Tonga. Vapor de água libertado por erupção de vulcão poderia encher 58 mil piscinas olímpicas

por Joana Raposo Santos - RTP
O vulcão subaquático Hunga Tonga, a cerca de 65 quilómetros da capital de Tonga, entrou em erupção a 15 de janeiro deste ano. Foto: Facebook Tonga Geological Services

Cinquenta e oito mil piscinas olímpicas. É este o espaço que a erupção do vulcão em Tonga, país da Oceânia, conseguiria encher com a quantidade de vapor de água que libertou desde 15 janeiro, quando teve início. Cientistas continuam a tentar decifrar o que provocou este fenómeno, cujas consequências são ainda incertas. Entre elas poderá estar um aumento temporário da temperatura terrestre e a destruição parcial da camada protetora de ozono.

Foi uma das mais poderosas erupções vulcânicas do planeta e libertou tanto vapor de água para a atmosfera que poderá aquecer temporariamente a superfície da Terra, de acordo com dados recolhidos por um satélite da NASA.

O vulcão submarino Hunga Tonga, a cerca de 65 quilómetros da capital de Tonga, entrou em erupção a 15 de janeiro deste ano, originando um tsunami e ondas de choque que se sentiram por duas vezes em várias partes do mundo.

A erupção lançou ainda uma alta nuvem de vapor de água para a estratosfera, camada situada entre 12 a 53 quilómetros acima da superfície terrestre. Segundo a NASA, essa quantidade de água permitiria encher 58 mil piscinas olímpicas.

O cálculo foi feito a partir dos dados recolhidos pelo Microwave Limb Sounder (MLS), uma sirene de micro-ondas que está no satélite Aura, da NASA. Este satélite é usado para medir, precisamente, vapor de água, ozono e outros gases atmosféricos. “O MLS é o único instrumento com cobertura suficiente para capturar a nuvem de vapor de água enquanto esta acontecia, e o único que não foi afetado pelas cinzas libertadas pelo vulcão”, explicou o especialista Luis Millán, citado pela CNN Internacional.

Os cientistas que acompanham as medições ficaram surpreendidos ao ver as leituras depois da erupção do Hunga Tonga, que libertou 146 teragramas de água para a estratosfera – o equivalente a dez por cento da água já presente nessa que é a segunda maior camada da atmosfera terrestre. Um teragrama equivale a um bilião de gramas.

Para comparação, os cientistas explicam que este valor foi quatro vezes superior ao da quantidade de vapor de água que alcançou a estratosfera depois da erupção do Monte Pinatubo, vulcão nas Filipinas, em 1991.

O fenómeno deste ano motivou um estudo, publicado em julho na revista Geophysical Research Letters. “Nunca vimos algo deste género antes”, disse em comunicado o cientista atmosférico da NASA e autor do estudo, Luis Millán. “Tivemos de inspecionar cuidadosamente todas as medições da nuvem de vapor de água para garantir que eram fiáveis”.
Erupção pode aquecer superfície da Terra
O satélite Aura, da NASA, foi lançado em 2004. Desde então, apenas tinha medido o vapor de água libertado por duas erupções vulcânicas, pois foram as que lançaram esse vapor mais alto na atmosfera: a do vulcão Kasatochi, no Alasca, em 2008; e a do Calbuco, no Chile, sete anos depois. No entanto, o vapor dessas duas erupções dissipou-se com rapidez, ao contrário do que se verificou agora.

Habitualmente, as erupções vulcânicas mais poderosas – como a do Monte Pinatubo, nas Filipinas, ou a do Krakatoa, na Indonésia – arrefecem a temperatura da superfície terrestre porque o gás, a poeira e as cinzas que expelem refletem a luz do sol.

Mas, com o Hunga Tonga, a situação foi diferente. O vapor de água que a erupção enviou para a atmosfera consegue reter o calor, o que pode dar origem a temperaturas mais quentes à superfície. Além disso, o excesso de vapor de água pode permanecer na estratosfera por vários anos, de acordo com os especialistas.

Esse mesmo excesso pode levar também a reações químicas que contribuem temporariamente para a redução da camada protetora de ozono da Terra, que filtra a radiação solar ultravioleta.

Os cientistas referem, no entanto, que este aquecimento deverá ser pequeno e temporário, dissipando-se conforme o excesso de vapor for diminuindo. Assim sendo, as condições já existentes devido à crise climática não deverão ser substancialmente agravadas por este fenómeno.
Explicação pode estar na profundidade da caldeira
Especialistas e investigadores continuam a tentar perceber por que razão foi tão elevada a quantidade de vapor de água libertada na erupção do Hunga Tonga.

A teoria que consideram mais plausível tem a ver com a profundidade da caldeira (estrutura de colapso que se forma no centro de um vulcão), situada 150 metros abaixo da superfície do oceano.

Se a caldeira estivesse numa zona mais funda, a própria profundidade do oceano teria silenciado a erupção. E, se estivesse mais à superfície, a quantidade de água do mar aquecida pelo magma (material rochoso que se transforma em lava) não corresponderia aos níveis de vapor que alcançaram a estratosfera.
pub