O Presidente chinês está a usar um périplo pelo Sudeste Asiático para defender o comércio livre e posicionar Pequim como fonte de estabilidade, numa altura em que a região é o principal alvo das tarifas de Washington.
Xi Jinping foi recebido na segunda-feira em Hanói com pompa e circunstância pelo Presidente do Vietname, Luong Cuong, e no dia seguinte partiu para Kuala Lumpur, capital da Malásia, parte de um périplo de três dias que termina no Camboja.
Em Hanói, Xi disse ao secretário-geral do Partido Comunista do Vietname, To Lam, que os dois países "trazem valiosa estabilidade e certeza" a um "mundo turbulento".
"Como beneficiários da globalização económica, tanto a China como o Vietname devem reforçar a determinação estratégica, opor-se conjuntamente a atos unilaterais de intimidação, defender o sistema global de comércio livre e manter estáveis as cadeias industriais e de abastecimento globais", afirmou Xi Jinping, segundo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China.
China e Vietname assinaram uma série de memorandos sobre cooperação nas cadeias de abastecimento e um projeto ferroviário conjunto. Xi prometeu maior acesso às exportações agrícolas vietnamitas para a China.
O Vietname é visto como principal beneficiário do `comércio triangular` utilizado pelos exportadores chineses para contornarem as taxas impostas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre centenas de milhares de milhões de dólares de importações oriundas da China, durante o seu primeiro mandato (2017--2021).
Este sistema permitiu que produtos fossem exportados quase concluídos da China para o país vizinho, para ser acrescentado um componente ou acabamento, visando alterar o local de fabrico.
Os EUA absorvem agora quase 30% das exportações vietnamitas, com o excedente de Hanói no comércio bilateral a fixar-se em 104 mil milhões de dólares (101 mil milhões de euros), quase três vezes o valor de 38 mil milhões de dólares (37 mil milhões de euros) de 2017, quando Trump tomou posse.
Vietname e Camboja são assim os países mais punidos com os aumentos das taxas - 46% e 49%, respetivamente -, a seguir à China. No entanto, Trump incluiu ambos numa trégua de 90 dias, enquanto aumentou para 145% as tarifas sobre produtos oriundos da China.
Reagindo à visita de Xi a Hanói, o republicano disse que a China e o Vietname estavam a tentar "descobrir como lixar os Estados Unidos da América".
Na Malásia, Xi deve discutir um acordo de comércio livre entre a China e os 10 membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), uma vez que a Malásia preside à associação este ano. O dirigente chinês deve reunir-se hoje com o rei sultão Ibrahim e o primeiro-ministro Anwar Ibrahim.
Citado pela imprensa chinesa, o secretário-geral da ASEAN, Kao Kim Hourn, afirmou que o acordo vai eliminar muitas das taxas alfandegárias entre a China e os membros do bloco.
"Vamos reduzir as tarifas para zero em muitos casos e depois expandi-las para todas as áreas", afirmou, numa entrevista à televisão estatal da China CGTN.
A Malásia é sede de vários projetos da Iniciativa Faixa e Rota, incluindo um projeto ferroviário chinês no valor de 11,2 mil milhões de dólares (9,9 mil milhões de euros). A China é também o maior parceiro comercial e uma das principais fontes de investimento direto estrangeiro da Malásia.
"Do ponto de vista chinês, trata-se sobretudo de garantir que a influência da China na região se mantém forte e vibrante, sendo o Sudeste Asiático o principal parceiro comercial da China", afirmou Oh Ei Sun, investigador do Instituto de Assuntos Internacionais de Singapura, citado pela Associated Press.
"A China pode oferecer muito ao Vietname e a outros países da ASEAN durante este período volátil", disse Nguyen Thanh Trung, professor de estudos vietnamitas na Universidade Fulbright do Vietname. "Penso que a China pode ser um líder", frisou.