Tensão na Casa Branca. Trump confronta Ramaphosa com "genocídio branco" na África do Sul

A Sala Oval voltou a ser palco de um momento tenso entre Donald Trump e um líder internacional. O presidente dos Estados Unidos recebeu na quarta-feira o homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa, para lhe mostrar imagens que disse comprovarem a existência de um genocídio branco nesse país.

Joana Raposo Santos - RTP /
Trump mostrou a Ramaphosa artigos sobre mortes de agricultores brancos e alegados roubos de terras por parte do Governo sul-africano. Foto: Kevin Lamarque - Reuters

Durante o encontro, um dos jornalistas perguntou a Donald Trump o que seria necessário para o convencer que as acusações de "genocídio branco" na África do Sul são falsas. Ramaphosa respondeu primeiro, dizendo que o presidente norte-americano teria de "ouvir as vozes dos sul-africanos" sobre a questão.

Nesse momento, Trump pediu a um assistente que "baixasse as luzes" e ligasse a televisão para poder mostrar ao líder sul-africano "algumas coisas". As imagens exibidas no ecrã mostravam políticos sul-africanos que não fazem parte do Governo a entoar a canção anti-apartheid "Morte ao Agricultor".

De seguida, o presidente dos Estados Unidos mostrou a Ramaphosa folhas de papel com artigos sobre espancamentos e assassinatos de agricultores brancos e alegados roubos de terras por parte do Governo sul-africano.

“Estão a roubar a terra das pessoas e, em muitos casos, essas pessoas estão a ser executadas. E acontece serem brancas, e a maioria são agricultores”, apontou Trump.

O presidente da África do Sul negou as acusações e disse, em tom calmo, que o seu país aprendeu com Nelson Mandela que “quando há problemas, as pessoas devem sentar-se à mesa e discutir o assunto”.

Ramaphosa foi, aliás, preparado para a reunião com Trump, fazendo-se acompanhar de uma delegação que incluía dois golfistas sul-africanos brancos, Ernie Els e Retief Goosen. O presidente norte-americano é conhecido pela paixão pelo golfe.

Esteve também presente o ministro sul-africano da Agricultura, igualmente branco, que garantiu que os agricultores não querem deixar o país, apesar de reconhecer a existência de alguns problemas.

“Como ministro da Agricultura, insisto com os meus colegas da Polícia e da Justiça para que façam dos ataques e roubos a agricultores uma prioridade”, assegurou. EUA deram estatuto de refugiado a grupo de sul-africanos
Em meados do mês de maio, a Administração Trump recebeu em Washington um grupo de 59 cidadãos sul-africanos brancos para lhes conceder o estatuto de refugiados, considerando-os vítimas de "genocídio" e "discriminação racial".

"Estão a ser mortos agricultores, que por acaso são brancos, mas o facto de serem brancos ou negros não me faz diferença", assegurou Donald Trump, justificando assim a exceção aberta para o acolhimento destas pessoas numa altura em que todas as outras admissões de refugiados, incluindo os candidatos provenientes de zonas de guerra, estão suspensas.O Governo sul-africano garantiu então que o grupo de cidadãos não estava a sofrer qualquer perseguição que justificasse o estatuto de refugiado.

Apesar de Cyril Ramaphosa ter assinado, no início deste ano, uma lei controversa que permite a apreensão de terras sem indemnização, a lei ainda não foi implementada. Além disso, o presidente sul-africano distanciou-se publicamente da linguagem utilizada nos discursos políticos apresentados por Donald Trump no encontro na Casa Branca.

O momento tenso na Sala Oval foi presenciado por Elon Musk, braço direito de Donald Trump e nascido na África do Sul. Também ele chegou a afirmar anteriormente que existe um "genocídio de pessoas brancas" nesse país e acusou o Governo de aprovar "leis de propriedade racistas".

O destrato ao presidente da África do Sul acontece depois de, em fevereiro, Donald Trump ter protagonizado outro momento polémico na Sala Oval ao receber o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o ter humilhado publicamente.

c/ agências
PUB