Rússia e Ucrânia trocam novos ataques a infraestruturas energéticas

por Cristina Sambado - RTP
Gleb Garanich - Reuters

Na noite de segunda-feira, Kiev e Moscovo voltaram a atacar as infraestruturas energéticas, provocando um incêndio numa instalação industrial na Rússia e cortes de eletricidade e gás na Ucrânia.

Esta terça-feira, com a temperatura em Kiev a atingir os oito graus negativos, o ministro ucraniano da Energia, Guerman Galushchenko, publicou no Facebook uma mensagem sobre um ataque russo “às infraestruturas de gás do país”.

“O inimigo lançou um ataque à infraestrutura de gás durante a noite”, disse Galushchenko numa publicação nas redes sociais. “A partir desta manhã, o sector da energia continua a estar sob ataque”.


 

As autoridades locais comunicaram ataques em várias regiões, incluindo Zaporizhia (leste), Poltava (centro-leste) e Dnipropetrovsk (leste), com vários feridos.

Na região de Poltava, no leste da Ucrânia, uma instalação de gás foi danificada por um ataque noturno russo “maciço”, de acordo com a empresa nacional de gás ucraniana Naftogaz.

“As instalações de produção do Grupo Naftogaz na região de Poltava foram danificadas. Felizmente, não houve vítimas”, declarou a empresa em comunicado.

A Naftogaz “está a tomar todas as medidas necessárias para estabilizar a situação do abastecimento de gás na região de Poltava”, acrescentou. Durante a noite foram emitidos alertas aéreos em várias partes do país. A Força Aérea ucraniana afirmou que a Rússia tinha lançado um ataque combinado, utilizando 19 mísseis de cruzeiro, balísticos e guiados contra instalações de produção de gás na região de Poltava. Nenhum míssil foi abatido.

A administração militar regional de Poltava afirmou que nove povoações do distrito de Myrhorod tinham ficado sem gás.

A Rússia, que anteriormente centrava os seus ataques com mísseis e drones no sector elétrico ucraniano, intensificou nos últimos meses os seus ataques às instalações de armazenamento de gás e aos campos de produção ucranianos.

As instalações de armazenamento subterrâneo de gás da Ucrânia estão localizadas a oeste, enquanto a principal capacidade de produção se situa a leste, na região fronteiriça de Kharkiv, bem como na região de Poltava.


O operador estatal do sistema de transporte de gás disse que a Ucrânia iria provavelmente aumentar as importações de gás natural para mais de 16,7 milhões de metros cúbicos (mcm) na terça-feira, contra 16,3 mcm na segunda-feira.A Ucrânia consome 110-140 milhões de metros cúbicos de gás por dia no inverno e o consumo é coberto quase igualmente pela produção de gás e pelas reservas das instalações de armazenamento.

No entanto, o antigo diretor do sistema de transporte de gás ucraniano afirmou que as reservas em armazém estavam perto do seu nível crítico, o que reduziu significativamente a capacidade de extrair gás suficiente para o consumo diário.

Tanto a queda da produção de gás como as dificuldades de extração das instalações de armazenagem subterrâneas esvaziadas podem obrigar Kiev a aumentar o volume das importações.

Os dados do operador sugerem que a Ucrânia importará 7,6 milhões de metros cúbicos de gás da Hungria, 7,3 milhões de metros cúbicos da Eslováquia e 1,8 milhões de metros cúbicos da Polónia.

A Rússia ataca regularmente as cidades e a rede energética da Ucrânia, insistindo que estes ataques, que muitas vezes matam civis, visam apenas alvos militares. Em contrapartida, Kiev lança frequentemente ataques contra instalações energéticas e militares russas, por vezes a grande distância da sua fronteira.
Ucrânia atacou refinaria russa em Saratov
O governador da região russa de Saratov, Roman Boussarguine, afirmou que uma “empresa industrial” local tinha sofrido um incêndio após o ataque, mas que as chamas tinham sido “controladas” ao início da manhã.

O Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia já assumiu a responsabilidade do novo ataque à refinaria russa em Saratov, que fica a mais de 450 quilómetros em linha reta da fronteira entre os dois países.

O Ministério russo da Defesa afirmou ter neutralizado 40 drones inimigos durante a noite, incluindo 18 sobre a região de Saratov.


“A refinaria de Saratov foi atacada. Este não é o primeiro ataque. A refinaria de Saratov é uma das principais instalações da infraestrutura de combustível russa”, escreveu o chefe do Centro contra a Desinformação do Conselho de Segurança Nacional da Ucrânia, Andriy Kovalenko, no Telegram.

Kovalenko acrescentou que a capacidade de processamento daquela refinaria era de sete milhões de toneladas por ano.

Segundo o responsável, o complexo atacado desempenha um papel "importante" no fornecimento de combustível ao exército russo.


Kovalenko também relatou um ataque noturno à cidade de Engels, na mesma região de Saratov, onde a Rússia tem uma das bases aéreas que usa para atacar a Ucrânia.

A base de Engels foi atacada inúmeras vezes desde o início da guerra. “Traição em nome da Ucrânia”
Os serviços de segurança russos (FSB) anunciaram esta terça-feira que dois homens foram condenados a longas penas de prisão por atentado à bomba e traição em nome da Ucrânia, no âmbito da repressão da ofensiva de Moscovo contra a Ucrânia.

Desde o início da ofensiva russa contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022, os processos por “traição”, “terrorismo”, “sabotagem” ou “espionagem”, que implicam sempre penas pesadas, multiplicaram-se na Rússia.Milhares de pessoas foram também punidas, ameaçadas ou presas devido à sua oposição ao conflito.

Na região de Kirov (oeste), o tribunal militar regional central condenou um residente a 21 anos de prisão, depois de ter sido considerado culpado de ter incendiado três armários elétricos situados em vias-férreas, a pedido da Ucrânia, informou a secção local do FSB num comunicado desta terça-feira, citado pela agência oficial TASS.

Em Blagovechtchensk (extremo oriente russo), um residente foi condenado a 12 anos de prisão por “traição sob a forma de ajuda financeira a um Estado estrangeiro, dirigida contra a segurança da Federação Russa”, declarou o FSB regional num comunicado, citado pela agência noticiosa RIA Novosti.

O homem de 22 anos foi condenado por ter comprado armas e equipamento militar para as forças ucranianas, segundo a mesma fonte.

Além disso, cinco prisioneiros de guerra ucranianos foram condenados na terça-feira em Rostov-on-Don (sul) a penas de prisão que variam entre cinco anos e oito meses e seis anos, acrescentou a TASS.

Os tribunais russos acusaram-nos de serem membros do batalhão “Donbass-Ucrânia”, designado como “organização terrorista” na Rússia, e de terem participado em combates contra civis e militares na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, reivindicada por Moscovo.

c/ agências
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