Suspeitos de assassínio de candidato presidencial no Equador são colombianos

por Cristina Sambado - RTP
Karen Toro - Reuters

As seis pessoas que foram detidas com ligação ao assassinato do candidato às eleições presidenciais no Equador Fernando Villavicencio são colombianas, avançou a polícia do país sul-americano.

O sétimo suspeito, que morreu na sequência de ferimentos num tiroteio com a polícia na quinta-feira, também era colombiano e tinha sido detido em julho por posse de armas. As autoridades equatorianas já tinham referido que vários homens participaram no assassínio de Villavicencio, que resultou ainda em pelo menos nove feridos, incluindo três polícias.

Os seis detidos foram identificados como Andres M., Jose N., Eddy G., Camilo R., Jules C. e John Rodríguez, revelou o ministro do Interior, Juan Zapata, em conferência de imprensa.

Segundo Zapata, está a decorrer uma investigação policial sobre o incidente que classifica como “acontecimento abominável”.

“Os agentes estão a trabalhar para descobrir o motivo do crime e os seus autores”, acrescentou o governante.

Durante a rusga policial que resultou na detenção dos seis colombianos, os agentes encontraram na posse do grupo uma espingarda, uma metralhadora, quatro pistolas, três granadas, quatros caixas de munições, duas motorizadas e em veículo que tinha sido dado como roubado.

O Ministério colombiano dos Negócios Estrangeiros sublinhou que está a aguardar a informação oficial sobre o ocorrido. Esta não é a primeira vez que cidadãos colombianos se envolvem em situações semelhantes em outros países.

As autoridades equatorianas também não confirmaram se os responsáveis pertencem a um dos gangues do crime organizado que operam no Equador.

Fernando Villavicencio, um acérrimo critico do crime organizado, foi um dos poucos candidatos à Presidência do Equador a falar em ligações entre a corrupção e os funcionários do governo.

Villavicencio, membro da Assembleia Nacional, já tinha recebido ameaças de um grupo que se intitulava Los Choneros no mês passado e desde aí tinha proteção policial.O envolvimento de cidadãos colombianos na morte de Villavicencio faz lembrar o assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moise, em 2021, que foi morto em casa por um grupo que incluía 26 colombianos e dois haitianos-americanos.

Após o assassinato do candidato, surgiu um vídeo nas redes sociais em que homens fortemente armados e usando balaclavas reivindicavam a autoria do crime. Os homens alegaram pertencer a Los Lobos, que são rivais de Los Choneros.

No entanto, horas mais tarde, apareceu outro vídeo na Internet, no qual outro grupo de homens - desta vez sem máscaras - afirmava ser membro de Los Lobos e negava qualquer papel no assassínio, alegando que o outro vídeo era uma tentativa dos seus rivais de os incriminar pelo assassínio.

O presidente do Equador, Guillermo Lasso, confirmou, através das redes sociais, a presença do FBI no seu país, acrescentando que solicitou aos Estados Unidos o apoio desta agência federal de investigação para esclarecer este crime.


A participação do FBI na investigação do assassinato faz parte da estreita relação que Estados Unidos e Equador construíram nos últimos dois anos, especialmente desde que Lasso chegou ao poder, com cooperação em diversos assuntos, inclusive segurança.

Para Guillermo Lasso, o assassinato foi uma tentativa de sabotar as eleições. No entanto, sublinhou que a votação vai decorrer como planeado a 20 de agosto, apesar do estado de emergência nacional.

As Forças Armadas equatorianas já estão a ser destacadas em todo o país, revelou o ministro da Defesa, garantindo que os militares “responderão com toda a força”.O Equador, um dos países dos Andes na América do Sul, era uma nação pacífica. No entanto, tem sido devastado pela chegada dos cartéis de droga internacionais que lucram com o aumento do tráfico de cocaína.

“É preciso entender que as máfias declararam guerra ao Equador e que o Estado e as Forças Armadas responderão com todas as suas forças para enfrentar os assassinos, os seus cúmplices, os que os financiam, os que os protegem”, assegurou Luis Lara Jaramillo, em declarações aos jornalistas.

Sem detalhar o número concreto de militares destacados, o ministro da Defesa frisou que haverá “presença das Forças Armadas em cada cidade e em cada freguesia até à conclusão do processo eleitoral”.
Movimiento Construye rejeita “aproveitamento político”

Na quinta-feira, o partido de Villavicencio, Movimiento Construye, rejeitou um “aproveitamento político” com a sua morte e apelou a uma rápida investigação.

O partido condenou um vídeo não verificado que circulou nas redes sociais, supostamente de um gangue chamado Los Lobos, reivindicando a responsabilidade pelo assassinato de Villavicencio, alegando que ele tinha recebido milhões de dólares deles para a sua campanha e ameaçando o candidato Jan Topic.

Nem a polícia nem o procurador-geral responderam a pedidos de comentários sobre a autenticidade ou a origem do vídeo, que mostra mais de uma dúzia de homens mascarados e vestidos de preto empunhando fuzis de alta potência.

O Movimiento Construye escreveu: "Aqueles que se sentam para negociar com mafiosos, aqueles que lhes dão microfones, aqueles que geram campanhas de medo com vídeos enganosos em nome de organizações criminosas e que tomam o nome de Fernando Villavicencio em vão com mentiras são responsáveis pelo crime."

Com o assassinato do seu líder, o Construye pode escolher outro candidato para concorrer às presidenciais. Mas nos boletins de voto, que já foram impressos e distribuídos, está o nome e a fotografia de Villavicencio.
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