Supostos terroristas raptam três camponeses em Cabo Delgado
Pelo menos três pessoas foram raptadas na manhã de quarta-feira por supostos terroristas no distrito de Metuge, a cerca de 50 quilómetros da cidade de Pemba, na província moçambicana de Cabo Delgado, disseram hoje à Lusa fontes locais.
Segundo as fontes, as vítimas, camponeses locais, foram raptados quando tentavam atravessar um riacho, nas matas de Matemo, a caminho dos seus campos agrícolas.
"Iam para as suas machambas (campos agrícolas) e daí encontraram terroristas num riacho", relatou, a partir de Metuge, um familiar de uma das vítimas.
A fonte acrescentou que após terem sido levados pelos insurgentes, os camponeses foram obrigados a ligar para os familiares para darem a conhecer que tinham sido raptados pelos terroristas.
"O meu sobrinho ligou-me dizendo que estava junto com outras duas pessoas e caíram nas mãos dos terroristas, mas daí não sei se ainda vivem ou não", acrescentou.
Os familiares desconhecem a situação das vítimas e pediram ajuda das autoridades para tentar localizá-los.
"Não sabemos do seu paradeiro, porque após a última chamada já não conseguimos mais falar com eles", disse outra fonte.
Devido à circulação de supostos terroristas na zona, camponeses de Nampipi, Matemo, Walopwana, Saure, Nacuta, em Metuge, abandonaram os seus campos agrícolas, receando novos ataques e violência.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.
Um levantamento da organização de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês), noticiado anteriormente pela Lusa, estima que a província moçambicana de Cabo Delgado registou, pelo menos, 12 eventos violentos entre 13 e 26 de outubro, essencialmente envolvendo extremistas ligados ao Estado Islâmico, provocando 18 mortos entre civis.
De acordo com o mais recente relatório da ACLED, dos 2.236 eventos violentos registados desde outubro de 2017, quando começou a insurgência armada em Cabo Delgado, um total de 2.061 envolveram elementos associados ao Estado Islâmico Moçambique (EIM).
Estes ataques provocaram em pouco mais de oito anos 6.659 mortos, refere o novo balanço, incluindo as 18 vítimas reportadas em menos de duas semanas em outubro.
O relatório da organização refere ainda que, neste período, Cabo Delgado "testemunhou um aumento na atividade insurgente", com elementos associados ao Estado Islâmico de Moçambique (EIM) a atacarem as forças de segurança nos distritos de Montepuez e Muidumbe, "provocando baixas".
"Os insurgentes também continuaram a matar civis nos distritos de Mocímboa da Praia, Muidumbe e Metuge. As operações do EIM foram agravadas por outros padrões de instabilidade, particularmente em torno de áreas de mineração em Montepuez", escreve a ACLED.
A organização aponta igualmente "o risco contínuo para as comunidades piscatórias", apanhadas em ataques de insurgentes e em ofensivas das autoridades contra os grupos terroristas. Além disso, a "dispersão da atividade" por Cabo Delgado "sugere" que estes grupos operam "em unidades dispersas", permitindo "aos insurgentes expandir as operações para além dos tradicionais redutos".