Ucrânia hesita na remodelação do Ministério da Defesa

por Carla Quirino - RTP
Viacheslav Ratynskyi - Reuters

Um dia depois de ter sido divulgado que o ministro ucraniano da Defesa seria substituído, o presidente Volodymyr Zelensky parece ter dado um passo atrás. No domingo, Oleksii Reznikov anunciou que a Ucrânia começaria a treinar esta segunda-feira com novo armamento ocidental, face à expectativa de uma grande ofensiva russa a coincidir com o primeiro aniversário da invasão.

No domingo, David Arakhamia, chefe do bloco parlamentar do partido de Zelensky, adiantava que Oleksiy Reznikov perderia a pasta da Defesa, devendo ser substituído por Kyrylo Budanov, chefe dos serviços secretos militares (GUR).

Arakhamia acrescentou que Reznikov seria transferido para a pasta das Indústrias Estratégicas.

O facto é que Zelensky não reagiu a este anúncio e o próprio Reznikov afirmou, ainda no domingo, que não lhe chegou qualquer informação sobre a remodelação. Acrescentou mesmo que rejeitaria a nova pasta,  caso lhe fosse oferecida.

Se fosse avante, tal remodelação seria a mexida de maior destaque após várias demissões nas últimas semanas, relacionadas com escândalos de corrupção desencadeados por um contrato de alimentos do exército, que previa o pagamento de preços altamente inflacionados.

Zelensky pretende demonstrar que o país pode ser um administrador confiável de milhões de dólares em ajuda civil e militar ocidental. Depois do saneamento do mês passado, o presidente ucraniano comprometeu-se a cumprir padrões de um Governo sem conflitos de interesses.
Grande ofensiva russa

Os rumores desta mudança coincidem com o receio de que a Rússia esteja a planear uma grande ofensiva para o fim de fevereiro.

Em conferência de imprensa, no domingo, Oleksiy Reznikov assinalou que o armamento ocidental previsto ainda não chegou na sua totalidade, mas garantiu que, para já, o país tem material suficiente para continuar a conter os militares russos.

O ministro da Defesa disse acreditar que a Rússia não tem todos os recursos prontos para lançar uma ofensiva em grande escala, mas pode fazê-lo como um gesto simbólico, para assinalar um ano de guerra - a invasão teve início a 24 de fevereiro de 2022. Reznikov confirmou que as tropas começam a treinar em tanques Leopard 2, de fabrico alemão, a partir desta segunda-feira.

O governante afirmou que a Ucrânia vai ter novos mísseis com um alcance de 150 quilómetros, mas não serão usados contra o território russo, apenas contra unidades russas em áreas ocupadas da Ucrânia.

"Tenho certeza de que venceremos esta guerra", disse Reznikov, acrescentando que, sem o envio de caças ocidentais, "irá custar mais vidas".

Por sua vez, Serhiy Haidai, governador da região oriental de Lugansk, afirma que são visíveis "cada vez mais reservas [russas] a serem posicionadas" e "mais equipamentos a serem trazidos".

"Eles estão lentamente a começar a economizar, preparando terreno para uma ofensiva em grande escala",
declarou Haidai na televisão. "Provavelmente levará dez dias para reunir reservas. Depois de 15 de fevereiro, podemos esperar [esta ofensiva] a qualquer momento" concluiu.
Avanço russo
A Rússia tem o objetivo de controlar toda a região do Donbass, no leste da Ucrânia, e para tal tenta a todo o custo dominar Bakhmut.

No seu habitual discurso noturno, Zelensky reconheceu que “as coisas estão muito difíceis na região de Donetsk” e descreveu os combates como “batalhas ferozes".

"Não temos alternativa a não ser defender-nos e vencer", insistiu.

O Ministério da Defesa do Reino Unido observou que as forças ucranianas em Bakhmut estão a ficar cada vez mais isoladas perante os avanços russos que tentam cercar a cidade. De acordo com Londres, as duas principais estradas para Bakhmut estão ameaçadas por fogo direto.

No nordeste do país, em Kharkiv, cinco pessoas ficaram feridas em vários ataques que atingiram edifícios civis na segunda maior cidade ucraniana, segundo autoridades locais.
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