Ucrânia diz ter provas de que Rússia destruiu barragem de Kakhovka

por RTP
Imagens de satélite da Maxar Technologies via Reuters

O serviço de segurança interna da Ucrânia afirma ter intercetado um telefonema que prova que um “grupo de sabotagem” russo destruiu a barragem de Kakhovka, no sul da Ucrânia.

Os ucranianos colocaram o áudio da alegada conversa, de um minuto e meio, no Telegram. Na conversa estão dois homens, a falar russo, sobre as consequências do desastre.

"Eles [os ucranianos] não atacaram. Esse era o nosso grupo de sabotagem. Eles queriam assustar [as pessoas] com aquela barragem", disse um dos homens, descrito pela SBU como um soldado russo.

"Não saiu conforme o planeado e [eles fizeram] mais do que planearam."

A SBU não forneceu mais detalhes sobre a conversa ou sobre os seus participantes.

A Norsar, agência de análise sísmica da Noruega, diz que analisou sinais sísmicos de uma estação regional em Bucovina, na Roménia (620 quilómetros de Nova Kakhovka). Os sinais indicam uma explosão às 02h54 de terça-feira. Segundo a Norsar, o momento e o local coincidem com o colapso da barragem.

A destruição da barragem provocou inundações em massa na região, forçando a fuga de milhares de moradores. O Ministério para Situações de Emergência da Rússia revelou que retirou mais de 1.500 pessoas de áreas inundadas na região de Kherson, no leste da Ucrânia.

O ministério disse que os trabalhos de resgate continuam na área, onde está “um grupo de mais de 190” operacionais com 66 veículos, sendo que os serviços de emergência de outras cidades “foram colocados em alerta”.

Num comunicado, citado pela agência noticiosa oficial russa TASS, o ministério garantiu que estão a ser criadas equipas para tentar minorar as consequências das inundações.

Nos últimos dias, os ucranianos acusaram o exército russo de atacar as operações que tentam retirar milhares de civis das zonas inundadas na sequência da destruição da barragem.

De acordo com Kiev, uma pessoa morreu e 18 ficaram feridas, incluindo membros dos serviços de emergência, nos ataques russos ao centro de Kherson e arredores.

A Ucrânia e os seus aliados, incluindo EUA e União Europeia, condenaram os "ataques" às operações de salvamento em Kherson, apelando à Rússia para que permita o acesso "sem entraves" da ajuda após a destruição da barragem de Kakhovka.

"Condenamos veementemente o bombardeamento das zonas de evacuação e apelamos às autoridades russas para que cessem esses ataques e permitam que as equipas de evacuação prestem assistência sem entraves às populações afetadas", declarou à imprensa o embaixador ucraniano na ONU, Sergiy Kyslytsya, ladeado pelos seus homólogos de vários membros do Conselho de Segurança (Estados Unidos, França, Reino Unido, Japão, Malta e Albânia) e dos Estados-membros da União Europeia.

Na quinta-feira, a operadora da central nuclear de Zaporijia, a Ukrhydroenergo, avisou que o nível do reservatório de água da barragem de Kakhovka já não é suficiente para arrefecer os reatores da central.

O Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, reuniu-se na quinta-feira à noite, por videoconferência, com a ativista sueca Greta Thunberg e outros ativistas e especialistas em mudanças climáticas para avaliar as consequências da destruição da barragem.

De acordo com o chefe do gabinete presidencial ucraniano, Andrey Yermak, Thunberg disse estar "preparada para pressionar as organizações internacionais relevantes" para responderem ao desastre.

O chefe de Estado ucraniano anunciou a criação de um "grupo de trabalho internacional de alto nível" para "consolidar os esforços do mundo inteiro para responsabilizar a Rússia pelo ecocídio na Ucrânia".

Um dos problemas mais agudos é como manter o abastecimento de água potável para várias vilas e cidades que antes dependiam da barragem e do reservatório atrás dela.
Contraofensiva ucraniana em curso
"A contra-ofensiva ucraniana começou", acreditam muitos observadores, incluindo o centro de análise americano “Institute for the Study of War” (ISW), que no entanto especifica que não espera "uma única grande operação", mas uma série de diferentes ações coordenadas, como é o caso atualmente.

São inúmeros os analistas que por toda a comunicação partilham da mesma opinião, a de que a contraofensiva está em curso.

O ex-chefe do Exército britânico, general Richard Dannatt, que serviu como Chefe do Estado-maior entre 2006 e 2009, diz que a inundação do rio Dnipro após a destruição de Kakhovka significa que não há como os ucranianos avançarem através de Kherson para a Crimeia ocupada pelos russos.

Falando à BBC Radio Norfolk, ele disse que a contraofensiva da Ucrânia está a começar mais devagar, sondando as fraquezas da linha russa a ser atacada por unidades armadas com tanques fornecidos pelo Ocidente e outras armas pesadas.

Dannat disse que acha que um ataque bem-sucedido da Ucrânia poderia "quebrar o moral do exército russo”, coincidindo com relatos de que o soldado russo médio não quer estar no conflito.

Há registo de ataque em Bakhmut, Donetsk e Zaporizhia. Aqui os relatos são de ataques em múltiplas frentes. Local onde está situada a maior central nuclear da Europa, Zaporizhia é considerada local estratégico. A sua importância fica clara se pensarmos na ocupação russa como um crescente no flanco oriental da Ucrânia, que se estende até a Crimeia. Ao atacar nesta zona, os ucranianos podem conseguir acesso à Crimeia.

A avaliação do sucesso ou não da ofensiva é difícil. Os militares da Rússia relataram intensos combates na região sul de Zaporizhia e nas regiões orientais de Donetsk, na Ucrânia. Afirmam ter repelido uma ofensiva ucraniana na região de Zaporizhia e afirmam ter infligido pesadas perdas em Kiev.

Já o presidente Volodymyr Zelensky elogiou as forças armadas da Ucrânia por ganhos em combates pesados na região leste de Donetsk.

A vice-ministra da Defesa Hanna Maliar disse esta sexta-feira que a situação na frente é muito tensa e que havia fortes combates na região de Donetsk.

"A situação é tensa em todas as áreas da frente", disse Maliar no Telegram. "O inimigo continua a concentrar seus esforços principais nas direções de Lyman, Bakhmut, Avdiivsky e Mariinka, a luta pesada continua”. Ainda assim, assegura que as tropas ucranianas estavam a repelir os ataques russos.
pub