Yulia Navalnaya acusa Vladimir Putin de ser líder de um "gangue criminoso"

por Andreia Martins - RTP
Foto: Johanna Geron - Reuters

A viúva de Alexei Navalny discursou esta quarta-feira perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, menos de duas semanas após a morte de Alexei Navalny numa prisão do Ártico, na Rússia.

Perante os eurodeputados, Yulia Navalnaya defendeu que Vladimir Putin só pode ser derrotado com “ideias inovadoras”, desde logo no combate ao crime organizado. Na sua visão, o Presidente russo lidera um “gangue criminoso” e só poderá ser atingido caso se investigue “aqueles que o ajudam a esconder o seu dinheiro”.
A mulher de Alexei Navalny acusou o Presidente russo de ter como amigos e associados "líderes da máfia" e que a batalha contra Putin deve ser travada através do combate ao crime organizado.

“Não será com sanções que conseguimos impedir Putin de avançar. Não conseguimos derrotá-lo pensando que é um homem de princípios. (…) Não é o caso, e o Alexei já o tinha percebido há muito tempo. Não estamos a lidar com um político, mas sim com um monstro. Putin é um líder de um gangue criminoso”, acusou.

Lembrando o legado de Alexei Navalny, que conseguiu chegar a milhões de pessoas mesmo com várias obstruções ao longo da sua vida como ativista, quando sem sequer podia constar no boletim de voto. “Mesmo com o bloqueio de Putin, Alexei conseguiu fazer passar projetos e criar o pânico no Kremlin”, assinalou.

“É esta a resposta à questão. Se queremos derrotar Vladimir Putin temos de inovar. Temos de parar de ser aborrecidos”, concluiu Yulia Navalnaya.

Yulia Navalnaya lembrou também a invasão da Ucrânia pela Rússia, que decorre desde há dois anos. "Já se recorreu a tudo: dinheiro, sanções, armas, nada está a funcionar. E o pior aconteceu: toda a gente se habituou à guerra", afirmou.

"Putin deverá responder por aquilo que fez ao nosso país, por aquilo que fez a um país vizinho, a um país pacífico. Deverá responder por tudo o que fez a Alexei Navalny", vincou ainda.
Funeral previsto para sexta-feira
A viúva de Navalny discursou no mesmo dia em que a equipa do opositor russo anunciou que o seu funeral deverá decorrer em Moscovo na próxima sexta-feira.
 
Yulia Navalnaya voltou a acusar Vladimir Putin de ter assassinado o marido. "Sob as suas ordens, foi torturado durante três anos. Passou fome numa pequena cela de cimento. Não podia receber visitas, nem telefonemas, nem sequer cartas", asssinalou.

"Este assassinato público mostrou que Putin é capaz de tudo e que não podemos negociar com ele", vincou.

O opositor russo morreu a 16 de fevereiro numa colónia penal no Ártico onde cumpria uma sentença de 19 anos de prisão. O corpo de Navalny foi finalmente entregue à mãe no último sábado, 24 de fevereiro, mais de uma semana após a sua morte, e depois de vários apelos por parte da família e advogados.

Ao longo desses dias em que o corpo esteve retido pelas autoridades russas, Lyudmila Navalnaya, mãe de Navalny, disse ter sido alvo de chantagem por parte das autoridades russas, que terão exigido um enterro sem cerimónias públicas para o opositor russo.

Agora, a mulher de Navalny teme que o funeral de sexta-feira possa tornar-se violento. "Não estou certa ainda se será pacífico ou se a polícia irá deter aqueles que se vão despedir do meu marido", adiantou.
"Esperança numa Rússia livre"

No final da sua intervenção, Yulia Navalnaya disse acreditar num futuro de esperança para o seu país. "O meu marido nunca verá como vai ser bela a Rússia do futuro, mas nós sim. Darei o meu melhor para tornar o seu sonho em realidade", prometeu.

Ainda antes da intervenção de Yulia Navalnaya, a presidente do Parlamento Europeu dirigiu-se ao hemiciclo, assinalando que Alexei Navalny representava "esperança em dias melhores e numa Rússia livre" para muitos, no país e no exterior.

"Se a história nos ensina alguma coisa, é que os pilares da autocracia, no final, sempre desmoronam sob o peso da sua própria corrupção e do desejo inerente das pessoas em viver livremente. Quando inevitavelmente o fizerem, será graças ao que Alexei e sua família", afirmou Roberta Metsola.

Em 2021, após o envenenamento de que foi alvo e já depois de ter sido detido na Rússia após o seu regresso, Alexei Navalny recebeu o Prémio Sakharov, atribuído pelo Parlamento Europeu.
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