Turquia reforça vigilância nas fonteiras com a Síria

por Graça Andrade Ramos, RTP
Tayyp Erdogan disse a Damasco para ter cuidado com a "fúria turca" Cem Ozdel/EPA

Ancara mudou as regras de confronto com a Síria, reagindo ao abate de um avião de caça turco, na sexta-feira passada. No Parlamento, o primeiro ministro Tayyp Erdogan anunciou que deu ordem às tropas de fronteira para reagirem a qualquer ameaça vinda do lado sírio.

"Todos os elementos militares que se aproximem da Turquia pela fronteira síria e representem um risco de segurança e perigo, serão tratados como uma ameaça militar e tratados como alvos militares", afirmou Erdogan.

A Síria tornou-se agora uma "ameaça aberta" à Turquia acrescentou Erdogan. Mas e apesar de elevar o nível de alerta nas fronteiras, Erdogan sublinhou que o seu país não tem intenções bélicas para com a Síria.

Deixou contudo um aviso.

"A nossa resposta racional não deve ser tomada por fraqueza, as nossas boas maneiras não significam que somos um cordeirinho", afirmou o primeiro ministro turco numa audição com o grupo parlamentar do seu partido, o AK.

"Todos devem saber que a fúria turca é tão forte e devastadora como a sua amizade é de prezar", acrescentou Erdogan.Fronteira de passagem
Antigos aliados além de vizinhos, Turquia e Síria ficaram de costas voltadas após o início da revolta síria contra o Presidente Bashar al-Assad. A Turquia quer que Assad deixe o poder, como forma de resolver a crise.

Desde o início dos protestos pacíficos severamente reprimidos pelo regime, em março de 2011, a fronteira entre os dois países tem sido regularmente atravessada, por população que procura na Turquia refúgio dos combates e por rebeldes sírios que contrabandeiam pessoas, armas e abastecimentos.

Milhares de soldados e oficiais que desertam do exército sírio procuram igualmente a Turquia. O mais recente grupo atravessou a fronteira na madrugada de segunda-feira e compunha-se de 33 militares e suas famílias, incluindo, segundo algumas fontes, um general.Nato atenta, Rússia reage
A Turquia pediu uma reunião da NATO por se sentir ameaçada pelo abate do seu caça. Hoje, os países da Aliança condenaram a Síria e garantiram que irão manter-se atentos a qualquer ameaça e preparados para defender qualquer dos seus estados-membros.

A Rússia comentou também o abate do caça turco. O ministro russo dos Negócios estrangeiros, Sergei Lavrov, sublinhou que a reação da Síria não deve ser considerada uma provocadção.

"Consideramos importante que o que sucedeu não seja visto como uma provocação ou uma ação premeditada", afirmou Lavrov num comunicado no site do seu ministério.
Duas versões
A Síria abateu o caça turco na sexta-feira de manhã. Damasco diz que o avião "violou" o seu espaço aéreo e que foi abatido por cima das suas águas territoriais por disparos de artilharia anti-aérea. Diz ainda que desconhecia a proveniência do aparelho.

Ancara tem outra versão dos factos. Reconhece que o seu avião, em missão de treino e sem armas, entrou em espaço sírio por alguns minutos, tendo sido avisado disso pelas autoridades militares turcas, para corrigir o curso.

O caça F4 Phantom desapareceu dos radares e das comunicações rádio 16 minutos depois desse episódio, afirma a Turquia, que acrescenta ter intercetado comunicações que provam que Damasco sabia que o avião era turco e mesmo assim mandou abate-lo.

O avião caiu em águas do Mediterrâneo ao largo da Síria e os dois pilotos estão desaparecidos. Ancara diz ainda que um segundo aparelho, enviado em busca do primeiro, foi igualmente alvejado embora não tenha sido abatido.

A alta tensão entre a Turquia e a Síria arrisca complicar ainda mais uma situação de conflito sectário entre os sírios que, apesar de todos os esforços da comunidade internacional, não dá sinais de abrandar.

Nos últimos meses, o nível de repressão dos protestos levou os opositores de Assad a pegar em armas e a revolta tem assumido cada vez maiores contornos de guerra civil e ameaça envolver outros países da região.
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