Rússia. Mais de mil detidos em protestos contra detenção de Alexei Navalny

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Anatoly Maltsev - EPA

Cerca de 1400 pessoas foram detidas na Rússia depois de terem participado nos protestos de terça-feira que exigem a libertação do opositor russo Alexei Navalny. As imagens dos protestos demonstram o abuso de força por parte da polícia contra os manifestantes. O maior opositor do Presidente Vladimir Putin foi condenado à prisão mesmo perante os apelos à sua libertação por parte do ocidente.

Na terça-feira, o Tribunal de Moscovo sentenciou Alexei Navalny a três anos e meio de prisão. A juíza condenou o opositor de Vladimir Putin por violação do regime probatório quando esteve na Alemanha a receber tratamento médico depois de ter sido envenenado.

Após o veredicto, milhares de apoiantes de Navalny marcharam até ao centro de Moscovo. As imagens partilhadas nos meios de comunicação russos e nas redes sociais retratam um clima de violência, com a polícia a atacar os manifestantes com bastões. Um jornalista foi visto a ser atingido na cabeça por um agente com um bastão.


De acordo com a organização não-governamental russa OVD-info, foram detidas cerca de 1116 pessoas nos protestos de terça-feira em Moscovo e 246 na cidade de São Petersburgo. A estes números somam-se os outros milhares de detidos nos últimos fins-de-semana. Desde o início do movimento de protesto contra a prisão de Navalny, em janeiro, já foram detidas mais de dez mil pessoas, segundo a OVD-Info.

Muitos manifestantes permaneceram amontoados nos autocarros, detidos "em condições terríveis e sufocantes, sem comida e sem poder ir à casa de banho por várias horas", disse o responsável da OVD-Info, Grigori Dournovo, à rádio Ekho Moskvy.

“É muito difícil para advogados e juristas o acesso às esquadras. Eles não os deixam entrar, tornou-se sistemático”, acrescentou Dournovo.
Putin, o “envenenador de cuecas”
Navalny foi sentenciado a três anos e meio de prisão, mas a pena efetiva subtrairá os dez meses que o opositor russo já esteve em prisão domiciliária.

O ativista anticorrupção de 44 anos foi acusado de ter violado a liberdade condicional por não ter comparecido às autoridades competentes no ano passado, uma acusação que os advogados consideram ser absurda, uma vez que Navalny apenas viajou para a Alemanha para recuperar de um envenenamento com um agente nervoso do tipo novitchok, uma substância desenvolvida por militares soviéticos nos anos 1970. O ativista foi detido em 17 de janeiro, ao regressar da sua convalescença de cinco meses em Berlim

O maior opositor russo acusa o Presidente Vladimir Putin de ser o responsável pelo seu envenenamento. “Alguém não queria que eu desse um único passo no meu país como um homem livre. E sabemos quem e porquê. O ódio e o medo de um homem, a viver num bunker, a quem eu ofendi ao sobreviver quando ele me tentou matar”, disse Navalny durante uma intervenção no tribunal antes de ser anunciada a sua sentença.

Putin tentou cometer um homicídio. Não sou o único, muitos já sabem disso e muitos outros ficarão a saber”, acusou o opositor russo. “E isto está a irritar o pequeno ladrão no bunker”, acrescentou o ativista político, afirmando que “o único método do líder russo consiste em matar pessoas”.

“Não importa o quanto ele se esforça para parecer um geopolítico. Ele ofendeu-se comigo porque ele ficará na história como um envenenador de cuecas”, afirmou o opositor russo.

Navalny, que já acusou Putin e os seus aliados de desviarem milhões de euros, afirmou ainda que a sua sentença está a ser usada para atemorizar a oposição. “É assim que isto funciona: eles mandam uma pessoa para a prisão para intimidar milhões”, afirmou o ativista.

O Kremlin nega qualquer envolvimento no ataque a Navalny e rejeita a conclusão de especialistas de que foi usado novitchok no envenenamento.

Durante a intervenção no tribunal, o maior opositor de Putin recordou que o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem decidiu que a sua condenação de 2014 (por lavagem de dinheiro) era ilegal e a Rússia pagou-lhe mesmo uma indemnização, em linha com essa decisão judicial internacional.
Ocidente exige libertação de Navalny
A decisão do Kremlin de sentenciar Navalny a três anos e meio de prisão foi tomada mesmo perante a condenação da União Europeia e dos EUA. Duas dezenas de representantes das embaixadas ocidentais estiveram presentes no julgamento, mas a sua comparência também não foi tomada em consideração.

Os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França foram os primeiros países ocidentais a reagir à confirmação de uma pena de prisão para o opositor russo Alexei Navalny, e exigiram em uníssono a sua “libertação imediata”.

Em Washington, a diplomacia dos Estados Unidos manifestou “profunda preocupação” após a condenação de Navalny e apelou à Rússia que garanta a sua libertação “imediata e sem condições”.

“Apesar de trabalharmos com a Rússia na defesa dos interesses dos Estados Unidos, vamos coordenar-nos estreitamente com os nossos aliados e parceiros para que a Rússia preste contas por não ter respeitado os direitos dos seus cidadãos”, indiciou em comunicado o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.

“À semelhança de qualquer cidadão russo, Navalny deve usufruir os direitos garantidos pela Constituição russa”, disse.

“Reiteramos o nosso apelo ao Governo russo para que liberte imediatamente e sem condições Navalny e ainda as centenas de outros cidadãos russos injustamente detidos nas últimas semanas por terem simplesmente exercido os seus direitos, nomeadamente o direito à liberdade de expressão e de reunião pacífica”, acrescentou.

Em Londres, o Governo britânico também apelou à “libertação imediata e sem condições” e denunciou uma decisão “perversa” da justiça russa.

“O Reino Unido apela à libertação imediata e sem condições de Alexei Navalny e de todos os manifestantes pacíficos e jornalistas detidos nas duas últimas semanas”, declarou em comunicado o chefe da diplomacia Dominic Raab, ao considerar que a decisão “perversa” da justiça russa demonstra que o país não preenche “os compromissos mais elementares aguardados por qualquer membro responsável da comunidade internacional”.

Em Berlim, Heiko Maas, ministro dos Negócios Estrangeiros do Executivo da chanceler Angela Merkel, também se pronunciou pela “libertação imediata” do opositor e definiu a pena infligida como um “golpe severo” contra o Estado de direito na Rússia.

“O veredicto contra Alexei Navalny está muito longe das regras do Estado de Direito. Navalny tem de ser libertado imediatamente. A violência contra os manifestantes pacíficos tem de parar”, instou Merkel através de uma mensagem publicada na rede social Twitter pelo porta-voz da chanceler, Steffen Seibert.

O Presidente francês Emmanuel Macron também se associou aos protestos ocidentais e emitiu um comunicado oficial no Twitter onde considera “inaceitável” a condenação e pede da “libertação imediata” de Navalny.

“A condenação de Alexei Navalny é inaceitável. Um desacordo político nunca é um crime. Apelamos à sua libertação imediata. O respeito dos direitos humanos como o da liberdade democrática não são negociáveis”, reagiu Macron.

Bruxelas também se uniu a favor da liberdade de Navalny.
A presidente da Comissão Europeia pediu à Rússia para cumprir os compromissos internacionais e libertar de forma “imediata e incondicional” o opositor russo. Ursula von der Leyen diz que a condenação é “feita nos termos mais fortes possíveis”.

c/ agências
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