Trump aceita manter tropas dos EUA na Síria mais algum tempo

por Graça Andrade Ramos - RTP
Donald Trump na Casa Branca dia 3 de abril de 2018 Reuters

Donald Trump concordou esta quarta-feira em prolongar a presença das tropas norte-americanas na Síria, mas insistiu junto dos responsáveis norte-americanos pelo dossier que esse período seja breve.

Apesar de nunca ter definido um calendário preciso, o Presidente dos Estados Unidos tinha anunciado a saída das tropas dos EUA presentes na Síria a breve prazo. "Quero trazê-las de volta a casa", afirmou.

Agora terá concordado, durante uma reunião do Conselho de Segurança Nacional, com a necessidade de as manter por lá mais algum tempo.

Aparentemente, Trump acatou a opinião dos especialistas que aconselharam a manutenção da presença norte-americana no país enquanto a "estabilização" não estiver assegurada.

"Não vamos retirar imediatamente mas o Presidente também não está disposto a um compromisso de longo prazo", explicou um alto responsável da Administração esta quarta-feira.

Afirma também que os EUA contam manter-se a par e dizer uma palavra sobre o futuro do país.

Trump quer garantir a derrota dos militantes do grupo islamita Estado Islâmico, mas também quer que outros países da região e as Nações Unidas se cheguem à frente e ajudem a garantir a estabilidade, referiu o mesmo responsável, citado pela agência Reuters.
Delegar o esforço de guerra
A Casa Branca afirmou depois que os EUA estão confiantes que os seus parceiros estão decididos a erradicar o Estado Islâmico na Síria, missão que, antecipa, está a "terminar rapidamente", de acordo com um comunicado.

Também esta quarta-feira, esse compromisso foi assumido, num telefonema, pelos Presidentes dos EUA e de França. De acordo com o Eliseu, Donald Trump e Emmanuel Macron afirmaram-se "decididos a prosseguir a luta anti-jihadista".

Trump já mencionou também várias vezes a necessidade dos países árabes ricos da região assumirem um papel mais interventivo na estabilização da Síria, enviando mesmo as suas próprias tropas.

Em janeiro de 2018, o então secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, entretanto afastado, defendia a manutenção a médio longo-prazo das tropas americanas na Síria, sublinhando ser preciso contrariar a influência iraniana e expulsar o Presidente Bashar al-Assad.

Hoje, soube-se que Trump decidiu prolongar um pouco o prazo que preferia para a retirada. Mas continua sem haver datas precisas.
"Quero trazê-las para casa"
A Administração norte-americana tem um contingente de cerca de dois mil soldados na Síria para combater os jihadistas do grupo Estado Islâmico. Nos últimos dias, o Presidente exprimiu várias vezes o seu desejo de um regresso rápido dos seus soldados.

Ainda terça-feira, Donald Trump foi claro. "Conseguimos em grande medida vencer o Estado Islâmico", afirmou, "mas por vezes é tempo de regressar a casa. E estamos a pensar nisso muito seriamente". "Quero trazer as nossas tropas de volta a casa", insistiu, prometendo uma decisão "muito em breve", em coordenação com os aliados norte-americanos.

De acordo com o Washington Post, Donald Trump pediu nesse mesmo dia aos chefes das forças norte-americanas para começarem a preparar a retirada, sem fixar uma data.

A coberto de anonimato, um alto responsável citado pelo jornal afirmou que, numa reunião terça-feira sobre o assunto, o Presidente concordou em manter as tropas americanas na Síria apenas para treinar as forças locais, de forma a garantir a segurança nas zonas tomadas ao Estado Islâmico, mas sem extravasar essa missão.

"Vai ser feita em breve uma declaração sobre a decisão que foi tomada", prometeu depois Dan Coats, diretor dos serviços de Informação norte-americanos, após a reunião terça-feira na Casa Branca sobre este dossier, onde "toda a gente marcou presença". Foi "tomada uma decisão importante" revelou, sem contudo entrar em pormenores.
Nova fase no conflito
O conflito sírio começa a entrar numa nova fase, agora que, no terreno, as operações militares parecem perder fôlego. Prova disso é a reunião tripartida e ao mais alto-nível, entre os Presidentes da Turquia, da Rússia e do Irão, em Ancara, esta quarta-feira, coincidindo com o anúncio da retirada a breve prazo dos norte-americanos.

Uma decisão que, nas palavras do Presidente iraniano, Hassan Rouhani, prova que "os Estados Unidos falharam no derrube do Governo sírio" do Presidente Bashar al-Assad, depois do exército sírio e os seus aliados terem vencido os seus opositores armados.

"Eles queriam alimentar a insegurança de modo a garantir os seus próprios interesses mas não conseguiram ter sucesso", afirmou Rouhani em conferência de imprensa após a reunião com o Presidente turco Reccep Tayyip Erdogan e o Presidente russo Vladimir Putin.

Os três concordaram em trabalhar juntos para estabilizar a Síria, apesar de se oporem no terreno. A Turquia apoia de forma mais ou menos discreta a oposição armada e política a Assad, enquanto que a Rússia e o Irão foram essenciais para a manutenção do Governo sírio.
Combates acalmam no terreno
A presença norte-americana no terreno fez-se sob o pretexto de luta contra os islamitas do Estado Islâmico. A influência do grupo é agora mínima depois de ter perdido as áreas geográficas que conquistara na Síria e no Iraque.

O exército sírio apoiado pela Rússia e pelo Irão, expulsou por seu lado até março último vários grupos islamitas armados - considerados rebeldes pelo Ocidente por se oporem a Assad - das cidades de Aleppo, de Ghouta oriental perto de Damasco e de outros grandes centros urbanos, garantindo uma acalmia nos combates.

Ancara está a por fim ao domínio das milícias curdas-sírias junto à fonteira norte da Síria com a Turquia, sem que Damasco levante um dedo para o impedir, apesar da invasão do seu território. Até porque a Turquia só avançou nesta ofensiva com o consentimento russo.

Com a aproximação turca a Moscovo e a reunião desta quarta-feira em Ancara, a par da retirada norte-americana, começaram a ser estabelecidas as primeiras linhas de uma possível solução para a Síria.

As batalhas e as escaramuças - agora provavelmente e sobretudo políticas e diplomáticas - seguem dentro de momentos.
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