Risco de cancro. Especialista norte-americano defende bebidas alcoólicas com avisos nos rótulos
O álcool é uma das principais causas evitáveis de cancro, por essa razão o cirurgião-geral dos EUA, Vivek Murthy, considera que as bebidas alcoólicas deviam ter um rótulo de advertência, à semelhança dos maços de tabaco. Com as Diretrizes Dietéticas dos Estados Unidos prestes a ser atualizadas, o especialista trouxe o tema para debate, o que já teve impacto nas ações de fabricantes de bebidas destiladas e cervejeiras europeias e norte-americanas.
“O álcool é uma causa relacionada e evitável de cancro, responsável por cerca de 100 mil casos de cancro e 20 mil mortes anualmente nos Estados Unidos — mais do que as 13.500 mortes por acidentes de viação associadas ao consumo de álcool por ano nos EUA — mas a maioria dos norte-americano desconhece esse risco”, escreveu o especialista num relatório, divulgado esta sexta-feira.
O consumo de álcool nos EUA é comum, refere Murthy, considerando que no período entre 2019 e 2020, “72 por cento dos adultos norte-americanos afirmaram ter consumido uma ou mais bebidas por semana”. Contudo, o cirurgião-geral repetiu: “menos de metade dos adultos norte-americanos estão cientes da relação entre o consumo de álcool e o risco de cancro”.
O consumo de álcool é uma das maiores causas de cancro no país e, segundo o especialista, o tipo de álcool consumido não importa.
Em tom de alerta, o cirurgião-geral pediu mudanças de política que pudessem ajudar a reduzir o cancro relacionado com o consumo de álcool, apelando para que os rótulos das garrafas sejam mais visíveis e incluam um aviso sobre o aumento do risco de cancro, para reavaliar os limites recomendados para o consumo de álcool com base nos dados mais recentes e, assim, aumentar a educação e a consciencialização da comunidade geral para os perigos para a saúde do consumo de bebidas alcoólicas.
A sugestão é que os rótulos contenham avisos semelhantes aos já implementados para reduzir o uso do tabaco, incluindo uma série de advertências obrigatórias nas embalagens e nas lojas. O cirurgião-geral acredita que se deve aconselhar a população a ponderarem sobre os riscos e, a partir daí, decidir se devem beber ou quanto beber.
"Para certos tipos de cancro, como cancro de mama, boca e garganta, os dados mostram que o risco de desenvolver a doença pode começar a aumentar com o consumo de uma ou menos doses por dia", de acordo com o documento.
Não se sabe nem quando nem se as sugestões do cirurgião-geral vão ser adotadas, mas o presidente eleito não bebe e há muito que tem alertado para os riscos do consumo de álcool. O irmão de Trump morreu em 1981 na sequência de um ataque cardíaco provocado pelo alcoolismo.
Também Robert F. Kennedy Jr., nomeado por Donald Trump para secretário de Saúde e Serviços Humanos, já assumiu problemas anteriores com o consumo de heroína e o álcool e admitiu que participa nas reuniões dos Alcoólicos Anónimos.
Ações de bebidas alcoólicas em baixa
O relatório de Vivek Murthy foi divulgado esta sexta-feira, mas bastaram apenas algumas horas para que as ações de fabricantes de bebidas destiladas e cervejeiras europeias e norte-americanas sentissem os efeitos. Empresas como Molson-Coors e Anheuser-Busch viram as ações cair mais de 1 por cento após os alertas do médico.
As ações da controladora da Jack Daniel's, Brown-Forman, caíram quase 3 por cento, atingindo seu menor nível desde abril de 2017, enquanto a fabricante de cerveja Coors Light caiu 2,7 por cento.
A Constellation Brands, fabricante da cerveja Corona, caiu 1,3 por cento, enquanto a Boston Beer caiu 3 por cento.
Na Europa, as ações da maior fabricante de bebidas do mundo, Diageo, caíram 3,7 por cento para o menor nível desde meados de dezembro e a fabricante francesa de bebidas Pernod Ricard, dona do conhaque Martell, do champanhe Mumm e da vodca Absolut, caiu cerca de 3 por cento, enquanto a concorrente Remy e o grupo italiano de bebidas Campari caíram pelo menos 4,5 por cento.
As cervejarias também foram atingidas, com a fabricante da Budweiser, Anheuser-BuschInBev, caindo 2,7 por cento, e a Heineken e a Carlsberg, caindo mais de 1 por cento cada.
Os jovens norte-americanos já consumem menos álcool do que as gerações anteriores, e muitos arranjam alternativas não alcoólicas. Cerca de dois terços dos adultos de 18 a 34 anos dizem que o consumo de álcool afeta negativamente a saúde, contra menos de 40 por cento das pessoas de 35 a 54 anos e 55 anos ou mais, de acordo com uma investigação da Gallup divulgada em agosto de 2024.
Um rótulo de advertência atualizado nas bebidas alcoólicas para avisar quanto ao risco de cancro exige debate e aprovação do Congresso dos Estados Unidos. Murthy também deixou alertas quanto a temas como violência armada, solidão e isolamento, redes sociais e saúde mental dos jovens e dos pais.