O subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários alertou hoje de que "a vida está a deixar Gaza a um ritmo aterrador", reagindo às muitas mortes registadas durante uma operação de distribuição de ajuda humanitária naquele território palestiniano.
"Estou indignado com as informações segundo as quais centenas de pessoas foram mortas e feridas durante uma operação de transporte de ajuda humanitária para o oeste da Faixa de Gaza hoje", escreveu Martin Griffiths na rede social X (antigo Twitter).
"Mesmo após quase cinco meses de hostilidades brutais, Gaza ainda tem a capacidade de nos chocar", adiantou.
"Isto acontece quando o número de mortos em Gaza desde 07 de outubro atinge a marca dos 30 mil. A vida está a deixar Gaza a um ritmo aterrador", acrescentou Griffiths , na mesma plataforma.
Mais de 100 palestinianos foram hoje mortos na Faixa de Gaza, durante uma operação de distribuição de ajuda humanitária que se transformou em caos, anunciou o movimento islamita palestiniano Hamas, desde 2007 no poder no enclave palestiniano, acusando os soldados israelitas de terem aberto fogo sobre uma multidão esfomeada.
"O balanço do massacre da rua al-Rashid (onde a distribuição de alimentos decorria, na cidade de Gaza) ascende agora a 104 mortos e 760 feridos", declarou num comunicado o porta-voz do Ministério da Saúde do Hamas, Ashraf al-Qudra, revendo em alta um primeiro balanço hospitalar que indicada pelo menos 50 mortos.
"O ataque foi premeditado e intencional, no contexto do genocídio e da limpeza étnica do povo da Faixa de Gaza. O Exército de ocupação sabia que estas vítimas tinham vindo para esta zona para obter alimentos e ajuda, mas matou-as a sangue frio", acusou o Hamas, cujos massacres em território israelita desencadearam a guerra na Faixa de Gaza.
O exército israelita admitiu ter aberto fogo contra a multidão, que identificou como "uma ameaça", enquanto fontes ouvidas pela agência France-Presse (AFP) negaram a responsabilidade pelo elevado número de mortos, indicando que dezenas de pessoas ficaram feridas em "empurrões e atropelamentos" depois de terem cercado camiões com ajuda humanitária e iniciado a pilhagem.
A 07 de outubro, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) -- desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel -- realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.163 mortos, na maioria civis, e cerca de 250 reféns, 130 dos quais permanecem em cativeiro, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 146.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 30.000 mortos, mais de 71.000 feridos e milhares de desaparecidos, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais.
O conflito fez também quase dois milhões de deslocados (mais de 85% dos habitantes), mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com toda a população afetada por níveis graves de fome que já está a fazer vítimas, segundo a ONU.
Na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, territórios ocupados pelo Estado judaico, mais de 400 palestinianos foram mortos desde 07 de outubro pelas forças israelitas e em ataques perpetrados por colonos, além de se terem registado mais de 3.000 feridos e pelo menos 5.600 detenções.