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"Seriam mais felizes". Trump quer palestinianos permanentemente fora de Gaza

por Graça Andrade Ramos - RTP
Donald Trump recebe Benjamin Netanyahu na Casa Branca a 4 de fevereiro de 2025 Leah Millis - Reuters

O primeiro-ministro de Israel tornou-se esta terça-feira o primeiro líder mundial a visitar a Casa Branca desde a tomada de posse do segundo mandato de Donald Trump. Em pano de fundo, o cessar-fogo na Faixa de Gaza e os planos norte-americanos para o enclave, assim como a ameaça nuclear do Irão.

Ao lado do primeiro-ministro israelita, respondendo aos jornalistas, Trump repetiu esta terça-feira a ideia de deslocalização do povo de Gaza, para países vizinhos, de forma a facilitar a limpeza da área, destruída em grande parte pelos bombardeamentos e combates ocorridos desde outubro de 2023, e repetindo que o enclave é uma zona "de demolição". 

Uma proposta avançada em janeiro e logo rejeitada, entre outros, pela Jordânia e pelo Egito, aliados dos EUA na região. Trump mostrou-se hoje convicto de que sua ideia irá ser aceite.

"Penso que a Jordânia e o Egito, dizem que não vão aceitar, mas eu digo que irão. Mas penso que outros países também irão aceitar". "Se olharem para Gaza quase nenhum edifício está de pé e os que ainda estão de pé estão quase a cair. Não se pode viver em Gaza neste momento", acrescentou Trump, opinando que as pessoas devem ir para locais "onde podem ser felizes". Em Gaza "há décadas que é tudo morte", referiu, certo de que o povo de Gaza quer sair de lá.

"Reassentar permanentemente em boas casa onde podem ser felizes e não ser alvejados, não ser mortos", exemplificou, "numa área bonita fora de Gaza onde possam ser felizes", afirmou.

Antes de se reunir com Netanyahu, Trump repetira o seu apelo aos Estados Árabes para receberem os palestinianos de Gaza, referindo ainda que a Arábia Saudita não tem pedido o estabelecimento de um Estado palestiniano, apesar do reino muçulmano ter diversas vezes expressado o seu apoio à iniciativa de Paz Árabe, que condiciona o reconhecimento de Israel ao estabelecimento de um Estado palestiniano.

Um alto responsável do Hamas reagiu de imediato a estas ideias, considerando-as "racistas" e "uma receita para criar o caos e agravar a tensão" no Médio Oriente.

"A nossa população na Faixa de Gaza não irá deixar que estes planos sejam aprovados, o que é exigido é o fim da ocupação e agressão contra o nosso povo, não a expulsão da sua terra", afirmou Sami Abu Zuhri em comunicado. 
O "líder certo"
Sobre as negociações de tréguas, que entraram na segunda fase esta terça-feira, Donald Trump afirmou que "toda a gente está a pedir uma coisa, e sabem o que é, paz".

Perante os repórteres e ao lado do primeiro-ministro israelita, o presidente americano deixou palavras de encorajamento. "Ele também quer a paz".


"Estamos a lidar com um grupo de pessoas muito complexo, situação e pessoas, mas temos o homem certo" afirmou. "Temos o líder de Israel certo. Tem estado a fazer um ótimo trabalho e somos amigos há muito tempo". Questionado sobre se apoiaria um ataque preventivo de Israel ao Irão para impedir Teerão de obter armas nucleares, Trump respondeu simplesmente "vamos ver o que sucede".

Se Donald Trump tem pressionado pelo fim do conflito o mais rapidamente possível, Netanyahu está sob fogo político interno, com os membros mais radicais do seu gabinete a exigir pelo contrário o prolongamento das hostilidades para por fim definitivo ao Hamas.
Cumprir os objetivos
Ao lado de Trump, e quando questionado sobre os seu compromissos com o regresso a casa dos reféns israelitas detido em Gaza pelo Hamas, Netanyahu reiterou por isso os seus planos para conseguir todos os objetivos israelitas em Gaza.

"Apoio retirar de lá todos os reféns e cumprir todos os nossos objetivos de guerra", afirmou. "Isso inclui destruir as capacidades militares e governamentais do Hamas e garantir que Gaza não é uma ameaça para Israel".

Netanyahyu acrescentou "vamos ver" quando interrogado sobre o seu otimismo sobre a passagem à segunda fase de negociações.

"É uma das coisas que vamos discutir. Quando Israel e os EUA trabalham juntos e o presidente Trump e eu trabalhamos juntos, as probabilidades aumentam muito", opinou.
Segunda fase a caminho

O encontro entre Trump e Netanyahu ocorreu horas depois do Hamas ter anunciado o início das negociações para a segunda fase das tréguas, que começaram a ser aplicadas a 19 de janeiro, após oito meses de negociações.

"Os contactos e as negociações para a segunda fase começaram", indicou em comunicado Abdel Latif al-Qanou, um dos porta-vozes do movimento islamita palestiniano.

Israel deverá enviar uma delegação ao Qatar "no fim-de-semana" para participar nos contactos, acrescentou. O assunto foi discutido por Netanyahu segunda-feira, quando se reuniu com altos responsáveis norte-americanos em Washington. 

O acordo de tréguas inclui três fases e impôs o cessar dos combates no território palestiniano após 15 meses de guerra.

A primeira fase, já em curso, tem prazo previsto de seis semanas e deverá permitir a libertação de 33 reféns em troca de mais de 1.900 palestinianos detidos por Israel e o reforço da ajuda humanitária ao enclave palestiniano.

A segunda fase tem como objetivo a libertação dos últimos reféns e o fim definitivo das hostilidades, sob termos a negociar a partir desta terça-feira.


Uma terceira fase, ainda incerta, deverá definir os termos da reconstrução da Faixa de Gaza e da sua governação no futuro.
Irão pressionado

Para a Administração Trump, este foi também o dia propício para anunciar o regresso da política de "pressão máxima" sobre o Irão, com o objetivo de evitar que o regime dos ayatolas consiga enriquecer urânio a níveis capazes de produzir uma bomba nuclear.

O presidente Donald Trump, assinou o memorando presidencial momentos antes de se reunir com Netanyahu.

Ao assinar o documento, o presidente norte-americano descreveu-o como muito duro e assumiu estar dividido sobre o regresso da "pressão máxima", referindo esperar que seja possível chegar a um acordo com Teerão. Donald Trump afirmou que estaria disposto a reunir-se com o homólogo iraniano.

Numa alocução a partir da Sala Oval, na Casa Branca, afirmou que o Irão não pode ter uma arma nuclear e que os EUA têm todo o direito de impedir a venda de petróleo iraniano a outras nações.

Entre outras coisas, o memorando presidencial ordena ao secretário do Tesouro dos EUA que imponha "pressão económica máxima" ao Irão, incluindo sanções e mecanismos de aplicação daqueles que violam as sanções existentes.

com Lusa
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