Trump disposto a manter paralisação governamental por "meses ou anos"

por Andreia Martins - RTP
Jim Young - Reuters

A reunião desta sexta-feira entre o Presidente dos Estados Unidos e os congressistas democratas não pôs fim ao impasse que levou à paralisação parcial dos serviços do Governo federal norte-americano. O shutdown já dura há duas semanas e Donald Trump afirmou neste encontro que está disposto a manter o finca pé sobre o muro na fronteira com o México por tempo indeterminado.

Um dia depois da tomada de posse do novo Congresso norte-americano, continua longe de terminar o braço de ferro entre republicanos e democratas. Num encontro na Casa Branca entre Donald Trump e Nancy Pelosi, a democrata que foi escolhida na quinta-feira como líder da Câmara dos Representantes, e ainda Chuck Schumer, líder democrata no Senado, não foi possível chegar a um acordo para o fim do shutdown.

Esta paralisação da administração federal norte-americana está em vigor desde 22 de dezembro e deve-se à rejeição por parte do Capitólio em dar aval ao financiamento para a construção de um muro na fronteira com o México, um investimento na ordem dos 5,6 mil milhões de dólares (cerca de 4,9 mil milhões de euros).

A nova speaker da Câmara dos Representantes disse mesmo na quinta-feira que daria apenas "um dólar” para um projeto que considera “imoral”. 

Por sua vez, o Presidente norte-americano recusa-se a assinar qualquer lei orçamental provisória caso esta não inclua a verba para a barreira fronteiriça entre os dois países. Aliás, a construção do muro foi uma das maiores bandeiras da campanha eleitoral.  

De acordo com uma sondagem da Reuters/Ipsos realizada na semana passada, 50 por cento dos inquiridos culpam Donald Trump por esta paralisação governamental, contra 32 por cento, que culpam os democratas.
Estado de emergência?
Donald Trump descreve o encontro desta sexta-feira como “produtivo”, sendo que os democratas preferiram destacar “momentos contenciosos” da reunião.

“Dissemos ao Presidente que precisamos deste Governo ativo. Mas ele resistiu. Na verdade, ele disse que está disposto a manter o Governo parado por um longo período, por meses ou até mesmo anos”, disse o líder democrata no Senado, Chuck Schumer.  

Este encerramento parcial do Governo federal leva ao encerramento de vários gabinetes e agências, situação que já deixou cerca de 800 mil funcionários norte-americanos em licença sem vencimento. Nos serviços considerados essenciais, os trabalhadores são forçados a trabalhar sem qualquer remuneração.

A paralisação atingiu, até agora, alguns Departamentos nevrálgicos para o funcionamento regular do Governo, como o da Justiça, Comércio, Agricultura, Trabalho, Interior e do Tesouro.

Após a reunião, Trump afirmou que não irá dar ordem de reabertura das várias agências federais até que consiga garantir "segurança fronteiriça" para o país. As conversações entre republicanos e democratas para a resolução deste impasse prosseguem nos próximos dias.
 
Questionado pelos jornalistas se admite declarar uma situação de emergência nacional de forma a passar por cima do Congresso e construir o muro, Donald Trump não descarta essa hipótese.

“Sim, posso fazê-lo. Podemos convocar uma situação de emergência nacional e construir [o muro] rapidamente”, afirmou o Presidente norte-americano.

Em reação a esta ameaça velada, os democratas consideram que tal ação seria “legalmente duvidosa”, uma vez que a invocação do estado de emergência serve geralmente num contexto de guerra ou de ataque direto contra os Estados Unidos.

Esta foi a primeira reunião entre Donald Trump e os dois líderes democratas desde a tomada de posse do 116º Congresso norte-americano, procedente das eleições intercalares nos Estados Unidos, em novembro último.  

O escrutínio ditou um novo equilíbrio de poderes em Washington que poderá dificultar a reta final do mandato de Donald Trump, uma vez que os republicanos perderam controlo absoluto do Capitólio ao cederem a maioria da Câmara dos Representantes aos democratas.

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