O agente nervoso VX foi a substância escolhida para assassinar Kim Kong-nam, meio-irmão do líder norte-coreano, Kim Jong-un. É o que consta do relatório toxicológico esta sexta-feira divulgado pelas autoridades da Malásia. Da Coreia do Sul, que já instou Pyongyang a desvendar o papel nos acontecimentos da semana passada, sai um aviso para o arsenal de armamento químico acumulado a norte.
Nas imagens, o meio-irmão do líder da Coreia do Norte é abordado por duas mulheres que parecem aspergir algo para a sua cara. Pouco depois, Jong-nam pedia socorro a funcionários do aeroporto e era levado para uma clínica. Acabaria por sofrer convulsões, morrendo antes mesmo de poder ser assistido num hospital.
Foram detidos três suspeitos, duas mulheres com nacionalidades indonésia e vietnamita e um norte-coreano. As autoridades da Malásia, debaixo de uma severa barragem de críticas de Pyongyang, têm outras sete pessoas alinhadas para interrogatório.
Ao fim de dez dias de completo silêncio, os órgãos de comunicação do regime de matriz estalinista acusaram as autoridades malaias de terem em marcha uma investigação “imoral” e movida por desígnios políticos e ideológicos. A agência KCNA chegou mesmo ao ponto de responsabilizar Kuala Lumpur pelo homicídio.
Por outro lado – e até ao momento -, a Coreia do Norte jamais admitiu que o “cidadão norte-coreano” com “passaporte diplomático” assassinado na Malásia é o meio-irmão do líder.
Toneladas
Conhecido o relatório toxicológico da medicina forense malaia, o Governo de Seul apressou-se a desafiar o regime da metade norte da Península Coreana a tornar claro o grau de envolvimento na morte de Kim Jong-nam. E a denunciar o que considera ser “uma violação patente” do Direito Internacional.
“Seria melhor para a Coreia do Norte se admitisse o assassínio e colaborasse com a investigação”, declarou um porta-voz do Ministério sul-coreano da Unificação, em declarações citadas pela agência Yonhap.O regime norte-coreano nunca assinou a Convenção de Armas Químicas em vigor desde abril de 1997, que interdita a produção, o armazenamento e a utilização deste tipo de armamento. O tratado reúne mais de 160 países.
O mesmo porta-voz advertiu ainda o regime para a degradação crescente da sua imagem internacional, face à postura assumida desde o ataque ao meio-irmão do líder Kim Jong-un.
Nas páginas do Livro Branco sobre Defesa de 2014, o Ministério da Defesa da Coreia do Sul estimava que o regime possuísse, à data, entre 2500 a cinco mil toneladas de armas químicas, entre as quais o agente nervoso encontrado no corpo de Jong-nam. Armamento que começou a ser produzido na década de 80.
Serão oito, ao todo, as estruturas de produção de armas químicas da Coreia do Norte: as mais referidas situam-se no porto de Chongjin e na cidade de Sinuiju.
Ouvido pela France Presse, Lee Il-Woo, analista da Korea Defence Network, apontou a convicção generalizada, entre os peritos internacionais, de que “a Coreia do Norte tenha grandes reservas de VX, que pode ser facilmente produzido e a baixo custo”.
Por sua vez, o professor de ciência militar Kim Jong-ha, da Universidade de Hannam, em Daejeon, na Coreia do Sul, estima que Pyongyang disponha de 16 tipos de agentes nervosos, nomeadamente o VX e o gás sarin, este último utilizado no atentado que em 1995 causou 12 mortes no metro de Tóquio.
Outras armas químicas que se pensa comporem o arsenal norte-coreano são os agentes sanguíneos, vesicantes (causadores de vesículas ou bolhas na pele) e asfixiantes, além de 13 armas biológicas, incluindo antrax e peste bubónica.
A morte em 15 minutos
Criado há quase um século, o VX é um agente nervoso sem sabor e inodoro de elevada toxicidade. Uma pequena gota em contacto com a pele, os olhos ou o nariz é suficiente para provocar danos fatais ao sistema nervoso central.
Os Centros para Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla inglesa) dos Estados Unidos classificam o VX como “o mais potente” dos agentes nervosos: “É possível que qualquer contacto líquido visível do VX com a pele, se não for imediatamente lavado, seja letal”.
“Isto não é algo que se faça num laboratório de cozinha. Isto é produzido em laboratórios altamente sofisticados de armas químicas”, explicou o investigador da Rand Corporation Bruce Bennet, citado pela Reuters.
A exposição ao VX começa por causar tonturas e náuseas, mas evolui rapidamente para convulsões e falha respiratória, antes da morte. Segundo o Centro Químico e Biológico de Edgewood, do Exército norte-americano, quando absorvido em grandes doses o agente é fatal em 15 minutos.
c/ agências
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