Tensão comercial e guerra na Ucrânia marcam encontro entre Xi, Macron e Von der Leyen

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Gonzalo Fuentes - Reuters

O presidente chinês está a realizar uma visita à Europa, a primeira em cinco anos. Num encontro, esta segunda-feira, com o presidente francês e a presidente da Comissão Europeia, em França, Xi Jinping deixou apelos a Paris e à União Europeia para que reforcem a sua “coordenação estratégica” e permaneçam “parceiros”. Ursula von der Leyen, por sua vez, deixou aberta a possibilidade de afastar as desconfianças que marcam a relação entre os dois blocos, mas deixou também claro que a UE “não hesitará em tomar decisões firmes” para proteger a sua economia.

Cinco anos depois, Xi Jinping volta a visitar a Europa, a poucos meses de a União Europeia e a China comemoraram 50 anos de relações bilaterais.

Na sua primeira paragem neste périplo, em França, Xi Jinping esteve reunido com o seu homólogo francês, Emmanuel Macron, e com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.As questões comerciais e económicas dominaram a agenda deste encontro, numa altura de crescente tensão entre o bloco europeu e Pequim.


Num discurso no início do encontro no Palácio do Eliseu, Xi Jinping deixou apelos a Paris e à União Europeia para que reforcem a sua “coordenação estratégica” e permaneçam “parceiros” apesar das múltiplas disputas e divergências, que vão desde o comércio à guerra na Ucrânia.


"Como duas grandes potências mundiais, a China e a UE devem continuar a ser parceiras, continuar o diálogo e a cooperação, aprofundar a comunicação estratégica, aumentar a confiança mútua estratégica, consolidar o consenso estratégico e realizar a coordenação estratégica", disse Xi Jinping.

"Isto visa promover o desenvolvimento estável e saudável das relações China-UE e fazer continuamente novas contribuições para a paz e o desenvolvimento mundial", acrescentou.

Ursula von der Leyen, por sua vez, deixou aberta a possibilidade de afastar as desconfianças que marcam a relação entre os dois blocos, salientando que o “intercâmbio é crucial”.

“A União Europeia e a China querem boas relações. E dado o peso global da China, o nosso intercâmbio é crucial para garantir o respeito mútuo, evitar mal entendidos e encontrar soluções para os desafios globais”, disse Von der Leyen.

“Além disso, tanto a China como a União Europeia tem um interesse comum na paz e na segurança e no funcionamento efeito de uma ordem internacional baseada em regras”, acrescentou.

Apesar disso, a presidente da Comissão Europeia deixou claro que a UE “não hesitará em tomar decisões firmes” para proteger a sua economia e instou Xi Jinping a tomar medidas para controlar a superprodução de bens industriais chineses que inundam o mercado europeu.


“Uma China que joga limpo é boa para todos nós”, disse Von der Leyen após o encontro.

Emmanuel Macron apelou a regras comerciais “justas” e o ministro francês da Economia e Finanças pediu uma “parceria económica equilibrada e sólida” entre a França e a China, acrescentando que atualmente as duas potências estão “ainda longe desse equilíbrio”.

China rejeita problema de "excesso de capacidade" industrial
O presidente chinês, por sua vez, garantiu que "o chamado 'problema do excesso de capacidade da China' não existe".

Segundo um comunicado de imprensa da diplomacia chinesa, Xi Jinping explicou ao seu homólogo francês e à presidente da Comissão Europeia que “a nova indústria energética chinesa” tornou possível “aumentar a oferta global e aliviar a pressão da inflação global”.

“O chamado ‘problema de excesso de capacidade da China’ não existe, seja do ponto de vista da vantagem comparativa ou à luz da procura global”, argumentou.

A UE considera oficialmente a China um parceiro, mas também um concorrente e um rival sistémico.

As relações entre Pequim e Bruxelas tornaram-se significativamente tensas depois de a UE ter anunciado medidas de proteção contra práticas que considera injustas por parte de Pequim, nomeadamente a subvenção de certos setores cujos produtos inundam o mercado europeu, como os carros elétricos.


Em 2023, o bloco europeu abriu mesmo uma investigação sobre os subsídios chineses para carros elétricos. Mais recentemente foi também aberta uma investigação a suspeitas de comércio desleal de biocombustível proveniente da China no mercado único, com Bruxelas a impor medidas retaliatórias, como tarifas aduaneiras, caso se verifique ‘dumping’.

Estão ainda a ser analisados alegados subsídios ilegais a fabricantes chineses de turbinas eólicas em Espanha, Grécia, França, Roménia e Bulgária.
UE e França contam com a China para acabar com a guerra na Ucrânia
O papel de Bruxelas e Pequim nas guerras da Ucrânia e do Médio Oriente foi também abordado neste encontro em Paris.

A UE e França instaram Pequim a “usar toda a sua influência sobre a Rússia” para acabar com a guerra na Ucrânia, bem como a limitar a entrega de equipamento militar à Rússia.

"Contamos com a China para usar toda a sua influência sobre a Rússia para acabar com a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia", disse "Contamos com a China para usar toda a sua influência sobre a Rússia para acabar com a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia", disse Von der Leyen.

A presidente da Comissão Europeia disse estar “confiante” de que a China continuará a moderar as ameaças nucleares russas no contexto da guerra na Ucrânia.


“O presidente Xi desempenhou um papel importante na redução das ameaças nucleares irresponsáveis da Rússia e estou confiante de que continuará a fazê-lo”, disse Ursula von der Leyen no final do encontro.

Em resposta, Xi Jinping disse que a China sempre trabalhou “vigorosamente” para facilitar as negociações de paz na Ucrânia e disse estar disponível para trabalhar com a UE para apoiar “uma conferência de paz internacional mais ampla, confiável e eficaz” para resolver o conflito na Faixa de Gaza.

Depois da visita a França, Xi Jinping visitará a Hungria e a Sérvia, países europeus próximos da China e também do presidente russo, Vladimir Putin.

c/agências
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