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Terrorismo, a palavra-chave no regresso à campanha britânica

por Carlos Santos Neves - RTP
O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, estabeleceu um nexo entre a política externa do Governo de Theresa May e o recrudescimento do terrorismo em território britânico Darren Staples - Reuters

Foi retomada esta sexta-feira a campanha das eleições gerais no Reino Unido, antecipadas para 8 de junho. Com as ondas de choque do atentado de Manchester convertidas em argumentos de combate partidário. Debaixo de críticas está a conservadora Theresa May, primeira-ministra cessante. Os trabalhistas já vieram estabelecer um nexo entre a atual política externa do país e o recrudescimento do terrorismo. Posição que o Governo considera “absolutamente monstruosa”.

Quatro dias após o atentado suicida na Arena de Manchester, que causou 22 mortes e ferimentos a 116 pessoas, terminou a trégua entre os contendores políticos do Reino Unido. Desde logo entre os conservadores e o Partido Trabalhista.
O atentado da noite de segunda-feira em Manchester, no termo de um concerto da cantora norte-americana Ariana Grande, foi reivindicado pelo Estado Islâmico.

Jeremy Corbyn associou a política externa britânica à agudização do extremismo de matriz islamita no seu país, de novo sob alerta máximo de contraterrorismo.

Aludindo ao envolvimento britânico nas operações militares ocidentais no Iraque, no Afeganistão e na Síria, o líder do principal partido da oposição quis mesmo prometer aos eleitores que uma vitória do Labour a 8 de junho significará uma mudança naquilo que o país “faz no estrangeiro”.

Outra das frases mais sonoras no regresso dos trabalhistas à campanha: “A guerra contra o terrorismo simplesmente não funciona”.

“Um entendimento informado das causas do terrorismo é parte essencial de uma resposta eficaz que proteja a segurança do nosso povo, que combata o terrorismo ao invés de o alimentar”, sustentou Jeremy Corbyn.

“Muitos peritos, incluindo profissionais dos serviços secretos, apontaram as ligações entre guerras em que estivemos envolvidos, ou que apoiámos, noutros países e o terrorismo aqui em casa. Esta avaliação não reduz de forma alguma a culpa daqueles que atacaram as Segundo o Instituto de Estudos Fiscais, um centro de reflexão independente, o número de polícias recuou em cerca de 14 por cento, ou 20 mil agentes, entre 2009 e 2016; o poder executivo está nas mãos dos conservadores desde 2010.
nossas crianças”, continuou.

“A culpa é dos terroristas, mas se queremos proteger o nosso povo temos de ser honestos sobre aquilo que ameaça a nossa segurança”, insistiu.

Na quinta-feira fora Suzanne Evans, vice-presidente do Ukip, a acusar a primeira-ministra de ser “em parte responsável” pelos acontecimentos de Manchester - por causa dos cortes no financiamento das forças de segurança enquanto Theresa May foi ministra do Interior, de 2010 a 2016.

Horas depois, o atual líder do partido nacionalista que encabeçou a campanha pelo Brexit, Paul Nuttall, diria “tender a concordar” com Corbyn no que toca à ligação entre a política externa e o aumento da ameaça terrorista.

As palavras de Jeremy Corbyn mereceram entretanto uma reação por parte do ministro britânico dos Negócios Estrangeiros. Boris Johnson considerou “absolutamente monstruoso” que o líder do Partido Trabalhista tenha procurado “justificar” atos terroristas.

Também o líder do Lib Dem (liberais democratas), Tim Farrow, veio acusar Corbyn de querer capitalizar o “grotesco” atentado de Manchester para “fazer passar um argumento político”.

“Discordo sobretudo de que esta seja a altura para o dizer. Isso não é liderança, é pôr a política à frente das pessoas num momento de tragédia”, frisou.
“Inexplicável”

Ao lado do secretário de Estado norte-americano Rex Tillerson, durante uma conferência de imprensa conjunta em Londres, Boris Johnson afirmou que “este não é o momento para fazer algo que subtraia à responsabilidade fundamental daqueles indivíduos, daquele indivíduo em particular que cometeu esta atrocidade”.

“Devo dizer que considero absolutamente extraordinário e inexplicável, nesta semana de todas as semanas, que haja qualquer tentativa de justificar ou legitimar as ações de terroristas desta forma”, acentuou o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros.



Por sua vez, o ministro da Defesa, Michael Fallon, defendeu que o combate ao terrorismo deve combinar uma postura “dura” no Reino Unido, mediante legislação apropriada e o reforço da esfera de atuação das forças de segurança, e ações militares sempre que se conclua “haver ataques planeados contra o país”.

Em visita-relâmpago à capital britânica, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos quis declarar-se confiante” na “relação especial” entre os dois países.

Tillerson mostrou-se igualmente convicto de que britânicos e norte-americanos “ultrapassarão sem qualquer dúvida” o incidente “particularmente infeliz” das fugas de informação sobre o inquérito da polícia de Manchester. Um abalo que levou mesmo as autoridades britânicas a fecharem a torneira da partilha de dados com Washington.

Na sequência do atentado de segunda-feira, a polícia britânica deteve já 11 suspeitos. As investigações assentam na tese de uma rede jihadista a operar em Manchester.
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