Sérvia "orgulhosa" após votação da ONU que "não conseguiu estigmatizar" o seu povo
O Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, afirmou que a sua nação está "orgulhosa" após a Assembleia geral da ONU ter aprovado por maioria simples e numerosas abstenções a declaração do Dia Internacional em Memória do Genocídio de Srebrenica.
"Somos uma nação orgulhosa de representar o povo dos valentes (...) e quem queria estigmatizar o povo sérvio não o conseguiu nem o conseguirá", afirmou após a votação de um texto promovido pela Alemanha e Ruanda.
A resolução prevê que se assinale anualmente, em 11 de julho, o Dia Internacional em Memória do Genocídio de Srebrenica, e foi aprovada em votação na Assembleia geral por 84 votos a favor, 19 contra e 68 abstenções.
Em julho de 1995, a cinco meses do final da guerra civil iniciada na Bósnia-Herzegovina durante a primavera de 1992, cerca de 7.500 homens e rapazes muçulmanos bósnios em idade de combater foram mortos na sequência do assalto militar das forças sérvias bósnias a este enclave do oeste.
As forças sérvias enviaram as mulheres, crianças e idosos para as regiões controladas pelos bosníacos (muçulmanos bósnios), e indicaram que a maioria das vítimas foi morta em combate quando milhares de detidos, muitos deles armados, escaparam dos centros de detenção em Srebrenica e tentaram romper as linhas sérvias em direção a territórios controlados pela Armija, o seu Exército. Muitos terão sido executados sumariamente.
"Qual era o objetivo desta resolução? Atribuir a culpa a uma parte, ao povo da Sérvia e à Republika Srpska [RS, a entidade sérvia da Bósnia-Herzegovina]. Francamente, e falando de legitimidade, isto fracassou", assinalou Vucic no seu discurso final perante o organismo multilateral.
No entanto, admitiu "os terríveis erros e terríveis crimes cometidos por alguns compatriotas" no decurso da guerra civil bósnia (1992-1995) e disse estar comprometido em "manter a paz, a estabilidade e a credibilidade" nas suas relações com a minoria bosníaca (muçulmana) em território sérvio.
O chefe do Executivo sérvio tinha advertido perante a Assembleia geral, pouco antes da votação, que o reconhecimento desta efeméride "abriria a caixa de Pandora" e implicaria "uma divisão e crise regional" nos Balcãs.
Em paralelo, o presidente da Republika Srpska, Milorad Dodik, tinha vindo a indicar nos últimos dias que, em caso de aprovação da resolução, proclamaria a independência da entidade e a sua adesão à Sérvia, uma decisão que provavelmente voltará a adiar.
Em 2004, o extinto Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ), uma instância judicial `ad hoc` da ONU com sede em Haia, determinou que os crimes cometidos em Srebrenica em julho de 1995 constituíam genocídio, uma deliberação apoiada pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), o principal órgão judicial das Nações Unidas, em 2007.
"O Tribunal estabeleceu para além de qualquer dúvida razoável que a morte de 7.000 a 8.000 prisioneiros muçulmanos bósnios foi genocídio", anunciou na ocasião o TPIJ.
Posteriormente, a justiça internacional condenou diversos altos responsáveis sérvios bósnios, incluindo os líderes político e militar, Radovan Karadzic e Ratko Mladic, ambos a cumprir prisão perpétua.
Entre os patrocinadores da resolução constam os Estados Unidos e Reino Unido, juntamente com muitos países da União Europeia (UE) e da Organização de Cooperação Islâmica (OCI), para além de todos os países que integravam a ex-Jugoslávia, à exceção da Sérvia e da Republika Srpska (RS).
No rescaldo da votação, Belgrado também se terá congratulado pelo facto de os votos contra e as abstenções superarem os votos a favor da iniciativa avançada por Berlim e Kigali.