Tensão com a China. Taiwan alarga serviço militar obrigatório

por Cristina Sambado - RTP
Taiwan intensificou o treino para reservistas e aumentou as compras de caças e mísseis antinavio para reforçar as suas defesas Reuters

Taiwan vai alargar o serviço militar obrigatório de quatro meses para um ano, numa altura em que aumenta a tensão com a China, anunciou a presidente Tsai Ing-wen.

A partir de 2024, os recrutas vão passar a ser submetidos a um treino mais intenso, incluindo exercícios de tiro e instrução de combate semelhante ao usado pelos militares norte-americanos, avançaram os meios de comunicação locais. O anúncio surge depois de na segunda-feira o Ministério da Defesa ter revelado que 71 aviões da aviação chinesa, cinco navios e drones tinham entrado na zona aérea da ilha – a maior incursão relatada até à data.

A ameaça da China tornou-se ainda mais grave desde os exercícios militares de agosto. Ninguém quer uma guerra. Mas, a paz não cairá do céu”, afirmou Tsai Ing-wen.

"O atual serviço militar de quatro meses não é suficiente para responder à situação em constante e rápida mudança", acrescentou a governante, em conferência de imprensa.

"Decidimos restaurar o serviço militar de um ano a partir de 2024", explicou, acrescentando que a reforma se vai aplicar a todos os homens nascidos após 1 de janeiro de 2005.

Segundo a presidente, “Taiwan encontra-se na linha da frente da defesa global da democracia contra a expansão autoritária”. A ilha de Taiwan, de 24 milhões de habitantes, vive sob a constante ameaça de uma invasão da China, que a considera parte do seu território, a ser reconquistada um dia, se necessário pela força.

Desde 2013, Taiwan exige aos homens com mais de 18 anos que sirvam durante quatro meses no exército, com as primeiras cinco semanas num campo de treino básico. O novo plano vai colocar os novos recrutas numa formação obrigatória básica de oito semanas.

Tsai considerou “extremamente difícil” a sua decisão de estender o serviço militar, mas a descreveu-a como destinada a “garantir o modo de vida democrático para nossas gerações futuras".

Taiwan tem vindo mudar gradualmente de uma força militar recrutada para uma força profissional dominada por voluntários. No entanto, a crescente assertividade da China em relação à ilha que reivindica como sua e a invasão russa da Ucrânia suscitaram um debate interno sobre a forma de impulsionar a defesa.

Para agradar aos eleitores mais jovens e durante um período de abrandamento das tensões entre Taipé e Pequim, os governos anteriores reduziram o serviço militar obrigatório de mais de dois anos para quatro meses. Taiwan intensificou o treino para reservistas e aumentou as compras de caças e mísseis antinavio para reforçar as suas defesas. Mas os especialistas dizem que tal não é suficiente.

Na sexta-feira, Tsai Ing-wen inaugurou novas instalações militares numa base militar na cidade de Kaohsiung, no sul da ilha, que oferece “um melhor ambiente para o pessoal militar”.

Os esforços de Taiwan para reforçar as forças de defesa aumentaram depois da visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Em resposta à visita de Pelosi, a China realizou imediatamente exercícios militares em torno de Taiwan.

No início deste mês, Joseph Wu, ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan, afirmou em entrevista ao Guardian que a ameaça militar chinesa estava “a tornar-se mais grave do que nunca”, com um aumento de cinco vezes nas incursões de aviões de guerra na zona de defesa da ilha desde 2020.

Segundo Wu, os exercícios militares após a visita de Nancy Pelosi tinham como objetivo afastar qualquer apoio a Taiwan. O motivo das tensões
O objetivo-chave do líder chinês Xi Jinping é a unificação. O Governo de Pequim afirma que Taiwan é uma província da China e não exclui a sua posse pela força.

No final da guerra civil chinesa, em 1949, o executivo derrotado do Kuomintang fugiu para Taiwan, estabelecendo o governo da República da China (ROC) no exílio. No continente, o Partido Comunista Chinês (PCC) estabeleceu a República Popular da China.

A partir dos anos 70, várias nações começaram a trocar laços formais do ROC para Pequim. Atualmente, menos 15 governos mundiais reconhecem Taiwan como um país.

O PCC nunca governou Taiwan e desde o fim da guerra que a ilha goza uma independência
. Desde que o período de vários anos de lei marcial terminou na década de 1980, Taiwan tornou-se uma democracia com eleições e meios de comunicação social livres.

Apesar da unificação desejada por Xi Jinping, a presidente da ilha afirmou que Taiwan é um país soberano sem necessidade de declarar independência. Pequim considera o governo democraticamente eleito como separatista.

Com o Governo de Xi, a agressão contra Taiwan aumentou e os analistas consideram que a ameaça de invasão está no ponto mais alto das últimas décadas.

Nos últimos anos, o Exército de Libertação Militar tem enviado centenas de aviões para a zona de identificação da defesa de Taiwan, como parte de atividades da “zona cinzenta”, que são de combate adjacente mas não atingem o limiar da guerra.


Taiwan está a modernizar o exército e a comprar meios militares e armas aos EUA, com a esperança de dissuadir Xi e o PCC da darem um passo para anexação da ilha.

Em caso de conflito, a ilha de Taiwan é largamente ultrapassada em termos de efetivos, com 88 mil soldados no exército, contra um milhão de Pequim, segundo estimativas do Pentágono. Pequim também tem uma vantagem considerável quando se trata de equipamento militar.

Tsai Ing-wen já afirmou que juntar-se à China não é aceitável para os taiwaneses.

c/ agências
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