A mãe pediu-lhe para não emigrar. Só aguentou até acabar a tropa. Depois voou. Para a América.
O jeito para desenrascar era evidente. Ilegal durante nove anos, ajudou a legalizar muitos portugueses que chegavam a Newark.
A arte para o negócio corria-lhe no sangue. Uma padaria de rua. Outra maior. Uma pequena fábrica. Um complexo industrial. O exclusivo do pão nas viagens em primeira classe na Delta Airlines. E até os comboios dos EUA servem, há muitos anos, pão da Vieira's Bakery. A maior de Nova Jérsia. Produz quarenta mil pães por hora e chega a quarenta dos cinquenta Estados Unidos.
A filha telefonou. O Vieira tem 70 anos mas acha q a reforma é o prenúncio da morte. E, por isso, continua a trabalhar. Há coisas que não delega em ninguém. Tem de comprar uma máquina nova. "Talvez três milhões e meio ou quatro, daquelas em que se mete o porco e sai chouriço, entra a massa e o pão já sai congelado"
Uma casa no Algarve. Outra em Aveiro onde nasceu. Uma fé inabalável no Sporting e pouco respeito por Obama. Republicano de antes quebrar que torcer vai a Portugal de três em três meses mas já não é capaz de deixar o centro do mundo.
É capaz de ter razão porque até na baixa de Manhattan, ao lado do Ground Zero, se vende o pão que o Vieira amassou...
opinião
Hugo Gilberto
O sonho americano de um português
Carlos Vieira chegou à América em 69. Trazia no bolso 27 dólares. E no BI 27 anos. Na mala cabiam duas calças e algumas camisas. E muito espaço para o sonho.