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"Somos todos Gisèle". Milhares de manifestantes em Paris em apoio a vítimas de abusos

por RTP
Foto: Teresa Suarez - EPA

Milhares de pessoas manifestaram este sábado, em Paris, o seu apoio a Gisèle Pelicot, mulher que foi violada dezenas de vezes quando estava sob efeito de drogas. Os protestos estendem-se a todo o país e também se solidarizam com todas as vítimas de violação.

As manifestações ocorrem numa altura decisiva de um julgamento que está a chocar a França. Dominique Pelicot é acusado de ter drogado a mulher, Gisèle Pelicot, durante quase dez anos, e de ter convidado pelo menos 50 homens através da internet para a violarem, entre 2011 e 2020.

O julgamento decorre em Vaucluse, em Avignon. Iniciou-se a 2 de setembro, quatro anos depois dos abusos terem sido descobertos pela polícia.

Gisèle Pelicot, de 71 anos, já testemunhou em tribunal e aceitou que o seu nome fosse divulgado publicamente, insistindo mesmo que o julgamento decorresse à porta aberta.

Gisèle diz ter tomado tais decisões em solidariedade para com outras mulheres que não são reconhecidas como vítimas de crimes sexuais. A sua coragem tem sido elogiada por vários quadrantes da sociedade francesa.

Este sábado, milhares de pessoas juntaram-se em protesto em Paris, na Place de la République. “Já não estás sozinha” e “somos todos Gisèle” ou “que a vergonha mude de lado” foram algumas das palavras de ordem. Outras cidades francesas, como Marselha e Rennes, também tiveram manifestações de solidariedade este sábado.

“Exigiu uma enorme coragem, mas foi fundamental. Permitiu ver o rosto do marido mas também de todos os outros, ver que não eram marginais mas sim ‘bons pais de família’”, sublinhou à agência France Presse Justine Imbert, uma das manifestantes que participou no protesto em Marselha com a filha de seis anos.

Em declarações à agência Lusa, Célia Lévy, uma mulher de 71 anos que participou no protesto em Paris, elogiou a "mulher corajosa" e assinalou que, em França, "há 210 mil violações e tentativas de violação a cada ano".

"Isso quer dizer que há uma violação ou tentativa de violação a cada dois minutos e 30 segundos" e "menos de um por cento dos violadores são condenados", afirmou.

"Este caso foi como um grande choque: as pessoas perceberam que os violadores são homens comuns" e que nenhum dos acusados denunciou a situação ou ajudou a vítima, destacou Sophie, outra manifestante.

(com agências)
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