onde o furacão Ian passou, os próximos dias deverão ser sem energia.No pico da tempestade, as redes sociais encheram-se de pedidos de ajuda por habitantes da zona costeira do Estado, muitos deles presos em casas inundadas.

Milhões de residentes da Florida continuam agora diretamente na trajetória prevista da tempestade, que poderá ainda provocar ventos de 160 quilómetros por hora. Esta quinta-feira o furacão Ian prossegue o caminho para norte, em direção à cidade de Orlando.

“Há tempestades com um impacto realmente devastador… esta será uma dessas tempestades históricas, que irá moldar as comunidades no sudoeste da Florida e que terá um impacto profundo no nosso Estado”, lamentou o governador da Florida, Ron DeSantis, aos jornalistas. “Rezem pelas pessoas”.

“Este vai ser um momento difícil. Apenas pedimos às pessoas os seus pensamentos e orações. Esta é uma grande, grande tempestade”, acrescentou.
Resposta de bombeiros e polícias está suspensa
Um meteorologista do Weather Channel que cobriu mais de 90 tempestades ao longo da carreira disse, no Twitter, “nunca ter experienciado um furacão tão forte como o Ian em mais de 30 anos”.

Mais de 2,5 milhões de pessoas ao longo da costa oeste da Florida permanecem agora sob alertas de evacuação, embora muitas tenham já dito que preferem ficar e enfrentar a tempestade independentemente da força que esta alcance. As autoridades já avisaram que aqueles que escolhessem permanecer ficarão sozinhos, pois as condições são demasiado adversas para que as equipas de emergência possam sair em seu socorro.

“A resposta por parte de médicos de emergência, bombeiros e polícias será interrompida”, avisou o presidente da Câmara de Fort Myers, Kevin Anderson. “Portanto, aqueles que escolherem ficar põem-se em risco”.

Ao passar pelo sul da Florida, a tempestade inundou a sala de emergências do andar inferior do Hospital Florida Fawcett, enquanto ventos fortes arrancaram parte do telhado do quarto andar do edifício, onde funciona a unidade de terapia intensiva.

A equipa foi forçada a mover os pacientes mais frágeis, alguns deles ligados a ventiladores, para outros andares. Um médico do hospital revelou ao Guardian preocupação, pois “podem chegar em breve mais ambulâncias e não temos onde colocar os pacientes”.

Na cidade de São Petersburgo, também na Florida, o jardim zoológico de Sunken Gardens tentou proteger os seus animais. Os flamingos, por exemplo, foram colocados numa casa de banho enquanto a tempestade passava.

Em Orlando, a Disney e outros parques temáticos encerraram as instalações durante pelo menos dois dias. No aeroporto da Florida as operações também estão suspensas.
Prossegue a busca por migrantes após naufrágio
Antes de chegar à Florida, o furacão Ian passou sobre Cuba e o mar das Caraíbas sob a forma de poderosa tempestade tropical, ganhando força nas águas quentes do Golfo do México.

O furacão provocou várias mortes e inundações sem precedentes em Cuba, que está agora a restaurar a eletricidade em regiões da ilha que sofreram um corte total de energia.

Ao mesmo tempo decorre, na costa da Florida, uma busca por mais de 20 pessoas que seguiam num barco que naufragou ao transportar migrantes de Cuba para os Estados Unidos. Vários passageiros foram já resgatados das águas.

O presidente Joe Biden prometeu o apoio total dos recursos federais nas missões de busca e salvamento e, numa próxima fase, no esforço de recuperação da Florida, onde algumas zonas ficaram permanentemente danificadas pelo impacto da tempestade.

"Estaremos lá para ajudar-vos a recuperar, a limpar a reconstruir a Florida", assegurou o líder na Casa Branca, acrescentando que o estado de emergência federal declarado por si permite a ativação milhares de soldados da Guarda Nacional e que milhões de litros de água, alimentos e geradores estão já a caminho.
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