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Solar Orbiter descola para capturar os pólos do Sol

por RTP
O lançamento, na noite de domingo, da sonda da ESA e da NASA "Solar Orbiter" Joe Skipper - Reuters

A Solar Orbiter, uma sonda da Agência Espacial Europeia (ESA) e da NASA, foi lançada para o espaço na noite de domingo. Esta é uma missão sem precedentes. Visa capturar as primeiras fotografias dos incontáveis pólos do Sol. Os cientistas esperam compreender melhor o que impulsiona o comportamento dinâmico da estrela.

A sonda de 1,5 mil milhões de euros irá juntar-se à Parker Solar Probe, da NASA, lançada há um ano e meio atrás. Embora a Solar Orbiter (SolO) não chegue perto o suficiente para entrar na atmosfera exterior, vai mover-se numa órbita que a levará pelos dois pólos. Algo nunca antes fotografado. As fotografias vão ser captadas através de aberturas que têm de ser fechadas após a captação de dados. Isto vai impedir que os componentes internos derretam.


A SolO será posicionada numa rota que a levará periodicamente até 42 milhões de quilómetros da superfície do Sol. Esta distância fica mais próxima do que mercúrio, onde as temperaturas são elevadas. Para resistir, a sonda terá de trabalhar protegida por um escudo de titânio.

"Tivemos de desenvolver novas tecnologias para garantir que a nave espacial pudesse sobreviver a temperaturas de até 600° Celsius", afirmou Michelle Sprake, engenheira de sistemas da fabricante aeroespacial europeia Airbus, acrescentando que "um dos revestimentos que garante que a nave não fique muito quente é feito de ossos de animais cozidos".


A sonda possui seis sensores de imagem e quatro instrumentos no local. Este último irá mostrar o gás excitado (plasma) e os campos magnéticos enquanto se afastam do sol.

"A Solar Orbiter tem tudo a ver com a conexão entre o que acontece no Sol e o que acontece no espaço", explicou o professor Tim Horbury, do Imperial College de Londres, citado pela BBC.

Horbury referiu ainda que precisam de se “aproximar do Sol para observar uma região de origem e medir as partículas e os campos que saem dela. É essa combinação, mais a órbita única, que torna o Solar Orbiter tão poderoso no estudo de como o Sol funciona e afeta o sistema solar".

Esta órbita única vai levar a sonda para fora do plano dos planetas, de modo a observar os pólos do Sol.

"Ainda não temos uma compreensão detalhada do porquê de o Sol ter um ciclo de 11 anos durante o qual a atividade sobe e desce", disse Lucie Green, da University College London.

A professora acrescentou que "faltam observações que impedem de saber quais as teorias que estão corretas e essas observações perdidas são as que nunca se fizeram sobre os pólos".Ao todo, mais de uma dúzia de naves espaciais estudaram o Sol nos últimos 30 anos. Só agora a tecnologia permite que naves espaciais elaboradas como a Parker e a Solar Orbiter se aproximem sem derreterem.

O que os investigadores vão observar não podem dizer com certeza. Contudo, a expectativa é que a SolO detete sinais de quando a atividade solar estiver prestes a mudar.

"Acreditamos que veremos indicações do próximo ciclo nas regiões polares", especulou o cientista do projeto da Esa, Dr. Daniel Müller. "Essas são pequenas concentrações de campo magnético".

A sonda US-European Ulysses, lançada em 1990, sobrevoou os pólos do Sol. Porém, de lugares mais distantes e sem câmaras a bordo. Está em silêncio há mais de uma década. A sonda Soho da Europa e da NASA, lançada em 1995, ainda está a enviar dados sobre energia solar.
Paulo Rolão, Cláudio Calhau - RTP

A missão será controlada pelo Centro Europeu de Operações Espaciais, em Darmstadt, na Alemanha. Após o lançamento, a equipa realizará três meses de testes para garantir que os sistemas estejam a operar corretamente antes de ligar os instrumentos.
Escudo térmico em titânio

A abordagem mais próxima da sonda ocorrerá a cada seis meses, quando a Solar Orbiter estiver mais próxima do Sol do que Mercúrio, a 42 milhões de quilómetros.

Com um escudo térmico de titânio projetado de forma personalizada, este é projetado para suportar temperaturas de até 500 graus Celsius (930 Fahrenheit). A estrutura resistente ao calor é revestida por uma fina camada preta de fosfato de cálcio, um pó semelhante ao carvão vegetal -  algo parecido com os pigmentos utilizados nas pinturas rupestres pré-históricas.


O escudo vai proteger os instrumentos da radiação extrema de partículas emitida por explosões solares. Todos os telescópios da sonda, com a exceção de um, vão aparecer através de buracos no escudo térmico que se abrem e fecham.

Os cientistas acreditam que os pólos do Sol podem ser a chave para entender o que impulsiona a sua atividade magnética. A cada 11 anos, estes oscilam: o norte vira-se para o sul e vice-versa; pouco antes de isto ocorrer, a atividade solar aumenta, enviando explosões de material solar para o espaço.

A Solar Orbiter observará a superfície à medida que explode e registará as medições conforme o material que passa pela nave.
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