Visão Global 2017: José Pedro Teixeira Fernandes

por José Pedro Teixeira Fernandes - Investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI)
DR

Personalidade do ano: Xi Jinping
No ano de 2017, Xi Jinping, o Secretário-Geral do Partido Comunista chinês e actual Presidente da República Popular da China, reforçou o seu poder interno e ganhou nova dimensão em internacional. Em Outubro, durante o congresso do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping teve um momento de apoteose interna, reforçando o seu poder.

Pela primeira vez desde Mao Tsé-Tung, um líder vivo teve o seu pensamento inscrito na constituição do partido. O reforço do poder interno foi acompanhado de uma crescente ambição de liderança global. É cada vez mais claro que a China é a maior vencedora da actual globalização.

No início de 2017, em Davos, no Fórum Económico Mundial, Xi Jinping aproveitou habilmente o momento de fraqueza dos EUA na liderança mundial, virados para si próprios com Donald Trump, para projectar a imagem de uma liderança responsável da globalização.

Mostrou firmeza no compromisso da China com os mercados abertos. A situação não deixa de ser irónica de um ponto de vista histórico e da político internacional dos últimos 70 anos.

A aposta no livre comércio internacional e nos mercados abertos é uma constante da política externa norte-americana e uma das marcas que estes deixaram no mundo subsequente à II Guerra Mundial. Quanto ao actual Estado chinês, é herdeiro da revolução comunista de 1949 e da chegada ao poder de Mao Tsé-Tung (Mao Zedong), fundando a República Popular da China.

A sua imagem de marca era a rejeição do sistema capitalista internacional do qual se (auto) excluiu até ao final da era maoísta (1949-1976). Hoje, com Xi Jinping, numa reviravolta que começou com Deng Xiaoping, lentamente, em finais dos anos 1970, disputa a liderança da economia capitalista global.
Acontecimento do ano: A crise nuclear da Coreia do Norte
No mundo de inícios do século XX as crises políticas europeias eram crises mundiais. Isso resultava da centralidade da Europa e da sua influência nos assuntos mundiais. No mundo do século XXI é a Ásia-Pacífico que está, cada vez mais, a ocupar esse lugar.

A questão da Coreia tem uma longa história que data dos primórdios da Guerra-Fria. Culminou na guerra da Coreia (1950-1953), e na divisão da península ao longo do paralelo 38, em dois Estados, nos termos do armistício de 1953. (Nunca foi concluído um tratado formal de paz entre as partes beligerantes, tendo o resultado militar sido fundamentalmente inconclusivo).

No Verão de 2017, a questão Coreia do Norte, agora ligada ao desenvolvimento do seu programa nuclear e de mísseis balísticos, teve um pico de tensões graves. Tornou-se o maior foco de perturbação da paz na Ásia-Pacífico e no mundo actual. É aquela onde o risco de uma confrontação militar de grande envergadura é maior, pelos interesses vitais em jogo de coreanos de coreanos do Norte e do Sul, mas também, num outro plano, do Japão, EUA, China e Rússia.

A troca de acusações e ameaças entre Donald Trump e Kim Jong-un da Coreia do Norte, fez pensar nos momentos mais críticos da Guerra-Fria, em particular na crise dos mísseis de Cuba de Cuba de 1962. Mas o mundo da Guerra-Fria, apesar da ameaça nuclear, era marcado por uma relativa previsibilidade da competição estratégica entre as duas superpotências.

Pelo contrário, o mundo actual, cada vez mais multipolar e em rápida transformação, traz consigo uma grande dose de imprevisibilidade, aumentando os riscos de descontrolo em crises como a da Coreia do Norte.
PUB