Tóquio2020. Diretor da cerimónia de abertura demite-se após piada sobre o Holocausto

por Andreia Martins - RTP
Hiroshi Sasaki, diretor criativo dos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020, exibe um retrato do diretor da cerimónia de abertura das Olimpíadas, Kentaro Kobayashi, durante uma conferência de imprensa em dezembro de 2019. Reuters

A pouco mais de um dia da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, o diretor da cerimónia de abertura, Kentaro Kobayashi, foi afastado. Em causa está um vídeo de 1998 que ressurgiu online com uma piada do comediante japonês sobre o Holocausto. Esta é a mais recente polémica na longa lista de desaires que estão a marcar a prova ainda antes de esta ter começado.

É a mais recente controvérsia a envolver o maior certame desportivo do mundo, quando faltam poucas horas para o arranque oficial. Kentaro Kobayashi, responsável pela cerimónia de abertura, foi afastado devido a uma piada que fez no final dos anos 1990.

A destituição do entertainer surge depois do reaparecimento de um vídeo de 1998 com uma sátira em que abordava o Holocausto. “Vamos brincar ao massacre de judeus”, afirmava, provocando risos na plateia.

O sketch foi gravado quando Kentaro Kobayashi integrava os Rahmens, um grupo de comédia. No vídeo, a dupla cómica fazia uma paródia sobre um programa educacional televisivo popular no Japão.

Num comunicado publicado pelo jornal japonês Yomiuri Shimbun, o comediante pede desculpa e mostra arrependimento: “Nunca deveria ser trabalho de um artista deixar as pessoas desconfortáveis”, afirmou.
Kobayashi explicou que, na altura, enquanto jovem comediante, era comum tentar “piadas de mau gosto”, mas reconheceu-se como culpado.

“Percebo que a minha escolha de palavras naquela altura tenha sido errada e arrependo-me disso. Quero desculpar-me por ter deixado as pessoas desconfortáveis. Sinto muito”, acrescentou ainda.

O comité responsável pela organização dos Jogos Olímpicos confirmou nas últimas horas que afastou Kentaro Kobayashi das suas funções.

“No curto espaço de tempo que falta para a cerimónia de abertura, pedimos nossas mais profundas desculpas por qualquer ofensa e angústia que este assunto possa ter causado a todos os envolvidos nos Jogos Olímpicos, bem como aos cidadãos do Japão e do mundo”, lê-se no comunicado.

Seiko Hashimoto, chefe do comité de organização, desculpou-se por mais esta polémica a envolver os preparativos dos Jogos Olímpicos, admitindo que “ainda estão a considerar” de que forma vai decorrer a cerimónia de abertura.
Uma longa lista de problemas

A cerimónia está marcada para esta sexta-feira a partir das 20h00 locais (12h00 em Lisboa). Na história dos Jogos Olímpicos, este costuma ser um momento grandioso e definidor da prova, com o hastear das bandeiras e o desfile dos atletas participantes, mas também com um espetáculo artístico que mostra ao mundo a cultura e a história da nação anfitriã.

No entanto, devido às restrições deste ano, o evento deverá contar apenas com 950 convidados, em que apenas deverão estar presentes cerca de 15 líderes mundiais.

A demissão de Kentaro Kobayashi vem acrescentar mais uma polémica a uma competição que decorre num contexto disruptivo devido à pandemia de Covid-19, com forte oposição por parte da opinião pública japonesa ao longo dos últimos meses: a maioria continua a defender o adiamento ou mesmo o cancelamento dos jogos.

Apesar do controlo apertado por parte da organização à medida que as delegações vão chegando à aldeia olímpica, nada parece estar a correr bem aos nipónicos: até ao momento, pelo menos 91 pessoas envolvidas na prova, incluindo atletas, testaram positivo ao novo coronavírus.

Para além do contexto pandémico, outras polémicas, escândalos e reveses estão a marcar o evento. Há dois dias, o compositor Keigo Oyamada abandonou a equipa da cerimónia de abertura depois de terem sido revelados episódios de bullying contra colegas de escola com deficiências.

Antes, em março, o antigo presidente do Comité Organizador dos jogos, Yoshiro Mori, abandonou o cargo depois de ter feito comentários sexistas. Já o ex-diretor criativo, Hiroshi Sasaki, renunciou ao cargo depois de ter sugerido que uma atriz se vestisse de porco na cerimónia de abertura. 

Entretanto, na segunda-feira, um dos maiores patrocinadores dos Jogos Olímpicos, a Toyota, anunciou que não vai fazer anúncios televisivos relacionados com a competição. Os principais executivos da gigante fabricante de automóveis anunciaram também que não vão marcar presença na cerimónia de abertura.

Quem também não deverá estar presente é o ex-primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. De acordo com a imprensa japonesa, o antigo governante - uma das principais figuras que impulsionou a organização da prova no país - decidiu que não irá comparecer depois de o Governo japonês ter declarado o estado de emergência e a imposição de novas restrições em Tóquio devido à pandemia.
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