Tensão em França. Centenas de pessoas nas cerimónias fúnebres de Nahel

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Mohammed Badra - EPA

Várias centenas de pessoas concentraram-se este sábado junto à Grande Mesquita de Nanterre, nos arredores de Paris, para participarem nas cerimónias fúnebres de Nahel, o jovem de 17 anos baleado pela polícia. Cerca de 1.300 pessoas foram detidas na quarta noite consecutiva de tumultos e o presidente francês foi obrigado a adiar a visita de Estado à Alemanha. O ministro francês da Justiça alertou que os jovens que participem nestas ações vão ser identificados e os pais podem incorrer em multas e até penas de prisão.

A partir das 13h00 deste sábado (12h00 em Lisboa), várias pessoas começaram a chegar à Grande Mesquita de Nanterre, nos arredores de Paris, para participaram no funeral de Nahel, o jovem de 17 anos que foi baleado pela polícia na terça-feira, gerando uma onda de violentos protestos no país.

No exterior da mesquita, centenas de habitantes, alguns com ramos de flores, vestiam t-shirts brancas, a exigir "justiça para Nahel".

Os funcionários da mesquita pediram para que não fossem captadas imagens com telemóveis. O mesmo alerta foi feito aos jornalistas.

Nahel Merzouk, um jovem de 17 anos de ascendência argelina e marroquina, foi morto na manhã de terça-feira em Nanterre por um polícia durante uma operação de trânsito, depois de alegadamente desobedecer a uma ordem para parar o veículo que estava a conduzir.
O homicídio do jovem gerou uma onda de violentos protestos. Segundo o Ministério do Interior do país, 1.311 pessoas foram detidas entre sexta-feira e sábado, em comparação com 875 na noite anterior, embora tenha salientado que a violência nesta quarta noite de protestos foi “de menor intensidade”. Do total dos detidos, um terço são jovens com menos de 18 anos.

Mais de 200 agentes ficaram feridos e cerca de 2.000 veículos foram incendiados desde o início dos distúrbios
, acrescentou o ministro do Interior, Gerald Darmanin.

O Governo destacou 45 mil polícias e vários veículos blindados durante a noite para combater a pior crise enfrentada pela sua liderança desde os protestos dos "coletes amarelos", que paralisaram grande parte da França no final de 2018.
Reforço da polícia
Na sexta-feira, as câmaras de várias cidades francesas, como Marselha, Lyon e Bordéus, proibiram a realização de manifestações. No entanto, a medida não foi capaz de travar os protestos.

Entre as 1.300 pessoas detidas, 80 são de Marselha, a segunda maior cidade do sul de França que acolhe várias pessoas de ascendência norte-africana.
Segundo as autoridades, três polícias ficaram com ferimentos ligeiros este sábado.

Em Lyon, a terceira maior cidade francesa, a polícia mobilizou veículos blindados e um helicóptero. Para a noite deste sábado foi acionado um reforço da polícia para as cidades de Marselha e Lyon, à medida que crescem os temores de uma quinta noite de violentos protestos.

A região parisiense não foi poupada, com três cidades próximas da capital a decidirem impor o recolher obrigatório, tal como outras cidades das províncias. Em Paris, os manifestantes foram expulsos da Place de la Concorde.
Macron adia visita de Estado à Alemanha
A instabilidade em França levou o presidente Emanuel Macron a adiar a visita de Estado à Alemanha, que devia ter início este domingo.

A assessoria de imprensa da presidência alemã emitiu um comunicado este sábado onde informa que Macron conversou com o seu homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeier, por telefone onde o informou sobre a “situação no seu país”.

Na sexta-feira, o Governo alemão expressou “preocupação” com a agitação que se vive em França.


Nesse mesmo dia, Macron abandonou a cimeira da UE em Bruxelas mais cedo para participar na segunda reunião do gabinete de crise.
Pais podem incorrer em multas e penas de prisão
No final da reunião de crise do seu Governo, o presidente francês lançou um apelo aos pais para que assumam responsabilidades na vaga de confrontos que envolve jovens em França e anunciou que vários eventos vão ser anulados e que as redes sociais vão ser vigiadas e fiscalizadas, com pedidos de identificação das pessoas que estão a organizar as manifestações.

Este sábado, o ministro francês da Justiça defendeu que é essencial que a calma regresse às ruas do país, apesar das emoções que considera legítimas provocadas pela morte do jovem Nael.

Eric Dupond-Moretti avisou também que os jovens que participem nestas ações vão ser identificados e os pais podem incorrer em multas e até penas de prisão.
“Parece-me essencial recordar que os pais que não se interessem pelos filhos, que os deixam andar por aí de noite, sabendo para onde vão, quando têm 13 ou 14 anos, incorrem em dois anos de prisão efetiva e 30 mil euros de multa”, anunciou.

Dupond-Moretti instou os jovens a permanecerem em casa e alertou que “se publicarem coisas no Snapchat vão pagar por isso, serão encontrados e sancionados”.

c/ agências
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