"Vão voltar a ver-nos". Grupo rebelde ameaça repetir ataques a Belgorod

por Inês Moreira Santos - RTP
Sergey Kozlov - EPA

O chefe do grupo rebelde anti-Putin que reivindicou os ataques à região russa de Belgorod, nos últimos dias, deixou o alerta de que o território será novamente alvo de incursões. Denis Kapustin, líder do denominado Corpo Voluntário Russo, saudou o "sucesso" da operação, que afirma ter evidenciado as fragilidades russas.

“Acho que vão voltar a ver-nos, novamente, daquele lado”, disse Kapustin, citado pela Reuters, acrescentando que não podia “revelar” mais informações sobre as futuras incursões ao território russo.

“A fronteira é muito longa. Brevemente, vamos chegar a um ponto em que as coisas vão escalar”.

Falando a jornalistas no norte da Ucrânia, perto da fronteira russa, o fundador do Corpo de Voluntários da Rússia disse que entrar na Rússia e regressar à Ucrânia "pode ser considerado um sucesso".

"A operação está em andamento. Tem várias fases", afirmou já na quarta-feira Kapustin, uma figura conhecida nos meios hooligan e de extrema-direita na Rússia e que se estabeleceu antes da guerra na Ucrânia, onde organizava lutas de Artes Marciais Mistas e era dono de uma marca de roupas. Segundo o mesmo, este tipo de incursões obriga o exército russo a deslocar "um grande número" de forças, destapando assim outras partes da fronteira e da frente de combate.

O porta-voz do outro grupo que assumiu a responsabilidade pela incursão, identificado como "César" da "Legião da Liberdade Russa", qualificou também a operação de "incrível" enquanto posava em frente a um veículo blindado que garantiu ser um "troféu" retirado das forças russas.

Os combatentes confirmaram que estiveram quase 24 horas em território russo antes de regressar à Ucrânia na madrugada de quarta-feira. Horas antes, Moscovo afirmou ter repelido esta incursão com a ajuda da artilharia e da aviação e ter eliminado "mais de 70 terroristas ucranianos". Os soldados paramilitares, que se assumem "conservadores de direita e tradicionalistas", afirmaram, por seu lado, que tiveram apenas dois feridos.

Segundo Kapustin, a reação de Moscovo àquela incursão mostrou que "a liderança militar e política na Rússia está completamente impreparada” para lidar com este tipo de manobras.

"Quero provar que se pode lutar contra os tiranos e que o poder de Putin não é ilimitado", acrescentou, referindo que está a lutar contra a injustiça e a tortura.

Embora a Ucrânia tenha negado qualquer responsabilidade pela incursão, Kapustin disse que Kiev as encorajava mas sem fornecer armas ou equipamentos. Além disso, negou as alegações de que tenham sido usadas armas fornecidas por aliados ocidentais à Ucrânia.
Ucranianos acusados de ataque a centrais nucleares
De acordo com os serviços de segurança da Federação Russa, foram detidos esta quinta-feira dois ucranianos que planeavam ataques a centrais nucleares russas com o objetivo de interromper o funcionamento destas.

"Um grupo de sabotagem do serviço de informações externas da Ucrânia (...) tentou explodir cerca de 30 linhas de transmissão de energia das centrais nucleares de Leninegrado e Tver", indicaram em comunicado os serviços.

"Segundo a ideia dos serviços especiais ucranianos, isso levaria à paragem dos reatores nucleares, interromperia o funcionamento normal das centrais nucleares e causaria danos significativos à economia e à reputação da Rússia", disse a mesma fonte.

Classificados como "sabotadores" pelas autoridades russas, os dois militares ucranianos terão conseguido explodir o poste de um linha de alta tensão e colocar minas ao lado de outras quatro linhas da central nuclear de Leninegrado, a cerca de 30 quilómetros de São Petersburgo.

A mesma nota refere que foram ainda colocados perto de sete postes de linhas de alta tensão da central de Tver e que os dois ucranianos agora detidos podem ser condenados a 20 anos de prisão.

"Dois russos cúmplices dos sabotadores também foram identificados e detidos"
, acrescentam os serviços de segurança russos, que os acusa de terem fornecido meios de comunicação e veículos com matrículas falsas.

Os serviços especiais russos ainda apreenderam 36,5 quilos de explosivos e cerca de 60 detonadores, disse a nota, salientando que está em curso uma investigação por "sabotagem" e "tráfico de explosivos". A tentativa de ataque terá acontecido na véspera do Dia da Vitória, celebrado a 9 de maio na Rússia.
Ucrânia palco de ataques noturnos

A Ucrânia é acusada pelo Kremlin de estar envolvida nos ataques à região russa de Belgorod. Mas os ataques de Moscovo em território ucraniano também continam.

O ministro da Administração Interna da Ucrânia divulgou, no Twitter, imagens de drones russos a serem intercetados pelas forças ucranianas em Kiev, durante a noite passada.

"Mais uma noite sem dormir para muitos de nós. Outro ataque em Kiev", escreveu Anton Gerashchenko na rede social.



Também esta quinta-feira de manhã, Volodymyr Zelensky confirmou que a Rússia "continua a aterrorizar a Ucrânia" com ataques noturnos. Numa publicação nas redes sociais, o presidente ucraniano referiu que dos 36 drones projetados contra Kiev, durante a noite, "nenhum atingiu os objetivos", tendo sido destruídos 35 destes.

A Força Aérea ucraniana indicou também, entretanto, que os drones de "fabrico iraniano Shahed 136/131" foram lançados contra o norte e o sul da Ucrânia. A Rússia, segundo Kiev, tem intensificado em maio os ataques noturnos com drones e mísseis contra a Ucrânia.

De acordo com as autoridades ucranianas a Rússia tem usado igualmente mísseis hipersónicos Kinjal, mais difíceis de intercetar.
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