Três mortos em ataque terrorista a aldeia em Cabo Delgado

Dois paramilitares `naparamas` e um popular foram mortos por alegados terroristas na aldeia de Nankumi, distrito de Ancuabe, província moçambicana de Cabo Delgado, disseram hoje à Lusa fontes da comunidade.

Lusa /

O ataque aconteceu na noite de quinta-feira, a cerca de cinco quilómetros da localidade de Sunate (Silva Macua), e culminou com a morte das três pessoas, após a invasão da comunidade pelos rebeldes, relataram as fontes.

"Mataram três pessoas, dois `naparamas`, sendo um comandante e um civil", disse uma fonte a partir de Silva Macua.

Acrescentou que, os corpos dos `naparamas` foram encontrados no mesmo dia, a escassos quilómetros da aldeia, e na sexta-feira foi encontrado o terceiro corpo.

Localizada ao longo da estrada Nacional 1, a aldeia de Nankumi acolhe deslocados da insurgência que afeta Cabo Delgado desde 2017, tendo esta incursão precipitado a fuga de famílias para a localidade de Silva Macua.

"Fugiram todos de Nankumi para Silva Macua, é triste, mas os terroristas continuam a circular", lamentou outra fonte.

Elementos associados ao grupo extremista Estado Islâmico reivindicaram hoje novos ataques nos distritos de Ancuabe e Balama, com pelo menos uma pessoa decapitada, num momento de crescente violência e milhares de deslocados naquela província moçambicana.

A reivindicação, feita através dos canais de propaganda do Estado Islâmico (EI), refere que uma aldeia de Ancuabe foi atacada na sexta-feira, com os rebeldes a afirmarem que "capturaram um elemento das milícias locais", depois "decapitado".

No dia anterior, mas no distrito de Balama, os insurgentes, alegadamente pertencentes ao grupo Ahlu-Sunnah wal Jama`a (ASWJ), associado ao Estado Islâmico, reivindicam ter incendiado a casa de um "comandante das milícias" locais, numa aparente referência aos guerrilheiros `naparamas`, que também combatem estes grupos.

Outras reivindicações dos últimos dias, confirmadas por fontes locais da Igreja Católica, apontam para casas e igrejas incendiadas em vários pontos de Cabo Delgado, desde o final de julho, incluindo a decapitação de vários "cristãos" entre a população.

Os `naparamas` são paramilitares moçambicanos que surgiram na década de 1980, durante a guerra civil, aliando conhecimentos tradicionais e elementos místicos no combate aos inimigos, atuando em comunidade. Em Cabo Delgado, estas milícias apoiam as Forças de Defesa e Segurança (FDS) no combate aos extremistas que atuam localmente desde 2017 e já provocaram mais de um milhão de deslocados em toda a província.

Mais de 57 mil pessoas foram deslocadas desde 20 de julho na província moçambicana de Cabo Delgado após o recrudescimento de ataques de extremistas, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

De acordo com o mais recente relatório da OIM, com dados de 20 de julho a 03 de agosto, "a escalada de ataques e o crescente medo de violência" por parte de grupos armados não estatais nos distritos de Muidumbe, Ancuabe e Chiúre, "levaram ao deslocamento de aproximadamente 57.034 indivíduos", num total de 13.343 famílias.

Incluem-se 490 grávidas, 1.077 idosos, 191 pessoas com problemas de mobilidade e 126 crianças separadas dos pais, que chegam a andar mais de 50 quilómetros, pela mata, noite e dia, sobretudo em direção à sede do distrito de Chiúre, no sul da província de Cabo Delgado.

Trata-se do maior pico de deslocados por ataques, com destino a Chiúre sede em cerca de um ano.

O ministro da Defesa Nacional admitiu no final de julho preocupação com a onda de novos ataques em Cabo Delgado, adiantando que as forças de defesa estão no terreno a perseguir os rebeldes armados.

"Como força de segurança não estamos satisfeitos com o estado atual, tendo em conta que os terroristas nos últimos dias tiveram acesso às zonas mais distantes do centro de gravidade que nós assinalámos", disse o ministro Cristóvão Chume, aos jornalistas.

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