Rússia quer garantias legais para pôr fim à guerra na Ucrânia

A Rússia, no âmbito das suas propostas de paz, quer mecanismos juridicamente vinculativos para garantir que o conflito na Ucrânia não é retomado, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros, segundo avançou esta quinta-feira a agência de notícias estatal TASS.

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Alexander Kazakov - Pool via Reuters

O Ministério afirmou que Kiev estava ciente da posição de Moscovo de que um “acordo final e sustentável” só será possível se as "causas-raízes" do conflito fossem completamente eliminadas, informou a agência.

“Precisamos de acordos e mecanismos confiáveis e juridicamente vinculativos que garantam os interesses nacionais, incluindo a segurança e a prevenção de crises", explicou Tatyana Dovgalenko, chefe do Departamento de Parceria com África no Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia.

A Rússia está a preparar um memorando com o objetivo de delinear as suas condições para alcançar um acordo de paz duradouro na Ucrânia. Na quarta-feira, Moscovo disse estar pronto a apresentar este documento na próxima segunda-feira, 2 de junho.

“O lado russo, conforme acordado, elaborou prontamente um memorando relevante, que expõe a nossa posição sobre todos os aspetos para superar de forma fiável as causas profundas da crise”, declarou Sergei Lavrov, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros.

Para apresentar este memorando, a Rússia propôs à Ucrânia a realização de uma segunda ronda de negociações diretas em Istambul, na Turquia, na próxima segunda-feira, depois de ter rejeitado uma proposta do presidente ucraniano para uma reunião tripartida Trump-Putin-Zelensky.

"A nossa delegação, liderada por (Vladimir) Medinsky, está pronta para apresentar este memorando à delegação ucraniana e fornecer as explicações necessárias durante uma segunda ronda de negociações diretas, que serão retomadas em Istambul a 2 de junho", anunciou Lavrov.
Kiev exige ver memorando antecipadamente
Em resposta, Kiev declarou-se disposta a participar em discussões mais diretas com a Rússia na segunda-feira, em Istambul, mas exige que Moscovo apresente antecipadamente as suas condições para a paz.

“Não nos opomos a novas reuniões com os russos e aguardamos o seu memorando”, declarou na rede social X o ministro ucraniano da Defesa, Rustem Umerov, argumentando que “a parte russa ainda tem pelo menos quatro dias antes da sua partida [para Istambul] para nos fornecer o seu documento para análise”.

Vladimir Medinsky liderou a delegação russa durante as negociações de 16 de maio, também em Istambul. Estas foram as primeiras conversações de paz diretas entre Kiev e Moscovo desde as da primavera de 2022, no início do ataque em grande escala da Rússia à Ucrânia. Estas negociações na Turquia não resultaram num avanço na procura de uma solução diplomática para o conflito, mas ambos os lados comprometeram-se com uma troca de prisioneiros de magnitude sem precedentes, concluída no fim de semana passado.

Por enquanto, as posições oficiais das duas partes parecem difíceis de conciliar: a Rússia exige que a Ucrânia renuncie definitivamente à adesão à NATO e ceda as cinco regiões que alega ter anexado, o que é inaceitável para as autoridades ucranianas.


Na quarta-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de estar a prolongar o processo de paz e de não querer travar a sua ofensiva. "Procurarão constantemente desculpas para não terminar a guerra", disse Zelensky numa conferência de imprensa em Berlim, ao lado do chanceler alemão, Friedrich Merz.

Enquanto isso, Moscovo e Kiev continuam numa intensa troca de ataques com drones. Na última noite, a defesa aérea russa disse ter abatido 48 drones, incluindo 30 na região de Belgorod.

A Rússia acusou na terça-feira a Ucrânia de estar a intensificar os ataques aéreos "com o objetivo de travar o processo de negociação" entre os dois países.

Na semana passada, a Rússia lançou um ataque maciço com drones contra várias cidades ucranianas, provocando pelo menos 12 mortos. Segundo o presidente ucraniano, Moscovo lançou mais de 900 drones entre sábado e segunda-feira, sendo já considerado um dos maiores ataques deste tipo desde que Moscovo iniciou a guerra em grande escala, no início de 2022. O ataque levou o presidente norte-americano, Donald Trump, a acusar o seu homólogo russo, Vladimir Putin, de estar “absolutamente louco”.

c/ agências
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