Ucrânia recusa entrada de Mário Machado nas Forças Armadas. "Não queremos pessoas dessas no nosso país"

por RTP
No passado, Mário Machado foi condenado a mais de dez anos de prisão por uma série de crimes. António Pedro Santos - Lusa

A Ucrânia diz não querer o militante neonazi Mário Machado nas suas Forças Armadas, depois de este se ter oferecido para lutar contra a invasão russa nesse território do leste europeu. O português esteve uma semana em solo ucraniano para distribuir "bens alimentares e sanitários", o que só pôde fazer depois de uma juíza lhe ter suspendido uma das medidas de coação.

Um dos critérios para a aceitação de candidatos à Legião Internacional de Defesa Territorial das Forças Armadas da Ucrânia é a "ausência de condenação por crimes, verificada através de registo criminal", explicou ao Diário de Notícias Sergii Malyk, adido militar da embaixada da Ucrânia em França.

Quando questionado sobre Mário Machado, o coronel Malyk respondeu que "a pessoa referida não pode ser aceite".

"Queremos prevenir a entrada de criminosos e elementos não confiáveis na Ucrânia e nas suas Forças Armadas", explicou. "Se conhecem pessoas assim que querem ir para a Ucrânia, digam-me. Não queremos pessoas dessas no nosso país".

No passado, Mário Machado foi condenado a mais de dez anos de prisão por uma série de crimes, incluindo violações à integridade física, discriminação racial e posse de arma proibida. Em novembro de 2021, foi novamente detido por posse de arma.

"Já estamos ao corrente dessa situação. Parece-nos que é uma questão antes de mais portuguesa, porque se trata de um português, e se é uma pessoa perigosa cabe a Portugal tomar medidas. Mas penso que alguém que tem os crimes mencionados no cadastro não pode entrar nas nossas Forças Armadas. Não é qualquer pessoa que pode servir o nosso país", disse ao DN o diplomata da embaixada da Ucrânia em França.
Juíza suspendeu medida de coação para permitir viagem de Mário Machado
Mário Machado está esta quinta-feira de volta a Portugal, depois de ter permanecido quase uma semana na Ucrânia a distribuir "bens alimentares e material sanitário", não tendo chegado a combater, apesar de "ter estado num cenário de guerra", adiantou o seu advogado à agência Lusa.

A defesa confirmou ainda que o antigo dirigente de extrema-direita volta agora a estar sujeito a apresentações periódicas às autoridades e que trouxe da Ucrânia alguns refugiados até à Alemanha, tendo ainda integrado algumas das 20 pessoas que viajaram consigo nos "meios de defesa" ucranianos.

O militante neonazi estava sujeito às medidas de coação de termo de identidade e residência e obrigação de apresentações quinzenais às autoridades, após ter sido detido em flagrante delito por posse ilegal de arma. No entanto, uma juíza do Tribunal Central de Instrução Criminal suspendeu essa última medida para que o arguido pudesse viajar até à Ucrânia, conforme solicitou sob argumentos de de cariz humanitário.

Machado disse ainda que só iria combater na guerra "se necessário".

A decisão gerou diversas críticas e a Procuradoria-Geral da República confirmou que o Ministério Público iria recorrer da decisão. Mas, mesmo que seja aceite, esse recurso não vai ter efeito, uma vez que Mário Machado já viajou para território ucraniano.
Registo criminal preenchido por vários condenações
Mário Machado, 44 anos, esteve ligado a diversas organizações de extrema-direita, como o Movimento de Ação Nacional, a Irmandade Ariana e o Portugal Hammerskins, a ramificação portuguesa da Hammerskin Nation, um dos principais grupos neonazis e supremacistas brancos dos Estados Unidos da América. Fundou também os movimentos Frente Nacional e Nova Ordem Social, que liderou de 2014 até 2019.

O nacionalista tem também um registo criminal marcado por várias condenações, entre as quais a sentença, em 1997, a quatro anos e três meses de prisão pelo envolvimento na morte, por um grupo de 'skinheads', do português de origem cabo-verdiana Alcino Monteiro na noite de 10 de junho de 1995.

Tem ainda uma outra condenação de 10 anos, fixada em 2012 por cúmulo jurídico na sequência de condenações a prisão efetiva em três processos, que incluíam os crimes de discriminação racial, ofensa à integridade física qualificada, difamação, ameaça e coação a uma procuradora da República e posse de arma de fogo.

c/ agências
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