Vinte e nove polícias alemães suspeitos de partilha de propaganda nazi

por Carla Quirino - RTP
Policia alemã (Arquivo) Thilo Schmuelgen - Reuters

Vinte e nove polícias alemães foram suspensos sob a acusação de partilharem símbolos nazis em fóruns na Internet. O aumento de militantes da ideologia de extrema-direita constitui uma preocupação crescente para as autoridades da Alemanha.

Fotografias de Adolf Hitler, suásticas e imagens com montagem que colocam refugiados no interior de camâras de gás encontradas em espaços de conversa na rede, como o WhatsApp, conduziram as investigações até aos vinte e nove polícias.

Os suspeitos estão acusados de difusão de propaganda nazi e promoção do discurso de ódio nacionalista. Outros ainda estão indiciados por terem sido coniventes com esta prática e não a denunciarem.

Policia Alemã (Arquivo) | Foto: Sascha Steinbach /EPA

Ministro do Interior, Herbert Reul (Arquivo) | Foto: Friedemann Vogel /EPA

O ministro do Interior do Estado da Renânia do Norte-Vestefália espera que as investigações, a nível nacional, revelem mais focos pró-nazis na internet, para que seja desmantelada a rede de extrema-direita que opera nos chats.Este conjunto de mensagens representa “o pior e mais repugnante apelo neonazi, racista e anti-refugiados” declarou Herbert Reul, ministro do Interior do Estado da Renânia do Norte-Vestefália. Na mesma conferência de imprensa Reul descreve os conteúdos das mensagens e refere ainda que é um descrédito para a polícia da região.

Para Herbert Reul, é essencial que a polícia, como instituição, deixe claro que o seu perfil político rejeita qualquer tendência ideológica pró-nazi.

Consternação e vergonha são os sentimentos de Frank Richer, chefe da Polícia da cidade de Essen, local de residência da maioria dos suspeitos.

As buscas envolveram mais de 200 agentes e estenderam-se a 34 esquadras e residências associadas a 11 dos principais suspeitos. As autoridades revelaram ter encontrado mais de 100 imagens de conteúdo ofensivo em pelo menos cinco grupos do WhatsApp.

O material era difundido através de telemóveis dos polícias, agora suspensos e com participações disciplinares em curso. Um dos grupos estará ativo desde 2012.


Capacete de motociclista com simbolo nazi (Arquivo) | Foto: Damir Sagolj /Reuters

As autoridades têm sido acusadas de substimarem a ascensão da extrema-direita e respetivas práticas de angariação de militantes para as suas fileiras.

Em julho, um ex-polícia e a mulher foram presos por terem enviado ameaças de teor racista contra personalidades públicas de alguma forma ligadas à imigração, como legisladores turcos.

As mensagens enviadas via correio eletrónico eram assinadas por “NSU 2.0”. Esta assinatura estava associada à célula neo-nazi National Socialism Underground que assassinou dez pessoas por razões xenófobas, entre 2000 e 2007.
Um mês antes, a ministra alemã da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, decretou a dissolução parcial das forças especiais de contraterrorismo KSK, depois de investigações a diversos agentes envolvidos numa festa em 2017, onde exibiram a saudação nazi e participaram numa atividade que implicava jogar com a cabeça de um porco.

Annegret Kramp-Karrenbauer, ministra alemã da Defesa | Foto: Fabrizio Bensch /Reuters

Da investigação à unidade KSK resultou também a apreensão de armas, explosivos e munições na casa de um dos suspeitos de militância na extrema-direita.

Foto: Exército Alemão/KSK 

Esta unidade de elite tem a cargo arriscadas operações de resgate de reféns em cenários internacionais. Para a ministra Kramp-Karrenbauer, o secretismo desta função permite a que ocorram infiltrações extremistas por trás de um “muro de sigilo”.

Segundo Herbert Reul, este histórico de indícios pró-nazis nas unidades militares está a deixar as autoridades alemãs conscientes de que não se trata de casos isolados.
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