Visão Global 2017: Tiago Moreira de Sá

por Tiago Moreira de Sá - Professor na Universidade Nova e Investigador no IPRI
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Personalidade do ano: As pessoas comuns dos “Estados da ferrugem” nos EUA
Em Janeiro de 2017, Donald Trump tomou posse como 45º presidente dos EUA.

Independentemente da validade do debate acerca das suas qualidades, ou ausência delas, e do seu programa político, ele foi eleito por milhões de cidadãos norte-americanos – os “milhões esquecidos”, como lhes chamou o The Guardian.

São as pessoas comuns dos “estados da ferrugem”, por exemplo de uma pequena localidade de Columbus, Ohio, que viram o seu modo de vida desaparecer com o fecho da fábrica que empregava metade, ou mais, da população em consequência da globalização e da automatização.

Eles não são “deploráveis”, como disse Hillary Clinton, mas as suas vidas são. Ou estão a tornar-se. E por isso elegeram quem prometeu devolver-lhes um governo cuja primeira obrigação moral é assegurar o bem-estar económico das classes médias americanas, criando empregos, fazendo crescer os rendimentos, diminuindo as desigualdades e devolvendo a dignidade.

Estes esquecidos podem ter escolhido mal o porta-voz, mas, com Trump ou sem ele, mais cedo ou mais tarde a sua voz far-se-á ouvir. Resta saber se a bem ou a mal.
Acontecimento do ano: Congresso do Partido Comunista Chinês
O Congresso de Outubro do Partido Comunista Chinês (PCC) consagrou Xi Jinping, chamado pelo The Economist “o homem mais poderoso do mundo”. Este, por sua vez, anunciou ao mundo a existência de uma nova “grande potência mundial”: a China.

Mas se Outubro de 2017 marca simbolicamente estes dois grandes acontecimentos, a história começou antes. Em 2012, Xi Jinping sucedeu a Hu Jintao e definiu uma linha ofensiva para a política externa de Pequim, com renovada assertividade, assente em quatro pilares.

Uma quase-aliança com a Rússia, contra os EUA, que só não é aliança pois os chineses não as fazem. A institucionalização dos BRIC, juntando as potências ascendentes. A criação de um Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) alternativo ao Banco Mundial.

A implementação de uma estratégia de primazia regional, contemplando três grandes projectos: a “Rota da Seda Marítima”, a “Cintura Económica da Rota da Seda” e o “Corredor Económico”.

A China tem uma grande estratégia – a grande estratégia Xi Jinping -, esta foi aclamada no Congresso do PPC e destina-se a assumir agora sem timidez a sua condição de grande potência mundial.
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