Venezuelanos ainda procuram o Brasil apesar da violência

por RTP
Vários boatos têm alimentado o clima de tensão na fronteira com a Venezuela e o aumento da criminalidade na região Nacho Doce - Reuters

O número de venezuelanos que entram no Brasil continua a aumentar, apesar dos ataques do último fim de semana a acampamentos no Estado de Roraima. Segundo um porta-voz do Exército brasileiro, no início da semana eram esperados cerca de 900 imigrantes do país de Nicolás Maduro.

O número de pessoas que tentam escapar ao colapso económico da Venezuela tem gerado crescentes tensões regionais. Fugidos da pobreza e das difíceis condições impostas pelo Governo de Nicolás Maduro, muitos venezuelanos procuram refúgio no Brasil.Muitas das pessoas que entram no Brasil dizem que estão com fome e não têm acesso a serviços médicos na Venezuela.

“É claro que a população está com os nervos à flor da pele. Paracaima tinha cinco mil habitantes na zona urbana e recebeu mais três mil venezuelanos”, disse à Folha de São Paulo Marcelo Lopes, secretário do gabinete institucional do Governo de Roraima.

"Estou a atender venezuelanos e os nossos brasileiros estão a ficar para trás. Estou a ocupar a vaga deles”, disse Suely Campos, governadora do Estado de Roraima.

A multiplicação de boatos, principalmente através das redes socias, tem alimentado o clima de tensão na fronteira com a Venezuela e aumentado a criminalidade na região.

“Este clima de tensão é um ambiente propício para a criação de boatos, que se espalham por meio das redes sociais e levam a episódios lamentáveis como aqueles que vimos durante o final de semana”, disse ao jornal brasileiro Camila Asano, coordenadora de programas da organização Conectas Direitos Humanos.
"Há tensão, mas não há conflito"

O Governo do Estado de Roraima pediu à justiça que suspenda temporariamente a entrada de imigrantes da Venezuela, sublinhando que os serviços sociais estão sobrecarregados.
Em Roraima vive-se um crescente clima de ódio perante o número de venezuelanos ali chegados nos últimos meses.

No entanto, o ministro da Segurança do Brasil, Sergio Etchegoyen, citado pela BBC, disse que o encerramento da fronteira é "impensável, porque é ilegal". A presença de forças militares melhorou a situação. "Há tensão, mas não há conflito", acrescentou Etchegoyen.

De acordo com o Exército brasileiro, no domingo cerca de 800 imigrantes venezuelanos chegaram a Roraima - cerca de 300 acima da média diária num ano.

Na véspera, em Pacaraima, vários acampamentos de imigrantes foram destruídos por moradores, após relatos de que um comerciante da cidade teria sido agredido por quatro venezuelanos.

Centenas de imigrantes fugiram pela fronteira, enquanto vários gangues incendiaram acampamentos improvisados e objetos pessoais.

“Neste cenário, em que se denomina um responsável por todas as mazelas do Estado, qualquer evento gera um quadro de violência contra estas pessoas”, referiu à Folha de São Paulo João Carlos Jarochinski, um professor universitário de Roraima.

O Brasil não é o único destino dos venezuelanos em fuga. Nos últimos três anos, cerca de três mil cidadãos da Venezuela entraram diariamente na Colômbia. O país concedeu residência temporária a mais de 800 mil. O Peru diz ter acolhido 20 mil venezuelanos só na semana passada.
Combate à inflação

O Governo venezuelano deu ordem de emissão de uma nova moeda virtual, chamada petro, argumentando que a medida é necessária para combater a inflação. A oposição afirma que pode criar ainda mais conflitos.

A partir de segunda-feira, as novas notas denominadas "bolívares soberanos" passaram a ter circulação legal. A atenção está agora voltada para a forma como as lojas e os bancos vão reagir quando as medidas entrarem em vigor.
De acordo com o Governo Venezuelano, a introdução da nova moeda é acompanhada de medidas-chave que ajudarão a recuperar a economia do país.

Oito novas notas e duas novas moedas estão a ser colocadas em circulação. A maioria das antigas notas de bolívar continuará a circular "por algum tempo", anunciou o presidente do Banco Central da Venezuela, Calixto Ortega. Apenas as notas que valem menos de mil bolívares fortes serão eliminadas de imediato.

Através de um tweet, o Presidente Nicolás Maduro afirmou que o Governo venezuelano pretende “desmantelar a guerra perversa do capitalismo neoliberal para instalar um sistema económico virtuoso, equilibrado, sustentável, saudável e produtivo".

Entre as medidas está o aumento do salário mínimo em 34 vezes, face ao nível anterior, a partir de 1 de setembro, o aumento do IVA de quatro para 16 por cento e indexar o bolívar soberano ao petro, a moeda virtual que o Governo diz estar ligada às reservas de petróleo da Venezuela.

O Fundo Monetário Internacional previu que a inflação na Venezuela possa chegar a um milhão por cento este ano. De acordo com um recente estudo da Assembleia Nacional, controlada pela oposição, os preços têm duplicado em média a cada 26 dias.

Os economistas avisam que a impressão de novas notas pode exacerbar a inflação. Tal como o aumento do salário mínimo.
pub