São já centenas os cristãos raptados na Síria

As aldeias do centro de Hassajeh, uma província do norte da Síria que tem fronteiras com a Turquia e o Iraque, estão sob ataque do grupo Estado Islâmico desde segunda-feira, com centenas de cristãos assírios a serem levados por militantes islamitas. Não se sabe onde estão nem o que pretende o grupo islamita com estes raptos em massa.

Graça Andrade Ramos, RTP /
Combatentes cristãos da Agência Siríaca de segurança em Tel Tamr, nordeste da Síria, onde combatem o Estado Islâmico junto das milícias curdas do YPG Rodi Said/Reuters

Também não se sabe exatamente quantos cristãos foram levados, apenas que foram centenas e incluíam idosos, mulheres e crianças. As suas casas e igrejas foram incendiadas e destruídas.
Um responsável da Organização Democrática Assíria, Younan Talia, fala em pelo menos 33 aldeias assírias atacadas e em mais de 300 cristãos raptados. Os números são impossíveis de confirmar e o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), que acompanha a violência dos últimos três anos na Síria, refere 220 pessoas. No início da semana sabia-se do rapto de 90 cristãos assírios.

O local para onde terão sido levados os cristãos é igualmente objeto de controvérsia.

Um grupo ativista assírio, a Rede Assíria para os Direitos Humanos na Síria, assim como a agência oficial síria de notícias, Sanaa, dizem que os cristãos estão retidos em Shaddadeh, uma cidade sobretudo árabe, controlada pelo Estado Islâmico. Mas o OSDH diz que foram levados para o Monte Abdulaziz.

Aqueles que tentaram falar para os telemóveis dos raptado são atendidos por militantes do Estado Islâmico que ameaçam enviar-lhes a cabeça do seu familiar.
Combates por Hassakeh
A província de Hassakeh é o mais recente campo de batalha do Estado Islâmico na Síria. A região é predominantemente curda mas inclui populações árabes e, sobretudo, comunidades de assírios cujas raízes na região remontam à Mesopotâmia. Existem igualmente comunidades arménias.

Desde domingo que se sucedem os combates entre curdos e islamitas, pelo controlo da província. Os raptos dos cristãos poderão servir o duplo objetivo de futura troca de prisioneiros e de retaliação do Estado Islâmico contra o Conselho Militar Siríaco ou Agência Siríaca de Segurança. Os cristãos poderão também servir de escudos humanos.

Entre 22 e 24 de fevereiro as Unidades de Proteção Popular (YPG) as forças armadas curdas locais, apoiadas pelo Conselho Militar Siríaco ou Agência Siríaca de Segurança, lançaram uma ofensiva contra Tel Hamis, um bastião do EI no extremo nordeste da Síria, perto de Qamishli.

Tomaram igualmente 30 aldeias levando à fuga das populações para o interior de Hassakeh.

Dia 23 de fevereiro os islamitas retaliaram e bombardearam as posições do YPG na cidade de Tel Tamr, a noroeste da cidade de Hasaka.



Pelo menos 35 militantes islamitas e 25 combatentes curdos e assírios morreram nos combates dos ultimos três dias.
Cortes de abastecimentos
Depois de Tel Tamr, os islamitas ocuparam 11 comunidades cristãs assírias vizinhas, concentradas no vale do rio Khabur, raptando 90 pessoas e provocando um êxodo em massa. Cerca de 1.000 famílias, 5.000 pessoas refugiaram-se nas maiores cidades da região, muitas só com a roupa que tinham em cima do do corpo.

"Os combates começaram as 04h00 da madrugada. Estivemos sete horas a ouvir os bombardeamentos e o barulho das armas automaticas, antes de nos decidirmos a fugir", contou Danny Jano de 35 anos, à Agência France Presse. Finalmente, ele, a mulher e as duas filhas deixaram a sua casa vestidos apenas de pijama, ao saber que os jihadistas se aproximavam.

Nos dias seguintes seguiram-se outras aldeias assírias ao longo do mesmo rio, a norte da cidade de Hasaka. Os habitantes que não fugiram foram igualmente raptados pelo EI.

De acordo com analistas, com a nova ofensiva o grupo Estado Islâmico procura também cortar linhas de abastecimento curdas, aproveitando um abrandamento da defesa curda da província de Ayn al Aran/Kobani, que os islamitas não conseguiram conquistar apesar de cinco meses de combates ferozes.

O controlo de Tel Tamr cortaria a principal via de ligação entre as cidades de Hasaka, no centro da província de Hassakeh, e de Ras al-Ayn, na fronteira com a Turquia, debilitando os abastecimentos e movimentos das forças curdas.

O Conselho de Segurança da ONU condenou os ataques aos civis e os raptos, intimando à libertação dos cristãos e de todos os detidos pelo Estado Islâmico. Os Estados Unidos condenaram também os raptos e a destruição das aldeias.
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