O candidato da extrema-direita romena George Simion, derrotado no passado domingo à segunda volta das presidenciais na Roménia, anunciou ter apresentado um pedido de anulação das eleições por "ingerência externa", nomeadamente de França.
🚨🇷🇴 I officially ask Constitutional Court TO ANNUL Romanian presidential elections (May 2025).
— 🇷🇴 George Simion 🇲🇩 (@georgesimion) May 20, 2025
For the very reasons December elections were annulled: EXTERNAL INTERFERENCES by state and non-state actors.
This time proven with evidence! Neither 🇫🇷, nor 🇲🇩, nor anyone else has…
“Pelas mesmas razões” que levaram à anulação do escrutínio de novembro: “ingerência externa”, acrescentou, numa mensagem acompanhada das bandeiras de França e da Moldova.
Em comunicado, o líder do partido AUR precisou em seguida ter “apresentado formalmente o pedido”.
George Simion foi derrotado na segunda volta de domingo pelo presidente liberal da Câmara de Bucareste, Nicuşor Dan, que venceu por uma margem de 53,6 contra 46,4 por cento. A primeira volta, em novembro de 2024, foi anulada pelo tribunal, devido a alegações de violações do financiamento da campanha com uma interferência “maciça” da Rússia. Na altura, o mais votado foi Călin Georgescu.
Tal como Călin Georgescu foi destituído e as eleições foram anuladas, vamos contestar a eleição de Nicușor Dan exatamente pelas mesmas razões", disse Simion, um ex-futebolista crítico da União Europeia e admirador de Trump, em declarações aos meios de comunicação locais.“Porquê? Porque houve compra de votos”, disse Simion, que admitiu formalmente a vitória a Dan no domingo à noite, depois de ter afirmado que tinha ganho. “Porque no dia 18 de maio votaram pessoas mortas e nenhum cálculo no mundo nos mostra que mais de 11,5 milhões de romenos votaram”.
O líder do partido AUR tem alegado repetidamente fraude eleitoral sem apresentar provas. A sua decisão tardia de contestar o resultado das eleições, embora seja pouco provável que tenha sucesso, irá prolongar a incerteza política na Roménia, que está sob um governo provisório.
O ultranacionalista, cujos apoiantes realizaram uma contagem paralela em algumas assembleias de voto, disse que os votos foram “contados corretamente”, mas que os “observadores internacionais” tinham visto “interferência estrangeira” e que “as redes sociais e os algoritmos foram manipulados”.
Na terça-feira, explicou que “não queria provocar um banho de sangue”.
George Simion tomou esta decisão na sequência de comentários online que o animaram a aceitar o desafio. Antes do anúncio, respondeu na plataforma digital TikTok: “Sim, vou fazer isso! Sem problema! Sou um lutador, não sou um cobarde, nem um traidor!”.
Acusações na aplicação Telegram
Simion afirmou que existem “provas irrefutáveis” da ingerência da França, da Moldova e de outros países num “esforço orquestrado para manipular as instituições, orientar as narrativas dos meios de comunicação social e impor um resultado que não reflete a vontade soberana do povo romeno”.George Simion referiu-se a uma sugestão do fundador da aplicação de mensagens Telegram, Pavel Durov, de que Paris lhe tinha pedido para “silenciar as vozes conservadoras” na Roménia. A França “rejeitou categoricamente” aquilo a que chamou “alegações completamente infundadas”.
O russo Pavel Durov, que também tem nacionalidade francesa, está a ser investigado em França por alegada atividade criminosa na aplicação, incluindo imagens de abuso de menores e tráfico de droga. O Telegram afirmou que respeita a legislação europeia e nega que a plataforma facilite atividades ilegais.
French foreign intelligence confirmed they met with me — allegedly to fight terrorism and child porn. In reality, child porn was never even mentioned. They did want IPs of terror suspects in France, but their main focus was always geopolitics: Romania, Moldova, Ukraine.
— Pavel Durov (@durov) May 19, 2025
Estas alegações foram consideradas pela Direção-Geral de Segurança Externa (DGSE, serviços secretos franceses) suficientemente graves para romper o silêncio habitual. Kremlin considera que eleições na Roménia foram “estranhas”
O Kremlin descreveu na segunda-feira as eleições presidenciais da Roménia como "estranhas", dizendo que o candidato pró-russo que ganhou uma votação abortada no ano passado tinha sido injustamente desqualificado.
"As eleições foram estranhas, para dizer o mínimo", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
"Conhecemos a história do candidato que tinha mais hipóteses de ganhar. Sem se dar ao trabalho de encontrar qualquer justificação, foi simplesmente retirado à força da corrida".
A Rússia negou anteriormente qualquer papel na campanha de Călin Georgescu e acusou as autoridades romenas de o terem impedido de concorrer por razões políticas. Roménia atravessa uma crise política
Após meses de tensão, a Roménia esperava finalmente virar a página com este epílogo eleitoral, mas o recurso de George Simion corre o risco de agravar o clima numa sociedade extremamente polarizada, onde grassam a desilusão e a raiva contra uma classe política considerada corrupta e arrogante.Embora tenha dominado a primeira volta, o partido de George Simion teve de pagar o preço de uma forte mobilização de eleitores pró-europeus entre as duas voltas, receando uma viragem para a Rússia, numa eleição que seria decisiva para o futuro deste país de 19 milhões de habitantes, membro da União Europeia e da NATO.
Nas urnas, havia dois pontos de vista opostos: de um lado, Nicuşor Dan, europeu fervoroso e apoiante da vizinha Ucrânia, do outro, George Simion, muito crítico das “políticas absurdas” de Bruxelas e contrário à ajuda a Kiev.
Há vários meses que a Roménia atravessa uma crise política sem precedentes desde a queda do comunismo, em 1989.
Tudo começou em 24 de novembro, quando um candidato praticamente desconhecido, Călin Georgescu, venceu a primeira volta das eleições presidenciais, após uma campanha maciça no TikTok.
As autoridades concluíram que tinha havido irregularidades, com suspeitas de interferência russa, e o Tribunal Constitucional anulou a votação. Esta foi uma decisão rara na União Europeia, que provocou manifestações por vezes violentas e acusações de “golpe de Estado” retomadas pela administração Trump.